A Caixa Econômica Federal acredita que o novo controlador do PanAmericano, o banco BTG Pactual, vai agregar ainda mais valor à parceria. Segundo a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, houve um claro avanço em relação ao planejamento estratégico previamente estipulado e os ganhos serão superiores ao traçado anteriormente.

"A nova parceria com o BTG é um passo à frente em relação ao que nós havíamos percebido durante as análises feitas em 2009", disse a presidente da Caixa, em entrevista ao Valor. "Há um avanço qualitativo muito significativo que abre um potencial de atuação muito expressivo", completou Maria Fernanda.

Segundo ela, o segmento que deve agregar mais valor com a entrada do BTG é o de empréstimo para empresas, tanto por meio do leasing, que já estava previsto, como para estruturar operações no chamado nicho de médias empresas ("middle market"). "O PanAmericano poderá ter uma atuação arrojada e inovadora nesse segmento", disse.

Outros produtos também estão em estudo, como a oferta de crédito imobiliário sem recursos da poupança (fora do Sistema Financeiro da Habitação). Mas todas as definições serão feitas, a partir de agora, em reunião entre a Caixa e o BTG para traçar o novo plano estratégico. "Agora vamos sentar e reavaliar o plano de negócios", afirmou a presidente.

Se a perspectiva a médio prazo melhorou, mais imediatamente a operação trará perdas contábeis ao banco federal. Como a Caixa pagou R$ 700 milhões por sua fatia minoritária um ano atrás e agora o PanAmericano vale menos, terá de ser feito um ajuste pelo valor justo do investimento no balanço da CaixaPar. Questionada se o preço pago pela Caixa foi elevado, dado que o banco estava com um rombo bilionário, Maria Fernanda disse que o horizonte da Caixa nunca foi de curto prazo, em termos de retorno.

A executiva considera que todos os problemas enfrentados serviram de aprendizado para a Caixa, já que foi a primeira aquisição dos 150 anos da instituição. Mas ela ressaltou que em nenhum momento cogitou usar a prerrogativa contratual de sair do negócio quando foram constatadas as irregularidades. "Nunca se cogitou essa prerrogativa em função do reconhecimento de que a percepção inicial do potencial da instituição de agregar valor à atuação da Caixa permanecia", disse. "A instituição tinha um problema grave, mas não em relação à essência do PanAmericano, que é a sua força de venda e a capacidade de gerar crédito", completou.

Marcos Vasconcelos, vice-presidente de controle e risco da Caixa, lembra que as concessões atingiram níveis altos no último mês do ano e nos primeiros dias de janeiro, perto de uma média de R$ 1 bilhão mensal. Além disso, o capital foi restituído. "A capacidade de geração de crédito chega a impressionar. Agora é tocar o plano original para a instituição, que será até aperfeiçoado".

A Caixa teve uma participação bastante ativa na negociação da cobertura no segundo rombo, de R$ 1,3 bilhão, e acredita que a solução trouxe tranquilidade para o sistema financeiro. "A solução encontrada foi importante não só para a Caixa, mas trouxe tranquilidade para o mercado", disse.

Mas a Caixa não participou das discussões entre o antigo controlador e os bancos acionistas do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), disse Maria Fernanda. As duas únicas premissas colocadas pela instituição estatal que teriam que ser aceitas era que a Caixa não colocaria mais capital, além dos R$ 700 milhões já pagos, e as condições de governança negociadas no acordo de acionistas teriam que ser mantidas pelo novo controlador. A única mudança é que o novo acordo de acionistas tem um prazo de 8 anos, podendo ser renovado. O anterior era por prazo indeterminado.

Com relação ao sistema de dados antigo do PanAmericano, que permitiu as fraudes, nada pode ser aproveitado, disse Marcos Vasconcelos. O PanAmericano não tinha um controle de quem mexia nos dados, controle esse conhecido como trilha. Era possível, portanto, que um operador entrasse no sistema e alterasse as informações de qualquer contrato de empréstimos sem ser identificado. Hoje todos os sistemas possuem senhas, controles de acesso, rastreamento dos usuários. "Esse foi o primeiro intenso trabalho que foi feito quando entramos no banco", disse Maria Fernanda.

Como não havia esse controle, todos os dados computados estavam comprometidos. Todas as buscas levavam a valores que não correspondiam à realidade. Também não se sabe até quando seria necessário retroagir para começar a realimentar o sistema com dados reais. Por isso a opção de divulgar um balanço a partir de dezembro do ano passado, um balanço de abertura. "Essa era a única solução nesse caso. Não se tinha confiança nos dados antigos", disse Maria Fernanda.

Ela disse ainda que não há "nada de concreto" sobre a sua permanência à frente da Caixa. Maria Fernanda não confirmou se já conversou com a presidente Dilma Rousseff sobre o assunto. Disse apenas que ainda "não houve definição".

 
Fonte:  Valor Econômico / Fernando Travaglini