Dono de uma carteira de crédito de 254 bilhões de reais, a maior do Sistema Financeiro Nacional, o Banco do Brasil vê na Selic de um dígito uma oportunidade para não apenas permanecer na liderança, mas de avançar em outras frentes como financiamento de veículos, seguros, previdência e cartões.

Segundo o presidente do BB, Aldemir Bendini, a redução na taxa de juros exigirá dos bancos uma nova mentalidade, uma vez que as aplicações em tesouraria deixarão de ser um bom negócio e o crédito a custo mais baixo estimulará investimentos por parte das empresas e o consumo de modo geral. Veja abaixo os principais pontos da entrevista:

EXAME – Quais são as principais mudanças culturais a serem vividas pelo país, pelo sistema financeiro, pelo setor privado ou pelos consumidores num cenário de juros de um dígito?

Bendini – Em um cenário com a taxa básica de juros de um dígito, a tendência é que aconteça a alavancagem do consumo via crédito, o que estimulará maior concorrência no segmento bancário. Os bancos terão que compensar a redução das taxas de juros com aumento de volume de operações. Isso exigirá uma nova mentalidade. As aplicações em tesouraria já não serão um bom negócio. As empresas, por sua vez, terão acesso a linhas com taxas em patamares históricos, o que deve estimular a produção e o aumento de emprego, o que nos leva à ponta final, ao consumidor.

Com emprego estável e acesso a crédito mais barato e com prazos alongados, o brasileiro deverá experimentar aumento sensível no consumo, alimentando a cadeia de produção e a concorrência bancária. Todo o sistema bancário terá que se adaptar a essa nova realidade. É bom destacar que, segundo dados do IBGE, o consumo privado representa 60% do PIB brasileiro. Será um momento de muita prosperidade para a economia brasileira.

EXAME- O que o BB tem feito do ponto de vista técnico para baixar os spreads para pessoa física, como tem pedido o presidente Lula?

Bendini – O Banco do Brasil já reduziu seus spreads e suas taxas de juros ao longo de 2009. A velocidade dessa diminuição está atrelada às condições macroeconômicas da economia brasileira. Existem variáveis que não controlamos, como a taxa Selic, a taxa de juros futuro, entre outras. A orientação de queda do spread foi dada não apenas para o BB, mas para todo o mercado bancário no país.

Historicamente, o BB pratica as taxas de juros mais competitivas do mercado bancário. Nossas taxas de juros são minuciosamente estudadas pela área financeira e essa decisão é colegiada e se pauta sempre por critérios técnicos. O banco está atento ao momento econômico do país e à importância de apoiar as atividades produtivas. Vamos continuar ampliando nossa participação no crédito, inclusive com alongamento de prazos de modo a estimular o crescimento econômico e social do Brasil.

O BB tem de trabalhar forte para ampliar a participação no mercado e aproveitar todas as oportunidades que surgirem. Nossa estratégia tem foco no crédito. Temos a maior carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional com mais de 254 bilhões de reais. Queremos permanecer na liderança. Temos uma vasta agenda pela frente, como crescer no crédito imobiliário, no financiamento de veículos, na área de seguros, em previdência e em cartões. Além disso, vamos incorporar rapidamente as sinergias de nossas recentes aquisições, Nossa Caixa e metade do Votorantim.

EXAME – Em função da crise, no primeiro trimestre de 2009, o banco teve um resultado de cerca de 30% inferior ao do mesmo período de 2008. Como a direção pretende conciliar o interesse dos acionistas privados – por juros mais altos – com os do governo, que pressiona pela queda?

Bendini – Os acionistas esperam eficiência, rentabilidade e resultado. Nesta década, o BB tem apresentado resultados crescentes e consistentes. A análise de curto prazo do resultado do BB deve ser feita com cautela e levar em conta uma série de fatores macroeconômicos.

O importante é manter-se eficiente. E é isso que estamos fazendo. Mesmo nesse período, tivemos uma melhora no nosso índice de eficiência, que atingiu 43,3% em março de 2009, contra 45,7% em dezembro de 2008 (quanto menor, melhor). O retorno sobre o patrimônio líquido, nos primeiros três meses do ano, foi de 23,8%, em linha com o que apresentou o mercado. Outro bom indicador da confiança no trabalho feito pelo Banco do Brasil é o desempenho dos papéis da empresa que acumulam em 2009 valorização bem superior ao Ibovespa e também aos dos principais concorrentes.

EXAME – O que aconteceu com o comitê executivo que o BB tinha há três anos e que pesquisava o ambiente de negócios caso os juros caíssem significativamente no país? Caso o comitê continue em funcionamento, gostaria de saber quais estudos tem feito e se alguma das conclusões será posta em prática pelo banco?

Bendini – O Banco do Brasil mantém comitês que discutem cenários macroeconômicos e um, específico, chamado fórum de taxas que discute composição das taxas de juros. Os estudos desses fóruns são estratégicos e confidenciais e, portanto, de acesso restrito, já que o BB faz parte de segmento comercial e competitivo.

Fonte: Portal EXAME / Angela Pimenta