O dirigente sindical destaca as principais realizações da gestão 2009-2012

O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, fez um balanço positivo da gestão 2009-2012 que está encerrando o mandato no dia 13 de abril. Carlão, como é mais conhecido, apontou também alguns desafios para o próximo triênio, na perspectiva de avançar a história de lutas dos bancários e da classe trabalhadora.

O diagnóstico foi feito durante recente entrevista concedida para a imprensa da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A Contraf-CUT fez uma edição do material, destacando as principais questões focadas.

Carlão, que também preside a UNI Américas Finanças, traçou um paralelo entre a gestão de uma entidade sindical e a compra de um apartamento na planta. "Você assina o contrato e, em três anos, recebe um apartamento. No movimento sindical é parecido: nós recebemos os votos e, três anos depois, temos que apresentar o resultado das nossas ações", comparou.

Que conquistas foram alcançadas nos últimos três anos?Que "apartamento" está sendo entregue aos bancários ao final desta gestão da Contraf?

O principal neste "apartamento" que estamos entregando, acima de tudo, é a consolidação de uma direção coesa, que apostou no trabalho em equipe, e com olhar para todo o país. Hoje temos um número grande de diretores que visitaram a maioria dos sindicatos. Não foi uma Contraf presidencialista. Todos os sindicatos têm falado que um dos pontos fortes desta gestão é a participação dos dirigentes da Contraf em todos estados e das entidades em todos os espaços da Contraf.

Como aumentou essa participação?

Na mesa de negociação da Fenaban, por exemplo, temos sindicatos de vários estados do país. Houve também uma ampliação da participação nas comissões de empresa e nas comissões temáticas. Isto foi fundamental para as conquistas, como o aumento real de salário, a valorização do piso da categoria e avanços na igualdade de oportunidades – como a ampliação da licença maternidade e a inclusão do parceiro homoafetivo no plano de saúde.

Que outros avanços foram importantes?

Tivemos também avanços na segurança, por exemplo, com a obrigatoriedade dos bancos informarem semestralmente os dados sobre assaltos e ataques e, uma conquista do ano passado, a proibição do bancário transportar dinheiro. Houve avanços na saúde, com o programa de combate ao assédio moral, que prevê que os sindicatos recebam as denúncias dos bancários e encaminhem aos bancos, e que as entidades sejam informadas sobre o andamento da investigação das denúncias. Ainda na área da saúde, alcançamos outra vitória no ano passado, com o direito do bancário avaliar os exames periódicos, que são válidos como exames demissionais, e informar se foram feitos de forma adequada.

Na sua opinião, qual foi o grande avanço da campanha nacional de 2011?

O grande avanço que tivemos foi político. Diziam que nunca conseguiríamos aumento real porque isso contaminaria a inflação. Imagina: se os bancos não tivessem feito um acordo com aumento real, os demais setores jamais concederiam. Se com este lucro todo, o banco não der aumento real, quem é que vai dar? A grande conquista que tivemos no ano passado foi essa vitória política.

Que inovações foram marcantes na gestão?

Tivemos os Cadernos Contraf. A gente fala muito de igualdade de oportunidades nos bancos, mas precisamos exercitar a igualdade de oportunidades dentro dos sindicatos, das federações e da própria confederação. Começamos a fazer mais pesquisas, publicá-las nos Cadernos e cada dirigente sindical passou a receber um exemplar, etiquetado com seu nome. Esta é uma demonstração importante de que a Contraf faz pesquisas; que tem uma posição de diretoria e não mais de pessoas; e que socializa as informações e os documentos, para que os dirigentes possam ter instrumentos de negociação e mobilização.

Outra inovação foi a Pesquisa do Emprego Bancário, feita em parceria com o Dieese, que teve muita repercussão na sociedade, desnudando a política de rotatividade e a redução dos postos de trabalho nos bancos.

Nós começamos a fazer a pesquisa no início do mandato, a partir dos dados do Caged do Ministério do Trabalho e Emprego. Então, começamos a observar que a rotatividade acontece somente aqui no Brasil – nenhum outro país da América Latina ou da Europa tem a rotatividade perversa que nós temos aqui. Por isso dizemos que a rotatividade é como jabuticaba – só tem no Brasil. Isso nós descobrimos com a pesquisa. Em todos os setores da nossa economia há rotatividade, mas percebemos na pesquisa que, nos bancos, o salário médio dos novos contratados é 54 % menor que o daqueles que foram demitidos.

Por que os bancos usam e abusam da rotatividade?

Os bancos estão se utilizando desta rotatividade para baixar custos. Nós temos conquistado aumento real de salários, os bancos contratam, mas conseguem diminuir os custos de folha. E quando olhamos para outros setores da economia, a diferença entre os salários dos novos e dos dispensados fica em torno de 3 %. Este é um problema específico do setor bancário. A pesquisa apontou onde está o problema.

O que é preciso fazer para a rotatividade deixar de ser jabuticaba?

Quando nós desnudamos esta realidade, por um lado, colocamos os bancos numa situação difícil. Mas, acima de tudo, isso nos traz um desafio, que é descobrir que tipo de ação sindical – de negociação e de mobilização – temos que adotar para romper com essa violência que os bancos estão praticando. Foi depois destas pesquisas que, junto com a unidade e a força da mobilização, obtivemos avanços no BB e na Caixa e conseguimos, pela primeira vez, incluir nos acordos específicos destes bancos a contratação de mais trabalhadores. Foram 10 mil no BB, em dois anos, e mais 10 mil na Caixa. Isso foi fruto destas pesquisas. Eu não tenho dúvidas de que, se quisermos ter emprego e remuneração de qualidade, temos que continuar investindo em pesquisas e dialogando com os dirigentes para se apropriarem destas informações, buscando negociações que, de fato, possam resultar em avanços.

E a luta pelo emprego decente?

Nós ousamos na campanha nacional do ano passado quando colocamos no centro a questão do emprego decente, a partir da estratégia da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da CUT. Para garantir emprego decente, nós precisamos acabar com a rotatividade, conquistar estabilidade no emprego. Mais: temos de assegurar um emprego saudável, onde não haja pressão por metas abusivas e assédio moral, para acabar com o adoecimento no trabalho. Precisamos de emprego seguro, sem mortes em assaltos e com condições de segurança. E é necessário propiciar uma aposentadoria digna, sem fator previdenciário e com previdência complementar para todos os bancários.

O que você destaca na direção da Contraf-CUT nos últimos três anos?

Temos, de fato, uma direção formada por pessoas que priorizaram o seu tempo para serem dirigentes da Contraf-CUT. Não havia isto antes. Muitos diretores apenas davam o nome para compor a direção. Hoje temos um número grande de pessoas que estão lá no dia a dia e são dirigentes qualificados, que conseguem pensar e elaborar políticas, e também negociar. Mas isso não bastava, era preciso ter o convencimento dos sindicatos, que entenderam essa gestão e participaram muito mais.

Esse é o caminho para o movimento sindical?

O resultado de uma negociação coletiva é fruto de um processo, que é feito com a qualificação dos dirigentes, a unidade nacional, o convencimento dos sindicatos e, acima de tudo, a mobilização a partir dos sindicatos, na base da categoria. Não tenho dúvida: os sindicatos, hoje, estão dialogando muito mais com os bancários, ocupando os espaços na sociedade.

Qual é o segredo da negociação?

Antes, tínhamos boas informações, mas morríamos nas negociações porque os trabalhadores sequer sabiam que estávamos negociando alguns temas. Hoje temos os sindicatos participando da negociação, os bancários informados e mobilizados e conseguimos fazer o diálogo coma sociedade, o que é importante não só para termos o apoio da população, mas também para mostrar as mazelas que os bancos praticam. Assim, tivemos boa participação dos sindicatos, dos dirigentes da Contraf e também, muito boa, dos trabalhadores. E também, com uma exposição desses problemas na sociedade, conseguimos colocar os bancos numa situação difícil e avançamos.

A construção da unidade dos trabalhadores do sistema financeiro é uma prioridade?

A unidade foi uma marca nos últimos três anos. Antes, era comum haver calendários diferentes para negociações com a Fenaban, índices reivindicados diferentes, sindicatos que entravam e saiam da greve antes ou depois. Isto tudo enfraquecia muito o movimento. O esforço coordenado pela Contraf – e os sindicatos responderam de maneira positiva – foi a construção da unidade. Dialogamos, até, com sindicatos não cutistas, alguns até que estavam fora do Comando Nacional.

O esforço pela unidade envolveu também outras centrais sindicais?

Eu dialoguei com outras centrais e a Contec. Nos últimos dois anos, as duas confederações tiveram o mesmo índice e o mesmo calendário. Não tenho dúvidas de que os avanços que tivemos na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) são fruto de um grau muito maior de unidade dos sindicatos – cutistas e não cutistas – porque enxergaram na Contraf essa capacidade de coordenação e articulação do processo. Isso foi fundamental na mesa de negociação, os bancos perceberam que essa unidade estava muito forte. Por isso que, na greve do ano passado, a cada dia aumentava o número de agências paradas, porque nós tínhamos o controle do processo.

E a representação de todos os trabalhadores do ramo financeiro?

Nós queremos construir uma convenção coletiva para cada uma das categorias dentro do ramo financeiro. Hoje já temos uma só para bancários, uma só para financiários e acordo coletivo para cooperativários e também um para os trabalhadores do mercado de capitais, que são os funcionários da bolsa de valores e das corretoras. Queremos também fazer uma CCT para os securitários. Nós representamos todos estes trabalhadores, isto para nós é estratégico. Por isso vimos ampliando, ainda que a passos lentos, essa representação. Inclusive porque os trabalhadores estão enxergando neste modelo de negociação um grande espaço para valorizar suas CCTs. Esse é também um reconhecimento desta nossa política acertada.

E o próximo "apartamento", que deve ser prometido para ser entregue daqui a três anos?

Nós desenvolvemos um projeto de formação em que todo dirigente sindical tinha que ter acesso a uma formação básica. Saber da estrutura e da prática sindical bancária, quais os espaços de negociação, o papel de uma federação, de uma confederação, de uma central sindical. Quem vem para o sindicalismo tem que ter uma noção geral. Mas nem todo mundo que tem afinidade pelo mesmo tema.

Isso significa investir para qualificar o dirigente sindical?

Precisamos continuar com esse curso básico, mas também devemos fazer módulos de especialização sobre sistema financeiro, terceirização, negociação coletiva e saúde, dentre outros temas. Assim. daqui a três anos, poderíamos entregar um "apartamento" em que teríamos, por exemplo, 30 dirigentes especializados em 10 temas, o que representaria 300 especialistas no movimento. Hoje já temos dirigentes como o Miguel Pereira, que é especialista na área de terceirização e fala não só pela Contraf, mas também pela CUT Nacional. Temos o Plínio Pavão, que é especialista na área de saúde do trabalhador. Queremos pegar este modelo e, com nossa política de formação, dar condições para que os dirigentes de todo o país possam se especializar.

Por que a formação é tão importante?

Para que possamos transformar não só a realidade do bancário, mas a realidade da sociedade, porque pertencemos à classe dos trabalhadores. Devemos aproveitar este momento em que o Brasil é o sexto país mais rico do mundo para deixarmos de ser o 12º pior em distribuição de renda.

Qual deve ser o papel do movimento sindical para transformar a sociedade?

Não podemos ficar assistindo, mas sermos protagonistas e atores sociais. Precisamos nos mobilizar cada vez mais e disputar a hegemonia na sociedade. Para tanto, é fundamental debater as grandes reformas. Por exemplo, qual vai ser nosso posicionamento na reforma tributária, que vai discutir o papel do Estado? Qual vai ser nosso papel na reforma política, que vai discutir o Congresso que queremos. E, acima de tudo, na reforma do sistema financeiro, para discutir que banco e que sistema financeiro temos e o que queremos. Por isso, é importante que os dirigentes sindicais se especializem, para que os trabalhadores enxerguem no movimento sindical e nos sindicalistas as referências para uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais igualitária.

Fonte: Contraf-CUT

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