A Marcha das Margaridasnão é apenas um evento que ocorre de quatro em quatro anos, reunindo milhares de mulheres em Brasília. É um movimento contínuo, que, ao longo dos anos em que não ocorre a marcha, articula ações importantes à luta por igualdade de gênero. Além disso, as pautas de luta são construídas de forma coletiva e entregues ao poder executivo, para balizar políticas públicas.
Esses foram alguns dos aprendizados da oficina sobre a Marcha das Margaridas, realizada na última quinta-feira (10), pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), uma das entidades organizadoras do evento, que começou em 2000 e passou a ocorrer, tradicionalmente, de quatro em quatro anos.
A oficina foi ministrada pela educadora popular da secretaria de Jovens da Contag e da coordenação da equipe de cultura da marcha, Lyvian Sena. “O que acontece entre os dias 15 e 16 [datas da marcha neste ano], em Brasília, é o pico deste movimento”, ressaltou ela logo no início do curso.
Razão do nome
O nome da marcha é uma homenagem a Margarida Maria Alves. “Paraibana, nasceu em 1933, em Alagoa Grande, uma cidade bem pequena, dominada por latifúndios de cana de açúcar. Ela nasceu numa família grande, uma família pobre. Foi caçula, a nona filha. E logo quando criança sentiu na pele a dor de ser expulsa de suas terras”, destacou Lyvian.
“Margarida só teve a oportunidade de estudar até a quarta série, na escola formal. Mas, na escola da vida, Margarida recebeu todos os diplomas, assim como tantas Marias espalhadas neste Brasil inteiro”, continuou a educadora.
Margarida foi trabalhadora rural, sindicalista e, por 12 anos, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, onde “incomodou muita gente”, porque passou a atuar por direitos trabalhistas, como 13º salário, carteira assinada, melhores condições de trabalho e pelo direito a alfabetização. “Por conta disso, foi brutalmente assassinada na porta de sua casa, na frente de seu marido e seu filho. A dor foi muita, trabalhadoras e trabalhadores choraram a morte de Margarida, mas o luto se transformou em luta e, assim, nasceu a Marcha das Margaridas”, arrematou Lyvian.
Conquistas já obtidas
A Marcha das Margaridas de 2023 é a sétima edição. A primeira ocorreu em 2000. De lá para cá, o movimento conquistou o Pronaf Mulher(programa de crédito à agricultura familiar); programa nacional de documentação da trabalhadora rural; a política nacional de agroecologia; além da política de habitação rural e nomeação de titularização da terra em conjunto, para as mulheres terem o seu nome na certidão da terra.
“A gente apresenta essa pauta para o governo e, na marcha, o governo apresenta para nós a resposta do que demandamos. A única marcha em que a gente não apresentou pauta [ao governo] foi em 2019, porque coletivamente o comitê organizador da marcha decidiu que não se sentaria na mesa com o governo Bolsonaro. Mesmo assim, naquele ano, construímos uma plataforma política, do que as margaridas desejam”, contou Lyvian.
Objetivos
Entre os objetivos políticos da marcha está a crítica ao modelo de exploração capitalista, pelo seu caráter concentrador de riqueza e destruidor do meio ambiente. “Toda essa crítica a gente pensa a partir do feminismo, pensando que as mazelas, as principais feridas desse sistema estão nos nossos corpos. Somos nós, mulheres, que carregamos as maiores dores das desgraças do sistema capitalista”, observou Lyvian. “A gente precisa entender que a crítica, o enfrentamento ao sistema [capitalista], precisam estar embebidos em uma perspectiva feminista, para que consigamos, de fato, construir outros modelos onde a gente consiga ter paridade em todos os ramos”, pontuou.
Outros objetivos políticos, estabelecidos para todas as marchas:
• Fortalecer e ampliar a organização, mobilização, formação sindical e feminista das mulheres trabalhadoras rurais;
• Denunciar e protestar contra todas as formas de violência, exploração e discriminação, e avançar na construção da igualdade para as mulheres;
• Construção de um novo processo de desenvolvimento econômico voltado para a sustentabilidade de vida humana e do meio ambiente;
• Contribuir para a democracia das relações sociais no Movimento Sindical das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (MSTTR) e nos demais espaços políticos.
“A realização desta oficina foi fundamental, ainda mais neste momento, em que o poder executivo volta a escutar os movimentos sociais. Temos ainda que destacar que muitas mulheres estão indo pela primeira vez na marcha, companheiras novas que querem aprender sobre o tema”, avaliou a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.
“A oficina foi muito bonita, trouxe informações importantíssimas para quem vai participar da Marcha das Margaridas e para quem não vai poder participar, para se inteirar do conteúdo, das lutas, das conquistas, desta que é uma das mais importantes manifestações de rua do mundo”, concluiu o secretário de Formação da Contraf-CUT, Rafael Zanon, ao lembra que, neste ano, são previstas mais de 100 mil mulheres em Brasília. “Participaram da oficina 118 pessoas, entre elas, lideranças de movimentos sociais, que elogiaram o conteúdo”, completou.
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Fonte: Contraf – CUT