Os transtornos mentais relacionados ao trabalho são reconhecidos pelo Ministério da Previdência e pelo Ministério da Saúde. No entanto, não raramente o Sindicato dos Bancários de São Paulo recebe denúncias das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores com transtornos mentais causadas pelo trabalho e que não são reconhecidas por peritos médicos ou pelo médico do trabalho.

Durante a 4ª tarde de aula em Saúde do Trabalhador, realizada na terça-feira, dia 30, na sede do Sindicato, e organizada pela secretaria de Saúde do Sindicato, a palestrante Edith Seligmann, médica psiquiatra e autoridade sobre saúde mental do trabalhador, afirmou diante dos convidados do encontro, que "é incrível como eles (peritos e médicos dos bancos) não reconhecem estes transtornos".

Edith participou de um grupo de trabalho, ao lado de outros profissionais da saúde, sobre as diretrizes encaminhadas ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) sobre saúde mental. "Os médicos peritos não são preparados para seguir essas diretrizes. Deveria haver em cada agência do INSS um psiquiatra para avaliar este tipo de problema dos trabalhadores", completa a médica.

Edith também falou sobre a associação das metas abusivas à saúde do bancário. "Cada vez mais não se separa a justa remuneração da questão da saúde", disse, ressaltando que a questão salarial está claramente ligada à saúde do trabalhador. "Ser reconhecido por meio do salário é importante para manter a qualidade de vida, a educação, e não ter tensão e tanta preocupação."

Consulta

Para os bancários, a saúde é tema central. Quase seis mil trabalhadores responderam à consulta feita pelo Sindicato para começar a definir as prioridades para 2009 e para 69% desses trabalhadores é prioridade discutir as metas abusivas. O assédio moral, muitas vezes conseqüência dessa pressão por metas, é centro do debate para 67% dos bancários.

Para Edith Seligmann as instituições financeiras utilizam "mecanismos de sedução" para obrigar o funcionário a atingir as metas. "Formas de captar a alma (do trabalhador) se tornam mais sofisticadas por meio de técnicas administrativas para dominar e ultrapassar limites da ética, como a sinceridade", explicou, referindo-se à obrigação do trabalhador vender produtos que ele mesmo sabe que não têm qualidade.

Sofrimento moral

Durante a tarde de aula, o relato de injustiças dado por uma bancária do Santander emocionou os participantes. Funcionária do banco por dez anos, após contrair LER/Dort a bancária foi "jogada de escanteio" na agência onde era gerente. "A força política e econômica dos bancos gera a dominação e a perda da saúde. Esse conjunto de fatores transforma-se em sofrimento moral, que funciona como uma corrosão para o ser humano", reforçou Edith, que também disse que "a cobiça das grandes entidades financeiras e a crença de acumular tanto dinheiro alimenta a prática da irresponsabilidade com os trabalhadores destas próprias empresas".

Fonte: Seeb São Paulo