Quem ainda insiste em afirmar que o acontecido nem foi tão grave assim, já está defendendo o que ocorreu, e sem dúvida seria capaz de assistir ou colaborar se tudo acontecesse de novo. (Theodor Adorno)

Há exatos 45 anos, os militares destituíram pela força o governo legitimamente eleito de João Goulart, com o apoio político e logístico dos Estados Unidos e da quase totalidade das elites econômicas e dos meios de comunicação brasileiros.

O regime autoritário, que duraria 21 anos, fulminou todas as liberdades democráticas, perseguiu, torturou e assassinou centenas de opositores políticos. Continuam ainda desaparecidos, depois de mortos pelos militares, 129 brasileiros que combateram a ditadura (veja a lista dos mortos e desaparecidos aqui).

Até hoje o Brasil se ressente dos efeitos nocivos do regime militar, ao interromper um ciclo democrático iniciado em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial e a deposição da ditadura de Getúlio Vargas . O país até viveu um período de crescimento econômico, mas com uma brutal concentração de renda. Veja aqui um resumo simplificado dos governos militares.

Os trabalhadores foram as principais vítimas da ditadura militar: arrocho salarial, intervenção nos sindicatos, perseguição, prisão e morte de dirigentes sindicais – além de impedir pela força bruta e pelas leis arbitrárias que impôs a organização e luta da classe trabalhadora.

Assim como as outras categorias de trabalhadores, os bancários foram duramente golpeados pelo regime militar. Logo após o golpe, em 1º de abril de 1964, todos os sindicatos e federações de bancários do país sofreram intervenção e seus dirigentes afastados, muitos dos quais presos e demitidos dos bancos.

Setores conservadores da sociedade brasileira, muitos dos quais apoiaram o golpe militar, ensaiam hoje um movimento de revisão histórica, procurando amenizar a violência brutal do regime ditatorial de 64. A epígrafe acima do filósofo alemão Theodor Adorno referia-se às monstruosidades praticadas pelo regime nazista de Hitler. Mas continua atualíssima.

Para lembrar o 45º aniversário do golpe militar, a Contraf/CUT homenageia na figura exemplar de Aluízio Palhano (veja vídeos abaixo) a todos os que lutaram contra a ditadura, pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores.

Funcionário do Banco do Brasil, Aluízio Palhano foi duas vezes presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro entre 1959 e 1962, vice-presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), criado em 62, e eleito presidente em 1963 da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (Contec). Fundada em 1957 para unificar as lutas dos bancários em todo o país, a Contec foi a primeira confederação nacional de trabalhadores formada pelas bases sindicais, quando as confederações das outras categorias foram criadas pela legislação varguista de cima para baixo. Com a intervenção dos militares em 64, quando era presidida por Palhano, a Contec nunca mais voltou a ser uma entidade democrática e até hoje é dirigida por remanescentes nomeados pela ditadura. Como a Contec permaneceu uma entidade pelega mesmo após o fim do regime militar, obrigou os bancários a construírem outras organizações regionais e nacionais para a unificar a luta da categoria, resultando na criação da Contraf/CUT em 2006.

Destituído da direção sindical pelo golpe militar, perseguido e demitido do Banco do Brasil, Palhano exilou-se no México e depois em Cuba. Retornou clandestinamente ao Brasil em 1970, mas foi preso no dia 9 de maio de 1971. Após sofrer violentas sessões de tortura durante 11 dias, foi assassinado na madrugada de 21 de maio nas celas do temível Doi-Codi da rua Tutóia, em São Paulo.

Colegas de prisão ouviram seus gritos. Mas seu corpo nunca apareceu. O nome de Aluízio Palhano foi encontrado, em 1991, no arquivo do Dops/PR, em uma gaveta com a identificação "falecidos". Palhano é uma das 129 vítimas da ditadura militar que está na lista dos desaparecidos.

Fonte: Contraf/CUT

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