Nada é mais chocante que a ânsia do governo Temer por realizar intervenções brutais que deixarão terríveis cicatrizes na face da sociedade brasileira. Seu governo não tem legitimidade, sua duração será breve e qualquer política que aprove, logo passará às mãos de um novo presidente.

Por que então esse governo insiste tanto em realizar reformas profundas e dolorosas para a sociedade brasileira, em especial para os mais pobres?

Porque esse não é apenas um governo do golpe. Um governo nascido de um golpe poderia, em certas condições, ser um governo de conciliação. Não é o caso do governo Temer. Ao contrário. Ele é um governo de vingança que procura esquartejar os arranjos das políticas estruturadas ao longo da trajetória do PT. É um governo de terra arrasada, ou de guerra de extermínio.

E que motivos o levam a tratorar quinze anos de políticas públicas mais ou menos democráticas? O fato de que é um governo que, para abrir o saque dos recursos públicos (leia-se PPI, Pré-Sal, etc.) necessita do beneplácito das elites. Como conquistá-lo? Prestando o serviço de, da forma mais violenta e imediata, limpar o país da herança do PT. Afastar das cercanias do poder a tiros os grupos sociais beneficiados nesses anos, expulsá-los para as periferias e os guetos da política brasileira.

Isso, em primeiro lugar. De outro, se trata depositar sobre as costas, e os ombros, desses grupos todo o peso da ‘solução’ da crise econômica, livrando as classes ricas de qualquer ônus pela crise (impostos, CPMF progressiva, impostos sobre heranças, etc). Nesse sentido, é um governo de massacre e de violação, que devolverá o Brasil a situação de trinta anos atrás, isto é, a situação de país mais desigual do mundo.

Será responsabilizado? Não. Porque daqui há vinte e poucos meses não estará mais aqui. É um governo de dias contados. O novo governo, vai manter e até reforçar todas as políticas impostas por Temer, mas dirá da forma mais descarada que não pode fazer diferente, que tem que seguir essa política que, se tivesse podido escolher, nunca adotaria. Mas que agora é tarde.

Temer se lança sobre os arranjos políticos democráticos do governo no qual ele era o vice, como um jagunço ou um salteador feroz. Ele atua sobre a arquitetura legal e institucional como um veterinário de guerra que, habituado a costurar cavalos, de repente, é levado para uma sala de cirurgia plástica. Temer está muito consciente que deixará cicatrizes profundas e desfiguradoras sobre o tecido da sociedade brasileira.

Mas isso não importa. O que importa é que receberá os aplausos da mídia, da classe média e, sobretudo, do grande capital, dos grandes empresários, dos latifundiários. Então, todas as chaves estarão graciosamente em suas mãos, todas as portas serão abertas, e todas as PPIs serão aprovadas.

Espanta a passividade da esquerda diante dessa estratégia óbvia. Quem olha para a esquerda nesse momento, lânguida, prostrada em cava depressão, se pergunta se essa a atitude não é a maior cumplicidade que o golpe poderia almejar. Não é verdade, como um jornalista disse essa semana, que as manifestações nas ruas ajudariam o golpe a instaurar um regime de exceção.

Ao contrário. Em todos esses meses, foram sempre as mobilizações que fizeram o golpe recuar, mesmo que momentaneamente, e reduzir o seu ritmo. Quando vão recomeçar as mobilizações e manifestações de ruas? Logo, logo, será tarde demais porque haverá gente de menos disposta a pisar no asfalto.

Caro leitor, temos que multiplicar e fortalecer os fronts de batalha pela democracia. O golpe gostaria de ter uma única mídia, totalitária, uma única Globo, trabalhando para fabricar zumbis obedientes. Nós, ao contrário, só vamos ganhar força através da diversificação dos meios e das chances de informação e opinião.

 

 

Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho