"Meu nome é Milk e quero recrutá-los para a luta pela igualdade". Com essa frase, que virou sua marca registrada, Harvey Milk iniciava suas falas, ou melhor, gritos, com um megafone vermelho nos atos políticos.

Baseado em roteiro que reflete a história real de Harvey Milk, ativista dos direitos gays nos anos 70 e primeiro homossexual a ser eleito para um cargo público na Califórnia, o diretor de cinema Gus Van Sant fez o belo filme "Milk – a voz da igualdade", protagonizado pelo ator Sean Penn.

E por que, neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher – data que nos faz lembrar mulheres brilhantes e lutadoras – decidi tratar do tema da igualdade entre homens e mulheres citando a trajetória política de um homem? Porque ele defendeu um princípio fundamental do cotidiano das pessoas, seja mulher ou homem, que atuam por uma sociedade justa: o direito de ser diferente.

Ser diferente no vestir, no falar, no amar, no pensar, no gênero, na aparência e no que mais lhe convier, sem que isso seja usado para alegar que essa pessoa é incompetente na atuação profissional ou na vida pessoal.

O perverso caminho da discriminação irradia diversas formas de violência, que doem tanto quanto uma covarde pancada. A exclusão no momento da contratação para um emprego ou até mesmo na escolha de quem vai ser hora da vez na demissão, por seu sexo, orientação sexual, idade, raça, origem, ou outra característica pessoal, deixa fortes marcas e prejuízos, não só individuais, mas também econômicos e sociais na humanidade. Basta olharmos para o mundo do trabalho. Nesta área as mulheres têm muito o quê dizer ou até mesmo gritar no megafone.

O enfrentamento (com mobilização, organização, políticas públicas, leis e propostas) contra a discriminação e pela igualdade diz respeito ao conjunto da sociedade, não somente a quem é diretamente afetado/a, pois tal qual erva daninha ela se amplia. Hoje poderei ser a discriminada da vez, amanhã pode ser você, que neste momento lê este artigo.

É bem interessante no filme observar o entrelaçamento dos movimentos. O sindicato dos caminhoneiros transportadores não conseguia fechar a negociação com os empregadores de uma determinada marca de cerveja; então, o movimento gay, em solidariedade, decide boicotar o consumo dessa cerveja nos bares de São Francisco. A cervejaria toma um grande prejuízo. Por conta da pressão unificada, o sindicato consegue fechar um bom acordo coletivo com a empresa.

O filme aborda delicadamente o tênue limite entre a paixão e a saturação que assombra as relações amorosas homossexuais ou heterossexuais. Quem é militante sabe muito bem disso. Em uma cena hilária o namorado de Milk, saturado da militância política (dele próprio) e do parceiro, logo após a "companheirada" ir embora da casa deles ao fim de uma exaustiva reunião diz: "Se você der uma palavra que seja sobre política eu juro que furo seus olhos com esse garfo!". Milk responde assustado: "Não, eu só ia dizer que o jantar está ótimo!".

Vale destacar que, quando Milk candidata-se pela terceira vez a supervisor distrital – eleição feita por meio da votação direta da população regional – faz a opção de trazer uma mulher (Ana) para a coordenação de sua campanha. No início a equipe torce o nariz, mas rapidamente integra-se com ela, que demonstra muita sagacidade, articulando amplo apoio para a candidatura em setores nunca antes cogitados como aliados. Além disso, a campanha mantém firmemente a luta pela aprovação de uma lei visando proteger os homossexuais da discriminação no emprego, mas passa a abordar também temas como proteção aos idosos, segurança e limpeza das ruas, ganhando a aprovação do conjunto da comunidade. Fruto de tudo isso, Milk é eleito.

Essa meta – o combate à discriminação – precisa ser abraçada na vida e no trabalho, pois não são questões indissociáveis. A vida acontece "lá fora", mas a repercussão real, dura e crua é para nós da classe trabalhadora, principalmente "dentro" do local de trabalho onde a cara da opressão, exclusão e diferenciação de direitos acontece.

É nesse sentido – articular conquistas na vida privada e no espaço profissional para as mulheres – que a nossa Central retoma, com muito vigor e em aliança com os movimentos sociais a Campanha – Cidadania: igualdade de oportunidades, na vida, no trabalho e no movimento sindical.

Milk, infelizmente foi assassinado por um adversário político conservador. O Dia 8 de março nasce da luta e da morte de mulheres que foram incendiadas dentro de uma fábrica nos Estados Unidos. Mas a mensagem de Milk e destas mulheres pulsa forte.

Nós mulheres e homens do novo milênio precisamos, e estamos tentando, ir além. Temas como casamento gay, igualdade salarial, ampliação da licença maternidade e paternidade, descriminalização do aborto, prevenção e punição à violência contra a mulher e quotas raciais e de gênero para avançar rumo à equidade no acesso aos espaços públicos, são alguns dos temas contemporâneos bem significativos da nossa intenção e ação.

Então. . . meu nome é CUT e gostaria de lhes recrutar para a luta pela igualdade!

Artigo de Denise Motta Dau, Secretária Nacional de Organização da CUT.

Fonte: CUT