Os bancos internacionais têm uma exposição gigantesca de US$ 3,4 trilhões ao grupo de países europeus com maior vulnerabilidade fiscal e que ameaçam a zona do euro, que são Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália, os chamados Piigs, na sigla em inglês. A cifra inclui bônus dos governos, dívidas de empresas e até empréstimos pessoais. Os dados do Banco Internacional de Compensações (BIS) indicam que, embora as atenções dos investidores estejam focadas na Grécia e em Portugal, a exposição da banca é muito maior na Itália, na Irlanda e na Espanha.

O risco de calote provoca especulações de qual seria a perda potencial de bancos, sobretudo europeus, engajados em economias com sérios problemas de solvência e credibilidade fiscal na Europa.

Dados consolidados obtidos pelo Valor mostram que a banca internacional tem exposição de US$ 298 bilhões na Grécia, a maior fatia sendo de instituições alemãs. Já na Itália, chega a US$ 1,196 trilhão, na Espanha a US$ 944 bilhões e na Irlanda a US$ 710 bilhões. Por sua vez, a exposição da banca em Portugal é de US$ 252 bilhões, a menor no grupo.

Desde a semana passada, quando a França procurou empurrar a Alemanha a um pacote para socorrer a Grécia, as atenções se voltaram para a enorme exposição de bancos desses países aos países que investidores consideram com forte problema de solvência. Mas cresce a irritação com o papel que os próprios bancos tiveram na crise do endividamento dos governos. Isso justamente depois de os governos terem sido obrigados a salvar bancos à beira da falência, no rastro da crise financeira global.

A chanceler alemã, Angela Merkel, criticou ontem duramente bancos de investimento suspeitos de terem ajudado a Grécia a camuflar o tamanho de sua dúvida ao longo dos anos.

A atuação do banco americano Goldman Sachs é considerada a mais chocante. De um lado teria ajudado o governo grego a camuflar a dívida através de instrumentos financeiros sofisticados, pelo qual ganhou remuneração de US$ 300 milhões. Ao mesmo tempo, assumiu em segredo posições contra a Grécia e o euro em operações financeiras.

Também a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, advertiu a banca contra o uso de derivativos vinculados à dívida soberana. Paris alveja o uso de CDS ("credit default swaps"), uma forma de seguros pelo qual detentores da dívida podem receber enormes somas se o crédito não for pago. Ou seja, o mecanismo acaba estimulando o credor a pressionar também pelo calote, em vez de preferir a recuperação do devedor.

Depois de terem atingido níveis quase recordes, os spreads dos bônus gregos e de CDS se acomodaram, numa aparente trégua no mercado. O problema, na visão de bancos, é se o governo socialista grego conseguirá implementar os programas de ajustes para reequilibrar as contas públicas.

Desacordos entre o governo grego e as autoridades europeias também causam desconforto no mercado. Pressionado a ampliar o ajuste fiscal em seu país, o primeiro-ministro grego, o socialista Georges Panandreau, reagiu irritado recentemente em direção à UE : "Diante de um fenômeno sem precedentes na zona euro, nós, gregos, nos tornamos a cobaia numa batalha entre a Europa e os mercados internacionais".

Investidores voltaram suas atenções para Portugal e Espanha. Ambos combinam fraco crescimento econômico, enorme déficit e governos com dificuldades também para planos de consolidação fiscal.

Em Portugal, o Parlamento aprovou mesmo uma lei regional de finanças que amplia o déficit público. Analistas de bancos não excluem uma ação dos mercados para "testar" os países mais fragilizados, até que um plano com credibilidade seja apresentado.

A preocupação, porém, vem se ampliando em relação aos déficits fiscais na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

 
Fonte:  Valor EconômicoAssis Moreira, de Genebra

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