Mas entra crise e sai crise (esta agora é a segunda em menos de 5 anos) e já não é possível aos simpatizantes dos juros altos, que é o preço do produto vendido pelos bancos, falar abertamente contra aquilo que antes tomavam por um acinte ao capitalismo moderno: a intervenção do governo na economia com a finalidade de proteger a indústria e fomentar empregos.
Tampouco parece fácil encontrar, em relação ao Brasil, faladores internacionais que se disponham a corroborar as teses esgarçadas – e, diga-se, pouco patrióticas – dos financeiristas nativos acerca do colapso final da economia brasileira.
Ao contrário, surge aqui e acolá figuras de projeção internacional nos meios acadêmicos e empresariais que consideram estar o Brasil hoje muito melhor posicionado para enfrentar a prolongada turbulência internacional, não apenas em relação aos maiorais da América do Norte e da Europa como também em relação aos seus pares de igual estágio de desenvolvimento, a exemplo da China, Índia e Rússia.Dan Rodrik, economista renomado da americana Harvard University, em artigo recente para o Project Sindycate – entidade de pensadores que reflete sobre a ordem internacional emergente – é um desses nomes que dá corpo a uma nova visão interpretativa sobre o lugar dos países em desenvolvimento no mundo e que veem o Brasil como em vias de deslocar-se dos chamados BRICS para alçar uma posição de vantagem sobre os países a que se refere o acrônimo e ainda sobre outro que não o integra embora o devesse, a Turquia.
Rodrik acredia que 3 atributos serão de fundamental importância no próximo período para que os países saiam mais facilmente da crise, que por todos os lados só se vê aprofundar. O primeiro é a existência de grande mercado interno que lhes permita depender cada vez menos das exportações como eixo dinâmico de suas economias.
O segundo é um baixo nível de endividamento interno, que dê aos governos espaços para a ampliação dos investimentos de forma não inflacionária e com níveis satisfatórios das taxas de juros incidentes sobre os papéis representativos da dívida pública.
O terceiro desses atributos, necessário ao bom encaminhamento dos reflexos da crise internacional nas economias nacionais, é a existência de instituições democráticas consolidadas que permitam a solução de conflitos distributivos e o estabelecimento de consensos mínimos quanto à repartição do ônus incidente sobre grupos sociais específicos, devido `as medidas de enfrentamento adotadas.
O economista julga que embora todos os países integrantes dos BRICS, inclusive Turquia, desfrutem da primeira condição (existência de grandes mercados consumidores), apenas o Brasil dispõe de todas as 3, que juntas figuram quase um seguro contra os efeitos da crise.
Além de mercado dinâmico, apto a compensar as perdas decorrentes do baixo crescimento internacional, o Brasil dispõe ainda de baixo endividamento do governo (cerca de 40% do Produto Interno – PIB) e de instituições políticas sólidas, responsáveis pela travessia de 25 anos sem sobressaltos institucionais graves. O mesmo não acontece nem com China e Rússia, que contam com regimes fechados em que o fim de uma era de abundância poderá facilmente descambar para a paralisia do Estado devido a conflitos intestinos não dirimíveis por meio de acordos políticos de maior consistência no âmbito das instituições políticas.
Muito embora mais arejados em termos do funcionamento interno, Índia e Turquia têm contra si pesados níveis de endividamento público (pelo menos o dobro do brasileiro), o que lhes tolhe a liberdade de movimento na efetivação de gastos públicos susbstitutíveis aos investimentos privados, nacionais e estrangeiros.
É por isso que Dilma Russef pode dirigir-se a mandatários de países Europeus, com os quais o Brasil mantém fortes laços econômicos, e permitir-se lições de política econômica. Quando o barco vira tem mais autoridade quem pode nadar melhor, mesmo contra a vontade de compatriotas que bem se comprazeriam com um país de afogados.