A Febraban ocupa espaço no noticiário deste final de ano de escassas informações para fazer suas profecias sobre o desempenho futuro da economia: o crescimento de 2011 será bem menor (4,5%) do que o deste ano, o fantasma da inflação ronda ameaçadoramente nossas cabeças e os juros, inevitavelmente, terão de subir. É o que estamos cansados de ouvir, ler e ver nas análises dos colunistas econômicos.
É um coro muito bem ensaiado. Uma pressão organizada e concentrada para que as profecias se autocumpram.
Mas é preciso dar nome aos bois e dizer claramente o que está acontecendo: os bancos e seus porta-vozes estão fazendo terrorismo com a sociedade brasileira e tentando emparedar o governo para tirar mais uma lasquinha e assim aumentar seus lucros já exorbitantes.
Em primeiro lugar, o mito da inflação ameaçadora não resiste aos fatos. Segundo o relatório do ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese de dezembro, a inflação dos últimos meses está relacionada à elevação dos preços de poucos produtos agrícolas, que tiveram problemas de oferta em razão de fatores climáticos e sazonais. E não é provocada por uma explosão do consumo acima da capacidade da economia, uma vez que os produtos consumidos, em grande parte via crédito, não apresentam elevação significativa. Alguns deles até tiveram deflação nos últimos 12 meses.
Exemplos: a alimentação subiu 10,25% de janeiro a novembro (com destaque para alimentos in natura e semielaborados, que cresceram 15,23%), enquanto os equipamentos domésticos, onde se concentram os produtos comprados a prazo, sofreram uma deflação de -0,67% em 11 meses. O preço médio dos eletrodomésticos foi reduzido em -2,35% nesse período.
Aliás, o próprio Banco Central concorda com essa análise no Relatório de Inflação divulgado nesta quarta-feira 22 de dezembro, no qual é taxativo: "A elevação da inflação no trimestre encerrado em novembro foi, em grande parte, influenciada tanto por fatores sazonais internos, relacionados à oferta de alimentos, em especial de produtos in natura, quanto por fatores externos, relacionados à oferta de algumas commodities agrícolas".
Os fatos, portanto, desautorizam tamanhas previsões sombrias sobre a inflação futura.
O segundo ponto é que tanto os bancos quanto seus porta-vozes são expert em fazer previsões erradas. Vejamos alguns exemplos. A Febraban previu taxa Selic de 10,84% no final de 2009. Ficou em 8,75%. Apostou em um crescimento do PIB de 4,15% no ano passado. Foi de -0,64%. Quanto à inflação, os bancos prognosticaram índice de 4,48% para 2008. Chegou a 5,90%. Ainda mais gritante: a Febraban apostou em fevereiro deste ano que o PIB de 2010 cresceria 5,3%. Será certamente superior a 7%.
No auge da crise financeira de 2008, quando o governo federal pressionava os bancos a desempoçarem o crédito após a liberação do depósito compulsório, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal, criticou a decisão do Banco do Brasil e da Caixa de ampliarem a oferta de crédito e de reduzirem o spread, prevendo que isso colocaria em risco a solvência do sistema financeiro. O resultado é conhecido: o BB ampliou sua participação no mercado, retomou do Itaú o posto de maior banco do país e ajudou o Brasil a sair da crise.
O economista Paul Krugman, prêmio Nobel de 2008, em artigo publicado no New York Times desta terça-feira 21, escreveu o seguinte sobre os prognósticos dos analistas do sistema financeiro antes da crise: "Os fundamentalistas do livre mercado estavam errados sobre tudo – mas agora dominam completamente a cena política". Krugman se refere aos Estados Unidos. Mas podemos acrescentar: no Brasil, também. Eles se equivocaram em quase tudo e agora articulam um protagonismo político para induzir o Banco Central a elevar os juros, distorcendo fatos, fazendo terrorismo contra a sociedade e chantageando o governo.
A taxa Selic é um componente importante no lucro dos bancos. Querem ganhar mais dinheiro de maneira fácil, às custas do desenvolvimento econômico e social do país.
Carlos Cordeiro,
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)
Fonte: Contraf-CUT