O ensino online, além de implicar na redução do número de professores e, consequentemente, no fechamento de escolas, impede que pessoas sem acesso a internet continuem estudando. Profissionais e especialistas em Educação são unânimes em afirmar que esse é mais um duro golpe na educação e na qualidade do ensino de todo o país.
“É a terceirização da escola pública”, denuncia a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em nota divulgada na semana passada.
“Ao invés de investir na formação, na contratação, na valorização de professores e em quadros técnicos administrativos, na infraestrutura e na ampliação de escolas e turnos integrais, o governo ilegítimo, fiel à Emenda Constitucional (EC95), que implantou o mais cruel ajuste fiscal da história do país, opta por precarizar ainda mais o ensino médio brasileiro”, diz trecho da nota.
Para o presidente da entidade, Heleno Manoel Gomes Araújo Filho, a medida atende exclusivamente o mercado, uma vez que ignora completamente o papel do Estado de garantir Educação de qualidade e acessível a todos os brasileiros.
“O governo golpista está pouco se importando com aquilo que determina a legislação, que é fazer com que os alunos concluam o ensino médio e exerçam a cidadania, além de serem preparados, com qualidade, para o mundo do trabalho”.
“O que eles querem de fato é dar dinheiro público para o setor privado”, denunciou o presidente da CNTE.
O doutor em educação e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Almérico Lima, concordou com Heleno e acrescentou:
“Do ponto de vista pedagógico, despreza para os dois casos, a necessidade de sociabilidade, de construção coletiva do conhecimento, de reforço a interação e pertencimento social que é característica da educação presencial”.
Segundo o professor, a medida visa apenas um crescimento quantitativo, com pouca ou nenhuma qualidade. “E, no caso específico da educação de jovens e adultos, é ainda mais perverso, pois é exatamente esse público o menos incluído digitalmente, com muitas dificuldades quanto ao acesso às plataformas digitais”, concluiu Almérico Lima.
A professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do campo da educação de jovens e adultos, Analise da Silva, disse que para a grande maioria dos educandos da EJA a medida é uma catástrofe, um desastre.
“Para a EJA é uma tirada de chão. Se existir a abertura de oferta de EJA 100% a distância, a modalidade deixará progressivamente de ser reconhecida como direito, na minha avaliação. Passará a ser ofertada por grupos educacionais privados, seja por si, ou em parceria com os Estados e Municípios”, destacou a professora.
“Esse jovem ou adulto que procura a EJA, quando criança e adolescente foi privado do seu direito de escolarização. Agora o trabalho que precisa ser feito é muito presencial, em que ele seja e se sinta acolhido devidamente para construir seu conhecimento escolar em diálogo com suas vivências”, explicou Analise.
A professora ainda disse, indignada, que o que este governo está fazendo com a educação de jovens e adultos é mais um filão para os “empresários que precisam de uma formação da mão de obra para o mercado mais barata e que possa ser descartada com maior facilidade”.
Segundo Analise as brasileiras e os brasileiros não tem outro recurso além de continuar lutando e resistindo. “Precisamos continuar nas ruas, nos espaços de controle social, nas redes sociais e, em especial, nas redes humanas, lutando contra as retiradas de direitos e denunciando os golpes diários desse governo ilegítimo”.