Em meio a dúvidas sobre quando o Fed (BC dos EUA) começará a desmontar o programa de estímulo à economia em que compra US$ 85 bilhões mensais em títulos, Barack Obama deu a entender que permitirá que o presidente da instituição, Ben Bernanke, se aposente.

Em entrevista, o presidente dos EUA comparou Bernanke a Robert Mueller, o diretor do FBI, que deve se aposentar nos próximos meses, depois de manter o posto por dois anos a mais do que havia planejado.

“Creio que Bernanke tenha feito um trabalho notável”, disse Obama. “Bernanke é parecido com Bob Mueller nisso… por ter ficado no posto muito mais do que deveria.”

O Fed, que encerra hoje sua reunião periódica para discutir a política monetária (semelhante ao Copom brasileiro), pode dar pistas sobre o cronograma para a retirada de seu programa de compra de títulos –que visa manter dinheiro em circulação e os juros em níveis baixos.

No mês passado, Bernanke, com a recuperação da economia dos EUA, sinalizou que o programa poderia ser encerrado ainda neste ano.

Desde então, os mercados ficaram instáveis. Com a retirada dos estímulos, o rendimento dos títulos americanos tende a subir e atrair para os EUA investimentos hoje dispersos pelo mundo.

Com isso, o dólar se valoriza em todo o mundo –inclusive no Brasil, onde a moeda dos EUA disparou nas últimas semanas.

DATA

Bernanke é o presidente do Fed desde 2006 e deve deixar o posto quando seu mandato se encerrar, em janeiro de 2014. Ele deu a entender que sair não o incomodaria, ao declarar, em entrevista recente, não acreditar que “seja a única pessoa capaz de administrar a saída [do programa de compra de títulos]”.

Mas os mercados imaginam que Obama talvez tente convencer o presidente do Fed a ficar, dadas as vantagens políticas e práticas que ter Bernanke por mais quatro anos conferiria ao presidente.

Além de ser conhecido no mercado e de ter tomado medidas agressivas de apoio à economia, Bernanke isola Obama de qualquer crítica pelas ações do Fed pelo fato de ter sido indicado pelo ex-presidente George W. Bush.

Na entrevista, Obama cobriu Bernanke de elogios pela sua condução da economia durante a crise financeira.

“Ele vem sendo um parceiro notável para a Casa Branca ao nos ajudar a conseguir uma recuperação muito mais forte do que, por exemplo, nossos parceiros europeus conseguiram, ante uma crise econômica que poderia ter atingido proporções épicas.”

EXPECTATIVAS

A escolha de Obama para o Fed terá consequências sérias para a economia dos EUA e a mundial.

Os mercados devem reagir vigorosamente, a depender do compromisso do sucessor para com as políticas de Bernanke – por exemplo, manter os juros baixos pelo menos até que o desemprego caia abaixo dos 6,5% – ou da possível escolha de um dirigente mais linha-dura.

(Na Folha de S. Paulo, tradução de PAULO MIGLIACCI

Fonte: Folha de S.Paulo / Financial Times