O presidente eleito da França, o socialista François Hollande, promete lançar reformas rapidamente, ao assumir no dia 15, incluindo uma vasta alteração no modelo dos bancos e a taxação adicional de 15% sobre o sistema financeiro.
Durante a campanha, Hollande apontou as finanças como seu verdadeiro adversário. No domingo, em plena comemoração pela vitória, na praça da Bastilha, em Paris, a socialista Ségolène Royal, sua ex-companheira e candidata derrotada à Presidência há cinco anos, avisou que os bancos davam as ordens, mas agora vão obedecer.
O plano Hollande é deflagrar uma reforma bancária para assegurar que os depósitos dos poupadores irriguem a economia real, e não atividades de trading. Ou seja, separar as atividades dos bancos para investimentos e empregos de suas operações ditas especulativas.
Diante de temores crescentes do setor, Hollande avisou que não quer impedir os bancos de varejo de possuir uma atividade de investimento. Mas o que visivelmente quer é, assim como a lei Volcker nos EUA, que eles sejam proibidos de especular por conta própria.
Como parece ser sua prática, Hollande criará primeiro um "grupo de trabalho" para inclusive compatibilizar o plano francês com o que a própria Comissão Europeia vem examinando.
Além da reforma bancária, o novo presidente se comprometeu durante a campanha a aumentar a taxação sobre os bancos em 15% e criar uma taxa sobre todas as transações financeiras. Também prometeu uma lei para limitar o preço das taxas cobradas pelos serviços bancários, para baixar os custos cobrados dos correntistas.
Além disso, com vistas à eleição legislativa dentro de cinco semanas, na qual tentará obter maioria para poder levar adiante seus planos, Hollande adotará tanto medidas simbólicas, como o corte de 30% em seu salário e de seus ministros, quanto congelamento no preço do combustível.
O novo presidente francês sinalizou numa entrevista duas soluções que apresentará à Alemanha para atenuar a política de austeridade imposta na Europa desde 2008. Primeiro, um acordo para criação dos eurobônus, o que Berlim até agora rejeitou. E segundo, autorizar o financiamento direto dos Estados pelo Banco Central Europeu (BCE).
Num debate durante a campanha, Hollande reclamou da incoerência de o BCE emprestar aos bancos com juros de 1%, e os bancos em seguida comprarem títulos soberanos por cerca de 5%. Ou seja, agora a ideia é que os Estados tenham acesso direto ao BCE, algo que a Alemanha também rejeita.
Ontem, as bolsas reagiram bem à vitória socialista. Em Paris, o índice CAC-40 subiu 1,65%. Apesar do discurso contra os bancos, a percepção de investidores é que Hollande colocará mais foco no crescimento, o que pode ser positivo para a economia em geral.
Fonte: Valor Econômico