A Polícia Federal entrou em campo para ajudar a conter a onda de ataques criminosos a bancos que tomou conta do sul do Brasil. Razões não faltam.

Conforme reportagem publicada no último sábado (29) no jornal Zero Hora, entre 2011 e 2012, o número de assaltos e arrombamentos de estabelecimentos bancários subiu 23,7% no Rio Grande do Sul, 81,4% em Santa Catarina e 117% no Paraná, num total de 504 ataques até o início de novembro (último levantamento completo).

Como regra, a missão dos federais seria apenas atuar quando bancos federais são roubados – como a Caixa Econômica Federal. Mas, como crime é crime, não há limites para sua investigação.

– Acontece que os bandidos não respeitam qualquer delimitação. Os mesmos que assaltam bancos privados ou estaduais também atacam os federais. É por isso que temos realizado levantamentos sobre quadrilhas, sem levar em conta que tipo de agência atacaram – diz um delegado federal ouvido por Zero Hora.

O outro motivo da interferência dos federais é que os ataques a banco se transformaram numa epidemia interestadual, que ultrapassa divisas. Como as polícias estaduais têm notórias dificuldades de entrosamento, a PF almeja uma ação de maior abrangência, que supere rivalidades regionais e jurisdições estaduais.

Três quadrilhas em SC e no RS

Os federais já descobriram que pelo menos três quadrilhas têm feito um vaivém de ataques entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, assaltando num Estado e fugindo para o outro. Uma delas é a que era chefiada por Enivaldo Farias, o Cafuringa, gaúcho que atacava bancos nos dois Estados e foi preso em Cachoeirinha (RS) em agosto. Mesmo com ele atrás das grades, a estrutura do bando teria permanecido intacta.

Outra quadrilha é formada por bandidos radicados em Joinville (SC), que costuma atacar carros-fortes nessa região, mas estaria envolvido também em ataques a banco no RS. O principal nome é o do foragido Elisandro Falcão. E o terceiro bando seria um que também tem praticado assaltos na região serrana do Rio Grande do Sul.

Em paralelo à ação dos federais, as polícias civis tratam de se entrosar. Agentes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul planejam desde outubro investigações conjuntas, que acabaram de resultar numa operação que desarticulou parte de uma poderosa quadrilha de assaltantes (veja na página ao lado).

– Mais ações integradas virão – adianta o chefe da Polícia Civil, Ranolfo Vieira Junior.

O que tanto policiais federais quanto civis tentam descobrir é quem é o "matuto" – fornecedor de armas para essas quadrilhas. Há possibilidade de que o armamento usado pelos três bandos seja compartilhado, via aluguel de fuzis, escopetas e pistolas para dezenas de assaltantes.

Prisões no Estado e mortes no Maranhão

O núcleo gaúcho da PF já coíbe assaltos em geral. Em setembro, federais prenderam em Gravataí, na Região Metropolitana, 16 ladrões, entre eles Sérgio Rudinei Bauermann, o Da Nota, apontado como um dos responsáveis por assaltos à Caixa Econômica Federal, em Feliz, ao Banco do Brasil em São Francisco de Paula, Torres e Nova Bassano, ocorridos entre julho e setembro.

Outro integrante do bando, preso depois, é Diego Moacir Jung, o Dieguinho, investigado pelo assalto a uma agência do Banco do Brasil em Parobé e outros cinco crimes contra instituições financeiras, incluindo o Bradesco, o Banrisul e o HSBC em Porto Alegre. Esses crimes tiveram uso de explosivos.

Em alguns casos, a federal jogou pesado. Em 2 de março de 2010, nove bandidos foram mortos pela PF durante assalto a banco no município de Santa Luzia do Paruá, interior do Maranhão. A quadrilha era monitorada e foi surpreendida ao ingressar, com armamento pesado, na agência local do Bradesco. Os bandidos foram mortos na troca de tiros.

Não foi o único episódio. Em novembro passado, operações simultâneas, feitas em conjunto pela PF, Polícia Civil e PM nos municípios de Marcelândia e Comodoro, em Mato Grosso, resultaram na morte de seis criminosos. Os policiais recuperaram cerca de R$ 1,2 milhão.

Ataques mobilizam polícias do RS e de SC

A visão de bandidos com capuz, armados com o que há de melhor na indústria bélica, dominando reféns e com maior poder de fogo que as polícias, tem apavorado as autoridades em todo o Brasil. Tanto que essa modalidade de crime, conhecida como Novo Cangaço, foi assunto dominante no encontro nacional de chefes de Inteligência policial, que congregou nos dias 13 e 14 em Brasília policiais civis de todos os 27 Estados.

De todos os tipos de assalto a banco, Novo Cangaço, que nasceu nos estados do Nordeste e de uns anos para cá migrou para o sul do país, é o mais temido. A tática é dominar pequenas comunidades e fazer o maior número possível de reféns. Em alguns casos, os bandidos cortam as comunicações telefônicas de toda a região, numa autêntica operação militar.

– Temos trocado informações, dossiês, fotos – resume o delegado Ranolfo Vieira Junior, chefe de Polícia do Rio Grande do Sul.

A cooperação é mais intensa entre os Estados do Sul, que registraram 504 ataques até outubro – ante 293 no mesmo período do ano passado. Um cálculo extraoficial é de que os bancos percam, em média, R$ 60 milhões anuais.

Como resultado da integração, em 22 de dezembro, o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Roubos, coordenou uma operação-conjunta com colegas catarinenses. Vinte e cinco agentes participaram da ação, que resultou na prisão de três foragidos.

Os policiais prenderam Douglas Souza da Silva, 27 anos, Fábio Rode de Oliveira, 22 anos, e Denis Martins Fernandes, 32 anos. Com eles foram encontrados dois fuzis (modelos M-16 e AK-47), pistolas, centenas de projéteis, miguelitos, dois coletes à prova de bala, quatro toucas ninjas, roupas camufladas, 10 celulares, câmera fotográfica, luvas e até uma alavanca usada para quebrar os caixas eletrônicos.

O trio teria vínculo com Elisandro Falcão, foragido suspeito de lidera a maioria dos assaltos com uso de explosivos e com vítimas usadas como escudos humanos na Serra.

Em Santa Catarina, o bando de Falcão é suspeito de um assalto em Praia Grande em 2011, do ataque a um carro-forte em Dona Francisca (próximo a Joinville) em outubro passado e também do assalto em Sombrio.

Fonte: Zero Hora