Cuidar do destino de cerca de R$ 300 bilhões em recursos de terceiros em um momento em que o setor de gestão atravessa mudanças importantes por conta da queda dos juros e dos reflexos da crise mundial é o desafio do novo presidente da BB DTVM, João Ayres Rabello Filho, que assumiu o comando da maior empresa de gestão do Brasil no início deste mês.
Nos planos do executivo está a criação de famílias de fundos nos segmentos nos quais a gestora não atua com tanta ênfase, como de recebíveis (FIDC), fundos imobiliários e de papéis de empresas. Rabello quer também aumentar a internacionalização da asset e estuda parcerias para lançar fundos no Japão, Europa e América Latina.
Em sua primeira passagem por uma instituição pública, Rabello traz para a BB DTVM 30 anos de experiência no mercado financeiro, especialmente no comando de tesourarias de instituições importantes como Banco Francês e Brasileiro (BFB), Citibank e Excel Econômico. Atuou também em bancos menores, como o Zogbi e o Banco Fibra, este último do Grupo Vicunha, onde foi presidente por oito anos. Ele saiu para montar o Concórdia Banco, do Grupo Sadia, mas os planos foram atrapalhados pela crise da empresa.
Rabello acha que o momento é bom para assumir o comando da BB DTVM. "Com os juros mais baixos, vamos ter uma busca por ativos de renda variável", diz ele. Essa busca só não começou por causa da crise, que afugentou o investidor da bolsa, afirma. A diversificação vai valorizar o papel dos gestores, que precisam agora encontrar ativos mais rentáveis, como papéis privados, e não apenas comprar títulos públicos. "Foi o que fizemos com os fundos de DPGE (depósitos privados com garantia especial), que atraíram R$ 800 milhões em poucos dias pela rentabilidade", diz.
Rabello não perde o espírito de tesoureiro e observa que há oportunidades para os fundos de renda fixa mesmo com os juros caindo. "Os juros de longo prazo, por exemplo, já mostram um prêmio maior que os de curto, e o investidor vai ter de tirar proveito disso", diz.
Para ele, o setor de fundos vai ter de discutir cada vez mais a questão do alongamento dos prazos como forma de remunerar melhor os investidores. "A liquidez diária é uma herança dos tempos de hiperinflação, mas isso hoje tem de mudar", afirma. Numa economia estável, lembra ele, além do risco e do retorno, entrará na equação a liquidez.
Para Rabello, o desafio da BB DTVM é se manter na liderança não só no volume de recursos como na qualidade dos serviços. Isso significará, no mercado local, buscar cada vez mais opções para o investidor aplicar diretamente, como os fundos de recebíveis. Outra ideia é ampliar a família de fundos imobiliários para buscar aqueles que querem um rendimento de aluguéis com maior segurança.
Rabello quer também montar fundos de crédito com papéis de empresas onde o investidor possa aplicar diretamente. Hoje, a gestora tem fundos desse tipo apenas para seus fundos de renda fixa. "Em tudo isso, porém, a questão do alongamento do prazo será fundamental", afirma.
Mais um desafio para a BB DTVM é inserir-se na globalização da gestão. "Com juros menores aqui, aumenta a possibilidade de os fundos brasileiros aplicarem lá fora e, ao mesmo tempo, de oferecermos carteiras brasileiras em outros países", diz Rabello. Ele pretende levar essa proposta ao Conselho da BB DTVM no mês que vem. E diz que vai olhar "com muito carinho" se essa ida ao exterior será feita por conta própria ou em parceria com outras empresas internacionais. "Podemos pensar em fundos no Japão ou na Europa com algum parceiro local de varejo", diz. Além disso, a parceria poderia trazer opções de fundos lá de fora para brasileiros.
Rabello já faz as contas: um fundo que compre papéis em reais no Brasil com prazo de seis anos poderia garantir um rendimento de 12,45%, o que permitiria a um investidor estrangeiro dobrar o capital aplicado no período. "Uma taxa dessas aguenta muito desaforo, até mesmo de desvalorização cambial", diz. A isso se soma a perspectiva de que o dólar perca valor nos próximos anos e de que cresça a importância do Brasil no mercado internacional. Outra opção seria montar fundos no exterior com papéis de empresas brasileiras para os investidores daqui aplicarem.
Para ele, a questão da competitividade da poupança em relação aos fundos com o juro menor vai obrigar o setor a buscar melhorar a rentabilidade. "Mas isso também vai passar por mudanças nos prazos", diz Rabello.
Fonte: Valor Econômico / Angelo Pavini, de São Paulo