O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirma, em ata divulgada ontem, que os cortes nos juros básicos serão "residuais" daqui em diante. O documento, que explica porque o colegiado reduziu a taxa Selic de 10,25% para 9,25% ao ano em sua reunião da semana passada, reforçou as apostas entre os analistas econômicos de que o ciclo de flexibilização monetária está perto do fim.

"A despeito de haver margem residual para um processo de flexibilização, a política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas", afirma o Copom.

Mesmo antes da divulgação da ata, o mercado financeiro já esperava um ritmo mais lento de distensão monetária. A projeção dominante era uma redução de 0,25 ponto percentual, para 9% ao ano na reunião do Copom de julho. Os mais otimistas acreditam que a Selic vai baixar 0,5 ponto percentual, para 8,75%.

As projeções de inflação feitas pelos modelos econômicos do Copom, informa a ata, continuam consistentes com o cumprimento das metas. Uma outra questão central, afirma a ata, são os riscos de a inflação superar o cenário previsto nos modelos, depois de um corte acumulado de 4,5 pontos percentuais na Selic desde janeiro, de 13,75% para 9,25% ao ano.

Na ata, o BC não abre exatamente o valor das suas projeções de inflação. O dado só estará disponível no relatório de inflação a ser divulgado no fim do mês. Mas, ontem, o BC deu uma ideia do que aconteceu com suas projeções desde a reunião anterior do Copom, de abril.

No chamado cenário de referência, que leva em conta uma taxa de câmbio estável em R$ 1,95 e uma Selic de 10,25% ao ano, a inflação projetada elevou-se, mas continua abaixo da meta anual, de 4,5%. Tomando como base as mesmas premissas, a inflação projetada para 2010 também subiu, "mas ainda se encontra sensivelmente abaixo do valor de 4,50%" definido como meta para o próximo ano.

O que os números mostram é que havia espaço para os juros básicos caírem na reunião da semana passada, sem comprometer o cumprimento da meta de inflação.

Há também uma segunda projeção de inflação, que toma como base as trajetórias de câmbio e juros previstas pelo mercado financeiro às vésperas da reunião do Copom. O consenso, à época, era que os juros encerrariam 2009 em 9% e 2010 em 9,15%, e a taxa de câmbio ficaria respectivamente em R$ 2,00 e R$ 2,10. Considerando esses parâmetros, a inflação projetada para 2009 se elevou desde abril, mas se encontra abaixo do valor central para a meta de inflação. Já a projeção de inflação para 2010 mostrou estabilidade e permanece ao redor da meta. Ou seja: o espaço para a flexibilização monetária, mostram os modelos, é pequeno, já que juros na casa dos 9% deixam a inflação perto da meta.

O BC enfatiza, na ata, que há riscos de a inflação não sair exatamente como o previsto. No curto prazo, eles derivam "da atuação dos mecanismos de reajuste que contribuem para prolongar no tempo as pressões inflacionárias observadas no passado, como evidencia o comportamento dos preços dos serviços e de itens monitorados". Outro fator que, no curto prazo, pode pressionar a inflação é a "tendência recente de elevação dos preços das ‘commodities’".

Há, também, os riscos de médio prazo, afirma o Copom. "O risco para a trajetória inflacionária advem dos efeitos, cumulativos e defasados, da distensão das condições financeiras sobre a evolução da demanda doméstica em contexto de gradual retomada da utilização dos fatores de produção", afirma a ata. Em outras palavras, os cortes de juros e medidas para restabelecer o crédito bancário levam algum tempo para chegar à demanda agregada e não se sabe, ao certo, qual será o efeito total e se a capacidade de oferta da economia será suficiente para atendê-la.

Na semana passada, os membros do Copom ficaram divididos: seis diretores votaram em favor de um corte de 1 ponto percentual na Selic e dois membros defenderam um corte de 0,75 ponto percentual. Esses dois membros do Copom argumentaram que, depois de cortar os juros 4,5 pontos percentuais desde janeiro, seria melhor ir mais devagar. A maioria argumentou que, mesmo após esses cortes, as projeções de inflação seguem compatíveis com o cumprimento das metas. A ata diz que "houve convergência entre os membros do comitê quanto às estimativas, tendo em vista as informações até aqui disponíveis, do espaço existente para distensão residual, que depende do cenário prospectivo para a inflação frente à trajetória das metas e do balanço dos riscos associado a este cenário".

Fonte: Valor Econômico/Alex Ribeiro, de Brasília