Passaram-se mais de dois séculos até que o Banco do Brasil (BB) pudesse contar com uma mulher na presidência da empresa. A Paraibana Tarciana Medeiros foi empossada pelo presidente Lula como a nova dirigente máxima da companhia na noite desta segunda-feira (16), em uma cerimônia festiva.

A bancária pertence aos quadros do próprio BB há mais de duas décadas, tem 44 anos, ex-feirante, nordestina, defensora das causas do segmento LGBTQIA+ e uma das executivas mais bem vista pelos trabalhadores e pelo movimento sindical por ser uma funcionária de carreira e com um legado de conquistas à frente da instituição.

Ela ocupou diferentes funções de gerência e passou por unidades do BB em pontos distintos do país, do Nordeste ao Norte e com passagem pelo Distrito Federal (DF).  Em seu primeiro discurso à frente da empresa, ela destacou algumas dessas características, agradeceu ao presidente pela indicação e fez menção à promoção da diversidade na companhia.

“Construiremos um diagnóstico preciso. Adotaremos medidas concretas para diversificar ainda mais os times e as lideranças, enriquecendo o debate de ideias, a proposição de soluções e a tomada de decisões. O Banco do Brasil vai vivenciar a diversidade plena, na prática”, destacou reforçando que “com 214 anos de existência, o BB é uma das maiores instituições financeiras do país, opera como sociedade de economia mista e tem o governo federal como detentor de 50% das ações. Temos 1 milhão de acionistas e continuaremos gerando o retorno adequado ao capital que investiram na empresa. O BB continuará a ser um banco rentável e sólido, criando valor para a sociedade. Podemos, sim, conciliar nossa atuação comercial com uma atuação pública”, disse Medeiros, ao citar ainda a intenção de ampliar a oferta de crédito “de forma criteriosa”.

O presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, reforçou que pelo valor simbólico e inédito da escolha de uma mulher para chefiar a instituição, a mensagem acerca da renovação e perspectiva de avanços são ainda mais eficazes para o banco e seu impacto no desenvolvimento do país.

“Não basta o banco ser público. É preciso que as pessoas que dirigem tenham a cabeça mais aberta, tenham a cabeça um pouco mais arejada para entender que determinadas coisas vão acontecer como novidade porque nunca tinham acontecido. Eu fico estarrecido de estar aqui hoje na sua frente sabendo que você é a primeira mulher a chegar à presidência”, disse Lula, ao se dirigir a Medeiros.

Lula disse ainda desejar que o BB se torne “campeão em crédito consignado”. “Quero que a gente seja o campeão em crédito consignado. E eu quero mostrar para vocês uma coisa que eu dizia em 2003 e vou dizer agora: o pobre neste país não é o problema. Ele é a solução na medida em que é incluído na economia. E nós vamos outra vez incluir o povo pobre na economia e queremos que o BB cumpra a sua parte”, projetou o presidente.

Tarciana Medeiros assume o cargo no momento que o BB comemora as cifras colhidas no último período. No terceiro trimestre de 2022, a empresa teve o maior lucro nominal da história, com R$ 8,1 bilhões, considerando os bancos de capital aberto do país. O montante representa uma alta de mais de 70% em relação ao mesmo período do ano anterior.

“O banco também conviveu com o fantasma da privatização, no governo Bolsonaro com o ex-ministro Paulo Guedes declarando diversas vezes o desejo em privatizar a empresa, além da imposição de metas abusivas e que adoeceram os trabalhadores, bem como a prática de juros altos e, entre outras coisas, a reestruturação com uma série de agências fechadas. Dados do Banco Central mostram que mais de 380 unidades foram encerradas em todo o país, só na Paraíba foram mais de 15 fechadas ou transformadas em postos de atendimento”, destacou o presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, Lindonjhonson Almeida, avaliando como uma mudança eficaz a chegada da paraibana para presidir o Banco do Brasil, “a gestão de Tarciana Medeiros deverá enfrentar grandes desafios para fazer com que ele volte a ser indutor do desenvolvimento nacional”, concluiu.