Está mais do que evidente que os setores neoliberais da direção do Banco do Brasil, que mandavam na empresa na era FHC e ainda detêm um grande poder na atual gestão, estão resistindo à orientação do governo para que o BB reduza os juros e o spread, induzindo assim pela concorrência todo o sistema financeiro nacional a baixar o custo do crédito e ajudar a economia a voltar a crescer neste momento de crise internacional.

Na reunião do dia 21 janeiro, o presidente Lula deu um puxão de orelhas nos presidentes dos cinco bancos públicos federais (BB, Caixa, BNDES, Basa e BNB), exigindo que "sejam mais rápidos" na liberação de crédito e aumentem a oferta ao setor produtivo. "O spread subiu a patamares inimagináveis e inadmissíveis para um país que precisa de crédito para crescer", disse na saída do encontro o ministro da Fazenda Guido Mantega, acrescentando que "com a alta rentabilidade" alcançada nos anos anteriores os bancos públicos têm gordura para reduzir o spread, "mantendo uma margem de lucro".

Brasil tem o maior spread do planeta

E numa crítica velada ao BB, o ministro afirmou: "teve banco público" que elevou os juros em 2008. Segundo o jornal O Estado de São Paulo publicou no dia da reunião, em algumas modalidades de crédito para empresas e pessoas físicas o BB chega a cobrar taxas mais altas que os bancos privados. Citou especificamente o financiamento de capital de giro prefixado, que o BB cobra 2,47% ao mês em média, juro maior que os do Itaú, Unibanco e Safra. E no cheque especial, o BB cobra 8,14%, percentual superior aos do Bradesco e do Safra.

Em um ano, o spread dos bancos nas operações de crédito para pessoas físicas passou de 31,9% para 45,1% ao ano, a maior taxa desde setembro de 2004. Levantamento feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) para a Folha de São Paulo, publicado na edição do dia 1º de fevereiro, mostra que o spread bancário no Brasil é disparado o mais alto do mundo: 34,88% – contra 7,85% na Argentina, 7,10% na Índia, 6,69% na Espanha, 3,36% na China, 3,13% nos Estados Unidos, 2,09% na Alemanha e 1,42% no Japão.

"Isso é um absurdo. Não tem nenhum fundamento", disse o ministro Mantega.

Para que serve, então, esse banco?

Mas os neoliberais encrustados na direção do BB relutam em seguir a diretriz do governo. E contam para isso com o apoio de seus correligionários ideológicos espalhados na grande imprensa. (Aliás, a mídia e seus analistas econômicos no Brasil recusam-se a admitir que a crise econômica é resultado da desregulamentação financeira desenfreada e da irresponsabilidade dos financistas ultraliberais, e continuam pontificando as suas receitas que levaram ao desastre).

"Pressão (do governo) desagrada áreas técnicas", publicou no dia 4 de fevereiro o jornal Valor Econômico. "Áreas técnicas" é o eufemismo que a mídia emprega para se referir aos neoliberais do BB, conferindo-lhes assim um sentido de sabedoria, de superioridade científica.

As "áreas técnicas" do BB, segundo o Valor, são contrárias à redução dos juros porque "causariam estragos nos resultados recorrentes do banco".

"Em que mundo esses executivos pensam que estão vivendo?", indaga Carlos Eduardo, representante da Fetec Nordeste na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB. "A economia dos países desenvolvidos está derretendo, deixando milhões de desempregados. Na Europa e nos Estados Unidos estão discutindo seriamente a possibilidade de estatizarem o crédito; para evitar que a crise chegue aqui com a mesma intensidade o governo brasileiro está tomando uma série de medidas e disponibilizando mais de R$ 100 bilhões do BNDES para financiar diretamente as empresas, e a direção do BB não quer fazer parte desse esforço e exercer sua função de banco público porque não pode ter lucro líquido inferior a R$ 6 bilhões por ano? Para que serve então esse banco?"

A matéria acima, produzida pela Contraf-CUT, foi publicada na Revista O Espelho Nacional, edição de março desde ano.

Fonte: Contraf/CUT