São Paulo – A pedido dos sindicatos, foi realizada na sexta-feira, 13 de fevereiro, uma reunião com os superintendentes de relações sindicais dos bancos Santander e Real, Gilberto Trazzi e Jerônimo dos Anjos, respectivamente, para discutir o lucro do grupo e o pagamento da PLR.

O Santander publicou dois balanços (veja abaixo). Para surpresa geral, os números não batem e ocorreu uma brusca involução do lucro nos dois últimos meses do ano, da ordem de R$ 2 bilhões. Em novembro, por meio de uma nota à imprensa, o Santander afirmou que obteve R$ 4,39 bilhões nos nove primeiros meses de 2008. Mais R$ 529 milhões figuram no balanço como lucro do quarto trimestre, o que totaliza R$ 4,826 bilhões. Ou seja, faltam R$ 2,07 bilhões.

Nas contas do presidente Fábio Barbosa, também faltam R$ 2,58 bilhões. Além de afirmar isso para a mídia e constar do site do Santander, o presidente gabou-se de que o Brasil respondeu por 20% dos 8,9 bilhões de euros do resultado global, ou seja, cerca de R$ 5,33 bilhões. E por que o lucro publicado é de R$ 2,75 bilhões? A conta não bate. Para completar, em 31 de outubro, Emílio Botin, quando veio ao Brasil para a Fórmula 1, alardeou que o lucro no Brasil em 2008 seria de R$ 4,8 bilhões. Pelas contas do presidente mundial, faltam R$ 2,05 bilhões.

Os lançamentos do balanço mostram um bom desempenho no crédito, nos serviços, nos produtos, pessoa jurídica e física e não há qualquer indicador de prejuízo ou de resultado ruim. Ao contrário, seus ativos passaram de R$ 116 bilhões para R$ 340 bilhões, há a sinergia com a fusão de departamentos e cerca de 3 mil postos de trabalho foram eliminados. Então, por que o balanço não confirma um resultado de R$ 4 bilhões? Para piorar, o banco lançou um ágio de R$ 26,3 bilhões pela compra do Real e amortizou R$ 571 milhões no exercício.

Há, ainda, a aquisição da Torre São Paulo, por R$ 1,06 bilhão, quando profissionais do mercado imobiliário apontavam, para o novo prédio do Santander, um preço em torno de R$ 400 milhões. Na Espanha, foram provisionados 500 milhões de euros para cobrir o rombo das operações Madoff.

Pelo visto, a fusão Santander e Real, na aritmética espanhola, é mágica, pois um banco mais um banco é igual a um, já que o balanço derreteu um banco. É uma farra os lançamentos a título de "valores intangíveis" de ágios da aquisição e da marca, assim como uma conta "outros", de R$ 7 bilhões, que faz envergonhar calouros de contabilidade.

Protesto – Provocou indignação e protestos dos sindicalistas o anúncio de que a PLR, por causa desse balanço, será paga apenas pela regra básica, ou seja, 45% do salário mais R$ 483, e que não haverá parcela adicional por que, segundo o banco "não houve crescimento do lucro". Em contrapartida, os valores que serão distribuídos como dividendos e juros sobre capital (isento do Imposto de Renda) "foram estabelecidos para não dar prejuízos aos acionistas", conforme notas do balanço. Ou seja, para eles próprios, que detêm quase 98% das ações.

A luta continua – Os sindicalistas vão denunciar o Santander em todos os órgãos de fiscalização, querem explicações sobre a política de bonificação para os altos executivos e vão desenvolver campanha pública para cobrar uma PLR justa para os brasileiros.

Santander publicou dois balanços

O grupo publicou dois balanços, um pró-forma – que não serve para embasar qualquer decisão – e outro contábil, que consolida as operações do grupo a partir de 29 de agosto, quando ocorreu a fusão com o Real. Entretanto, o balanço desse banco, anterior a essa data, só será publicado em 27 de fevereiro, o que provocou o primeiro conflito na reunião, pois embora o banco alegue que o resultado seja consolidado do grupo, os sindicalistas querem conhecer o balanço inteiro do Real.

As contas não batem, se anunciadas pelo banco…
R$ 4.397 bilhões – lucro dos nove primeiros meses (anunciado em nota à imprensa)
R$ 529 milhões – resultado do quarto trimestre apresentado no balanço
R$ 4,826 bilhões – soma dos quatro trimestres
R$ 2.076 bilhões – é a diferença a menor do balanço

…se anunciadas pelo presidente do grupo
R$ 4,8 bilhões – estimativa de Botin informada em 31 de outubro passado
R$ 2,750 bilhões – lucro apresentado no balanço
R$ 2,050 bilhões – diferença a menor do balanço

…se anunciada pelo presidente do banco no Brasil
R$ 5,334 bilhões – afirmou Fábio Barbosa de posse dos dados e relativo a 20% do lucro mundial (8,9 bilhões de euros)
R$ 2,580 bilhões – diferença a menor para o balanço

Fonte: Seeb SP

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