Pesquisa com empresas no Brasil mostra que tendência de gestão do trabalho que já é realidade na Europa é positiva para empresários e empregados
Nada de superexploração, pressão por metas desumanas e sobrecarga de trabalho, modelos de gestão ultrapassados que adoecem um número cada vez maior de trabalhadores e resulta em muitas licenças médicas e baixa produtividade.
O que faz os empregados produzirem mais e melhor são condições mais dignas de trabalho e mais tempo para o tralhador descansar, estar com a família, estudar ou se ocupar com atividades de lazer. Isto é o que mostra uma pesquisa feita no Brasil com empresas que toparam experimentar a redução da carga horária de cinco para quatro dias semanais.
O novo modelo de gestão já tem dado certo em vários países da Europa.
Por aqui, os empresários participantes de um estudo garantem que a produtividade aumentou e os funcionários se sentem mais engajados e comprometidos com os objetivos da empresa com a implementação do novo modelo. Os patrões garantem que os empregados trabalham mais felizes e dispostos e com mais disposição de permanecerem nos seus cargos e empregos, graças a redução da carga horária de cinco para quatro dias na semana.
O aumento na produtividade foi verificado por empresas que toparam fazer a experiência deste modelo de gestão que já é realidade em vários países da Europa.
Padrões que incluem, além da redução de horas trabalhadas e maior bem-estar para os funcionários, o trabalho remoto, aumentando o contato do funcionário com o ambiente familiar, também tiveram resultados extremamente positivos.
Segundo matéria de O Globo publicada nesta quinta-feira (11), vinte e duas empresas brasileiras estão participando do experimento para avaliar os impactos da semana de trabalho de quatro dias. A iniciativa é da organização sem fins lucrativos ‘4 Day Week’, que conduz testes sobre o assunto ao redor do mundo, e da brasileira ‘Reconnect Happiness at Work’.
Entre as empresas que já implementaram o modelo, os resultados apontam aumento na produtividade e funcionárias muito mais felizes. O levantamento mostra ainda que os empregados se mostraram mais propensos a permanecer nos seus cargos e na firma onde trabalham.
“Muitos empresários reclamam de que os empregados não ficam muito tempo no emprego e ainda culpam o trabalhador, dizendo que ‘brasileiro não gosta de trabalhar ‘. Esta é uma visão preconceituosa de nossas elites que possuem uma cultura escravocrata. Ninguém suporta ser super explorado. Temos que trabalhar para viver e não trabalhar até morrer”, opinou a vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Kátia Branco.
“A categoria bancária é submetida hoje a um mau exemplo de modelo de gestão do trabalho. Apesar de muitos direitos conquistados pelos sindicatos, não para de crescer o número de bancários adoecidos em função das metas desumanas e sobrecarga de trabalho. E os bancos, na direção contrária do que aponta esta pesquisa, querem que os funcionários trabalhem também aos sábados e até feriados”, criticou Kátia.
Bem-estar do funcionário
Trabalho 100% remoto e em apenas quatro dias na semana? Este modelo mais humano de gestão é possível nas empresas e algumas das nações mais avançadas do mundo comprovam ser possível esta nova realidade no mundo do trabalho, que eleva a saúde, o bem-estar social e a produtividade das empresas que adotaram a semana de quatro dias para seus funcionários e a possibilidade de se trabalhar em casa..
As empresas se inscreveram para o experimento em agosto de 2023. Entre setembro e outubro, passaram por uma fase de treinamento. Duas companhias já começaram a implementar o modelo em dezembro. Bia parte das empresas iniciou a semana de quatro dias em janeiro de 2024.
As companhias cadastradas no projeto piloto se dividem entre microempresas, com cinco funcionários, e médias empresas, com cerca de 250 empregados. Mas há também grandes empresas, como a Soma, do Grupo Dreamers, e uma rede de hotéis, que preferiu não revelar sua participação no projeto.
São ao todo 22 empresas, em cinco estados, com um total de 280 funcionários inscritos nos testes. Os resultados são tão surpreendentes que mais de 70% das empresas pretendem implementar o modelo com a inclusão de todos os setores e quadro funcional.
Seis companhias, num primeiro momento, fazem o experimento em algum departamento para, em seguida, ampliar gradativamente a proposta.
Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness At Work, em entrevista ao Globo disse que as empresas estão tendo ótimos resultados:
“Os funcionários estão mais motivados, trabalhando melhor. As empresas notaram mais engajamento e mais comprometimento com os projetos, além de maior senso de responsabilidade”, avalia.
Mais saúde e lazer
O estudo mostra ainda que a semana de quatro dias reduz a “síndrome de burnout” em 71% e a queda na produtividade.
A doença, que é causada pelo esgotamento profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade e responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.
Segundo Renata, os funcionários também se mostraram mais propensos a permanecer nas empresas. Para ela, os resultados indicam que a produtividade não aumenta de acordo com a quantidade de horas trabalhadas, mas de acordo com o bom gerenciamento das equipes.
Embora quase todas as empresas tenham escolhido conceder folgas na sexta, uma parte delas na verdade adotou um modelo de escalas, para manter o funcionamento durante toda a semana. No entanto, a maioria optou por conceder a folga na sexta-feira, porque esse já é um dia mais lento, em que as pessoas sentem um ritmo menor e a procura dos clientes também é menor. Para alguns empresários e gestores, cortar a sexta impactaria negativamente nos resultados. O dia já está no imaginário social relacionado a uma rotina mais leve, em que as pessoas estendem o dia batendo papo e tomando uma cerveja ou refrigerante com os amigos do trabalho, a ponto de ter sido criada a expressão popular “sextou”.
Porque reduzir a jornada
As empresas destacaram alguns dos principais motivos para estarem no experimento. Em primeiro lugar, dizem ter problemas para atrair e reter funcionários e acreditam que a jornada de trabalho reduzida pode ser um diferencial para atrair novos trabalhadores que valorizam mais a qualidade de vida, uma tendência maior entre os mais jovens.
Em países desenvolvidos, além da redução da carga horária de trabalho, há outros aspectos que aumentam a qualidade de vida e bem-estar do trabalhador. No Canadá os pets vão ao trabalho com seus donos, trazendo o prazer da companhia do “melhor amigo” e a descontração no ambiente de trabalho.
“Todas as iniciativas que melhorem a autoestima e a qualidade de vida e de saúde do trabalhador são bem-vindas e estes modelos de redução de jornada e que permitem o trabalho em casa, em que o empregado fica mais tempo no ambiente familiar, só fazem elevar a produtividade e garantem uma vida mais saudável para as pessoas”, afirma o diretor executivo da Secretaria de Saúde do Sindicato dos Bancários do Rio, Edelson Figueiredo
Fonte: Seeb-Rio/Carlos Vasconcellos