
Longa brasileiro conta a história do drama da família do ex-deputado e jornalista Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar. Premiação vem num momento emblemático, em que o Brasil decidirá a punição dos golpistas do 8 de janeiro de 2023
A premiação do Oscar de melhor filme internacional para ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles, não foi apenas a merecida exaltação do cinema brasileiro, que pela primeira vez na história, levou a estatueta mais cobiçado da chamada sétima arte. Foi, acima de tudo, a celebração da democracia e o valor da memória histórica de que é preciso gritar: ditadura nunca mais.
A resistência das mulheres
Ao receber a premiação, o diretor e produtor Walter Salles dedicou o Oscar à resistência das mulheres e mães que enfrentaram a ditadura militar e exaltou a democracia. A homenagem vem justamente na semana do Dia Internacional da Mulher (8 de março).
“Obrigado, em nome do cinema brasileiro. Agradeço à Academia por reconhecer a história de uma mulher que, diante de uma tragédia causada por uma ditadura militar, optou por resistir para proteger sua família. Em um tempo em que tais regimes estão se tornando cada vez menos abstratos, dedico esse prêmio a Eunice Paiva e a todas as mães que, diante de tamanha adversidade, têm a coragem de resistir. Que nos ensinam a lutar sem perder a capacidade de sorrir, mesmo quando elas se sentem frágeis. Este prêmio também pertence a duas mulheres extraordinárias, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Elas não apenas elevaram nosso filme, mas representam o fato de que a arte resistiu no Brasil. Governos autoritários surgem e desaparecem no esgoto da história. E livros, canções e filmes ficam conosco… Obrigado a todos, em nome o cinema brasileiro e latino-americano Viva a Democracia. Ditadura Nunca Mais!”, afirmou em seu discurso improvisado, já que admitiu ter perdido o papel com o esboço que havia preparado, caso recebesse o Oscar, o que acabou acontecendo.
Momento emblemático
O inédito Oscar vem em boa hora, num momento em que o Brasil decidirá a punição aos militares que recentemente atentaram contra a democracia e tentaram um golpe de estado, ainda bem frustrado, eclodido em 8 de janeiro de 2023 e uma resposta bem-vinda “às viúvas da ditadura” da extrema-direita brasileira, que ao contrário de sua narrativa “patriótica”, torceram contra o filme brasileiro e atacaram nas redes sociais as estrelas de primeira grandeza, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
O Oscar não foi apenas o ápice reconhecimento internacional do valor do cinema nacional, mas, acima de tudo, o triunfo da democracia.
Fonte: Imprensa SeebRio / Carlos Vasconcellos