O presidente licenciado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), professor Márcio Pochmann, defendeu a comunicação e a formação sindical como armas da classe trabalhadora no combate pelo desenvolvimento nacional com distribuição de renda e valorização do trabalho, num país extremamente desigual, em que 90% dos empregos são de até um salário mínimo e meio.
A recente ascensão deste segmento, explicou, nada mais é do que o resultado de um processo de alargamento da classe trabalhadora. Como sua súbita incorporação ao mercado de consumo se deu via políticas públicas, mas sem a intervenção direta das representações de interesse – como os Sindicatos, organizações de moradores e estudantis – as percepções desse grupo são ainda muito despolitizadas e estão em disputa.
Do ponto de vista dos trabalhadores isso se confirma nas taxas de sindicalização: o país saiu de um patamar de 32% de sindicalizados, em 1989, reduzido pelo neoliberalismo a 16,5% em 1999, e chegando, atualmente, apesar da política de valorização do salário mínimo e dos inegáveis avanços no governo Lula, à taxa de 18%.
A mesma desmobilização se repete em outras áreas, lembrou. "O Prouni representou maior inclusão de estudantes no ensino universitário, mas isso não redundou em maior fortalecimento das entidades estudantis. Da mesma forma, a ampliação de moradias não significou o fortalecimento das associações de bairro. Foram medidas que derivaram da grande política construída pelo presidente Lula, de decisão política, mas que não mobilizaram. Agora, esses segmentos que foram beneficiados por políticas públicas inclusivas, devido à ausência de politização, acreditam que seu crescimento se deveu exclusivamente à sua própria capacidade, ao seu esforço individual".
Esta despolitização e desprezo pela ação coletiva, avalia, acaba jogando a favor do consumismo, de uma visão extremamente conservadora, de que tudo que é público não interessa, pois é pobre, de segunda qualidade. Assim, tais trabalhadores viram consumidores de planos de saúde, de educação e seguridade privada, se posicionando contra o pagamento de impostos. Essa contaminação com as teses conservadora redunda no vazio das instituições e dos Sindicatos. "É a lógica do eu me realizo, não preciso do contato de outras pessoas. Há um esvaziamento da perspectiva coletiva. É como estar num shopping, rodeado de pessoas, mas sem espaço de sociabilidade", esclareceu.
BATALHA DE IDEIAS, DISPUTA PELA HEGEMONIA
Conforme Pochmann, o sindicalismo dispõe de uma enorme quantidade de jornais, revistas, boletins e panfletos, tendo mais jornalistas e profissionais de comunicação que a própria Rede Globo, mas sem um norte comum para "disputar a hegemonia". "É preciso investir na disputa de ideias, para que a opinião pública não seja reduzida à opinião publicada", destacou o professor, para quem a democratização da comunicação é fundamental para assegurar a verdadeira liberdade de expressão.
O presidente licenciado do Ipea também alertou para o fato da maior parte do movimento sindical não trabalhar com pesquisas, o que acaba se refletindo no não conhecimento das suas categorias, debilitando a conformação de estratégias de médio e longo prazo, limitando as entidades a ações pontuais, de pronto socorro. O imediatismo é o mesmo de quem busca soluções emergenciais para sua própria sobrevivência, comparou.
"Temos em nosso país hoje 16 milhões de pessoas miseráveis que sobrevivem com dois reais ao dia, que não fazem planos além de estar vivo ao anoitecer. Temos os trabalhadores que planejam o mês, a classe média que planeja o ano e uma elite empresarial que faz planos para a década", disse.
Reconhecendo a disposição de luta em defesa da classe trabalhadora e o compromisso histórico manifestados pelos cutistas, Pochmann exortou os delegados e delegadas presentes ao 11º CONCUT a "ver o que nos une e não o que divide, pois com mais força vamos mais longe e mais rápido".
O secretário-geral da CUT, Quintino Severo, destacou que o posicionamento de Pochmann aponta para importantes desafios a serem enfrentados como o aumento da base de representação, que não é necessariamente o de representatividade; a busca de maior participação das mulheres no mercado de trabalho, combatendo a desigualdade salarial e de oportunidades; e o aumento da massa salarial, que ainda é muito baixa, com o rendimento não acompanhando o crescimento da produtividade e da lucratividade das empresas.
A secretária de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, lembrou que no serviço público há importantes batalhas a serem travadas, como a luta nacional pela destinação de 10% do PIB para a educação e a valorização dos serviços e dos servidores públicos, que necessitam ser colocados pelos governos como prioridades na agenda do desenvolvimento. "Isso nos coloca o desafio de retomarmos as grandes mobilizações, de fortalecer ainda mais a nossa ação sindical", acentuou.
O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, participou do debate apontando a importância das políticas públicas para o desenvolvimento econômico com distribuição de renda e inclusão social.
Fonte: Leonardo Severo – CUT