Após a mesa de abertura do Encontro Nacional dos Dirigentes de Bradesco, Santander e Real, o economista Sérgio Mendonça, do Dieese, fez uma apresentação sobre a crise econômica e seus impactos na economia brasileira. Para ele, a crise apresenta ao movimento sindical a oportunidade de modificar a agenda, acabando com o "rentismo" mundial, responsável direto pela crise, e incluindo temas como desenvolvimento social e sustentável.

Sérgio explicou que a crise não apareceu do nada, mas começou a ser montada com a desregulamentação do sistema financeiro. "Dados do BIS (Banco de Compensações Internacionais), o banco central dos bancos centrais, estimam que o valor dos derivativos em circulação hoje seja de sete a oito vezes maior que o PIB mundial. Só em título, que são dados mais conhecidos, são de três a quatro vezes mais", disse.

O economista destaca que os defensores do neoliberalismo e da desregulamentação afundaram o mundo. "Mas isso não quer dizer que eles vão ficar em casa de pijama, como deveriam. Em breve eles vão aparecer para defender as mesmas ideias", disse. "Nossa resposta deve ser firme: a saída para a crise exige mais Estado, não menos", defende.

Mendonça enxerga na crise uma oportunidade importante para a modificação do sistema. "Há uma agenda enorme em aberto e a mobilização dos atores sociais é que vai dizer como será essa agenda. Os movimento sociais e sindicais têm um papel importante nesse momento", afirma.

No Brasil, um ponto importante dessa agenda é o ataque que a sociedade deve fazer aos "vergonhosos juros brasileiros", diz Mendonça. "Os EUA estão trabalhando com juros entre 0% e 0,25% ao ano e o Banco Central do Reino Unido está com a taxa de juros mais baixa dos últimos 320 anos. Enquanto isso, nós estamos com juros próximos de 13%, é um absurdo", afirmou.

Essa taxa altíssima representa, de certa forma, uma "vantagem" em relação ao resto do mundo: sua taxa básica de juros ainda está muito alta, dando margem para um efeito maior no estímulo à economia caso ela caia. Ele afirmou que, caso a taxa Selic caia para, por exemplo, 7% ou 8%, o governo federal terá uma economia em pagamento de juros da dívida da ordem de R$ 70 bilhões. "Esse recursos poderiam ser utilizados em investimentos ou linhas de crédito para ativar a economia", explica.

Outro alvo dessa ofensiva da sociedade precisa ser o spread bancário brasileiro (diferença entre o custo de captação dos recursos e os juros cobrados nos empréstimos), considerado um dos mais altos do mundo. "Não dá para a economia funcionar com juros desse tamanho. Não adianta cair a Selic se não cair o spread", afirmou.

Ele lembra, no entanto, que há interesses poderosos que defendem o sistema atual. "Não há ilusões: sabemos que os juros não caem por interesses. Os bancos são a linha de frente, mas os ricos também adoram juros altos, ele ganham dinheiro sem fazer nada, vivem de renda. O problema é que esse dinheiro que essas pessoas ganham ‘do nada’, na verdade, vem do Estado, por meio da dívida pública e do superávit primário", explica. "Os bancos e os ricos vão ganhar menos. Não dá para viver de renda", afirma.

Mendonça vê como positiva a atuação do governo brasileiro até agora,m que vem agindo rápido para injetar recursos na economia e evitar o desaquecimento. Nesse sentido, destaca o aumento do salário mínimo para R$ 465, que passará a valer a partir de maio. "É a melhor medida para segurar a renda dos cidadãos nas cidades, muito importante para segurar a crise", afirmou.

Nessa linha, Sergio defende que as campanha salariais deste ano serão muito importantes não só para as categorias. "Lutar pelo salário dos bancários é lutar pelo Brasil. É preciso manter a massa salarial para evitar o desaquecimetno da economia", afirma. "Não é o caso de negar a crise, mas de não se intimidar. Entender a crise é importante par influenciar no debate das políticas públicas e pautar essa agenda que está em aberto", defende.

Fonte: Contraf-CUT