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Hugo Correia - Reuters
Manifestantes exigiram nova política econômica em Lisboa no dia 1º de abril

Após meses de resistência, o primeiro-ministro demissionário José Sócrates anunciou nesta quarta-feira, dia 6, um pedido de socorro financeiro à União Europeia. Horas depois, a medida foi apoiada pelo líder da oposição e o FMI (Fundo Monetário Internacional) também mostrou-se "pronto" a ajudar o país.

O pedido chega após protestos em diversas cidades do país pedindo por novas políticas econômicas e depois de o próprio premiê renunciar ao cargo, no dia 23 de março, acuado pela crise da dívida.

O fim de seu governo foi acelerado pela rejeição do Parlamento português ao seu plano de ajuste fiscal. O pacote havia sido elaborado para evitar o resgate internacional. A ajuda externa estará condicionada ao país cumprir duras exigências de ajuste econômico.

"O governo decidiu dirigir à Comissão Europeia um pedido de ajuda financeira para garantir as condições de financiamento", disse Sócrates em breve pronunciamento na TV mais cedo nesta quarta-feira.

O valor do resgate financeiro ainda não foi anunciado, mas analistas do mercado financeiro estimam que pode chegar a 80 bilhões de euros [R$ 185 bilhões].

Portugal se torna, assim, o terceiro país da zona do euro a pedir ajuda aos parceiros europeus, após a Grécia e a Irlanda.

FMI

O FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou nesta quarta-feira em Washington que está "pronto" para ajudar Portugal.

"Não recebemos solicitação de assistência financeira", disse um porta-voz do FMI, mas "estamos preparados para ajudar Portugal".

Lisboa decidiu nesta quarta-feira solicitar ajuda financeira à União Europeia. O pedido será discutido durante uma reunião informal dos ministros das Finanças europeus na sexta-feira e no sábado em Budapeste, capital da Hungria, que preside atualmente o bloco.

"Vimos as declarações do primeiro-ministro [demissionário] português, José Sócrates, e do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, sobre a intenção de Portugal de pedir a ativação de mecanismos de apoio financeiro", informou um comunicado do FMI.

OPOSIÇÃO APOIA MEDIDA

O líder da oposição portuguesa, Pedro Passos Coelho, presidente do Partido Social Democrata (PSD), declarou nesta quarta-feira seu apoio ao pedido de ajuda financeira.

"O PSD fará todo o necessário para apoiar esse pedido no plano externo, mas também para facilitar as negociações que o governo terá que realizar", declarou.

Passos Coelho é um dos favoritos para suceder a Sócrates, que apresentou sua renúncia no dia 23 de março passado e administra os assuntos correntes até as eleições legislativas de 5 de junho.

A oposição se pronunciou após o primeiro-ministro demissionário de Portugal, José Sócrates, anunciar nesta quarta-feira que seu governo enviou um pedido de socorro financeiro à União Europeia (UE).

ENTREVISTA

Antes do anúncio de Sócrates, o ministro das Finanças de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, havia admitido que o país precisaria pedir ajuda financeira externa. As declarações foram dadas ao diário português "Jornal de Negócios".

Na entrevista, publicada nesta quarta-feira no site do jornal, Santos indica que o socorro financeiro deve vir da União Europeia, mas não entrou em detalhes sobre se o país vai recorrer ao fundo de resgate da crise criado pelo bloco.

"Perante esta difícil situação, que podia ter sido evitada, entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu", afirmou o ministro em uma entrevista enviada por escrito ao jornal.

Santos disse, ainda, que o seu país foi "irresponsavelmente empurrado para uma situação muito difícil nos mercados financeiros", em uma referência indireta à ação da oposição para derrubar o pacote de ajuste fiscal no Parlamento, em 23 de março.

O ministro admitiu que o leilão de títulos da dívida realizado nesta quarta-feira a juros recordes mostrar a "deterioração das condições dos mercados" nacionais depois da rejeição da proposta de ajuste.

"A procura externa [por títulos de Portugal] é bem menor e as taxas refletem o agravamento, sem precedentes, registado nas últimas semanas em virtude do aumento da incerteza que paira sobre o país", afirmou Santos. Ele acrescentou que 90% dos investidores que compraram os títulos nesta quarta-feira são portugueses.

Santos encerrou a entrevista garantindo que Portugal vai honrar seus compromissos financeiros, "tomando as iniciativas necessárias de modo a assegurar os meios indispensáveis".

Em 15 de abril, o governo português terá que pagar 4,2 bilhões de euros [R$ 9,7 bilhões] da dívida a vencer. Outros 4,9 bilhões de euros [R$ 11,3 bilhões] vencem em junho.

LEILÃO

O governo de Portugal promoveu nesta quarta-feira um novo leilão de títulos da dívida do governo de curto prazo. Os juros foram novamente recorde, o que aumenta as expectativas de que o país vai precisar de um socorro financeiro estrangeiro em breve.

No leilão, foram vendidos 1 bilhão de euros em títulos [R$ 2,3 bilhões]. Desse total, 560 milhões de euros [R$ 1,2 bilhão] são papéis com vencimento em outubro desde ano e os 450 milhões de euros [R$ 1,04 bilhão] restantes com vencimento em um ano.

As taxas de juros exigidas pelos investidores que compraram os títulos que são considerados de risco elevado foram recordes. Nos títulos com vencimento em seis meses, os juros são de 5,11% e nos com vencimento em um ano, de 5,9%.

Fonte: EFE – Folha.com