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negociacao_minimo_04022011.jpgA insistência do governo federal em manter para 2011 a política de reajuste do salário mínimo que leva em conta a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores inviabiliza um acordo com as centrais sindicais. Após três horas de reunião com os ministros Guido Mantega (Fazenda), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Carlos Lupi (Trabalho), ontem em São Paulo, sindicalistas reagiram com indignação, fizeram comparações entre Dilma e o ex-presidente Lula e prometem fazer mobilizações nacionais contra o valor do mínimo.

 A tendência é que o Executivo envie ao Congresso medida provisória fixando o mínimo em R$ 545 e aguarde o desdobramento das negociações com parlamentares. A oposição já anunciou que votará por um valor maior. Nos bastidores do Planalto, já se admite um mínimo de R$ 550 e alguma correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A correção, porém, só deverá ser levada à mesa quando o mínimo estiver prestes a ser votado no Congresso.

‘Estamos incomodados com o início do governo Dilma. É uma tentativa do mercado de mandar em tudo e não vamos concordar com isso’, disse o presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho. ‘Essa reunião foi frustrante’, resumiu. O sindicalista afirmou que Lula inaugurou uma política de valorização dos mais pobres e ‘sempre interveio em favor dos trabalhadores’.

O presidente da União-Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, endossou o discurso de Paulinho. ‘Estamos um pouco surpresos. Ela (Dilma) não nos atendeu ainda e engessou as negociações. Isso está dificultando muito’, reclamou.

Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva, destacou que os sindicalistas não vão abrir mão do aumento real do salário mínimo e da correção da tabela do IR. ‘Queremos a continuidade do que foi feito no governo Lula’, afirmou.

Para dificultar ainda mais a negociação, as centrais resolveram atrelar a discussão do mínimo a outros dois itens: ‘Só vamos aceitar um acordo com o governo com três condições: aumento do salário mínimo, do valor das aposentadorias e também a correção da tabela do imposto de renda’, afirmou Paulinho.

Defesa. Os ministros Mantega e Carvalho negaram que a proposta do governo Dilma Rousseff seja distinta da adotada por Lula. Segundo eles, está sendo aplicado o mesmo acordo feito pelo ex-presidente com as centrais em 2007, que definiu o reajuste salarial a partir da inflação e do resultado do PIB.

‘Não é verdade que haja uma ruptura’, disse Carvalho. As centrais têm dificuldade em manter o acordo pelo fato de o PIB de 2009, com a crise internacional, ter sido 0,6% negativo.’ O governo havia cogitado antecipar parte do reajuste que seria aplicado em 2012, mas a ideia foi abandonada. ‘Eles querem uma exceção para 2011. Aí fica uma negociação aleatória’, explicou Guido Mantega.

O ministro da Fazenda ressaltou que é importante para o governo manter a regra em vigor. ‘Gostaríamos de dar um aumento maior, mas isso fere o acordo.’ Mantega também lembrou que o governo enfrenta um ano de dificuldades orçamentárias e de contenção de gastos.

‘Com esse acordo, os ganhos do salário mínimo para 2012 já estão assegurados e serão expressivos’, afirmou o ministro. Para o próximo ano, o mínimo deve subir 12,5%, levando-se em consideração estimativas do Ministério da Fazenda. A pasta prevê crescimento do PIB de 7,5% em 2010 e inflação oficial de 5% em 2011. Com base nesses cálculos o mínimo subiria para R$ 613,00 em 2012.

‘Não há razão para mudar o acordo’, insistiu Gilberto Carvalho. Segundo ele, ‘não havendo acordo’ o governo enviará ao Congresso a proposta de reajuste considerando a regra aplicada a partir de 2007. ‘Seguiremos tentando convencer as centrais e não cansaremos do diálogo’, ressaltou Carvalho.

Calado. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que participou do encontro com os sindicalistas e é do mesmo partido de Paulinho, não estava presente na entrevista coletiva concedida ao final da reunião. Segundo Carvalho, Lupi tinha outro compromisso, mas concorda com a proposta do governo. ‘Quando está no governo, você não defende uma posição pessoal e sim uma posição do conjunto.’

Fonte: Agência Estado / Ricardo Leopoldo e Daiene Cardoso