Fila quilométrica. Espera. O Hangar do Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, com capacidade para 8 mil pessoas, ficou lotado na quinta-feira, 29, com gente de várias partes do mundo. Os índios, na primeira fila. No auditório, africanos, europeus, latinos, estudantes, professores, trabalhadores. Todos os continentes estavam representados. Roupas, posturas, línguas, rostos, cores, expressões que, muito mais do que as palavras de ordem e bandeiras, indicavam as várias causas em pauta nas tendas do Fórum Social Mundial, na busca por mudanças.
Outros milhares acompanharam, do lado de fora, o que significava um momento histórico: cinco presidentes latino-americanos prestigiando um fórum que discute alternativas ao capitalismo na construção de um mundo muito mais do que possível, urgente, imprescindível, como disseram os presidente Lula e o venezuelano Hugo Chavez. Palavras muitas vezes difíceis de imaginar para quem está preso ao dia-a-dia, à correria do trabalho para casa, bater metas, pagar contas… No FSM, as pessoas realmente acreditam em um outro mundo possível, aqui, não do além. E para isso viajam milhares de quilômetros para discutir, interagir, mostrar suas propostas.
Todos os presidentes foram taxativos em dizer: quem poderia imaginar que esse fato fosse possível, cinco presidentes de esquerda na América Latina, entre eles um metalúrgico e um índio à frente de seus países. "Guardem essa foto, porque há 10 anos ninguém poderia imaginar que isso seria possível", disse o presidente Lula. Rafael Correa, do Equador, fez coro: "É a primeira vez que cinco presidentes participam do Fórum Social Mundial. A América Latina está visando uma mudança, governos começam a pensar diferente. Quem diria que um índio e um trabalhador, presidentes progressistas de esquerda, comprometidos, pudessem chegar ao poder".
Unidade na América Latina – A integração da América Latina também foi um tema recorrente defendido pelos presidentes. Evo Morales, da Bolívia, destacou: "Temos de nos unir na América Latina. Consolidar uma relação de respeito e não de conspiração, como tentava Bush. O mundo está sendo sacudido por várias crises financeiras, energéticas, alimentar e institucional. Tudo parte da crise do sistema capitalista. Se não sepultarmos o capitalismo, o capitalismo sepultará o planeta terra".
Morales defendeu a realização de campanhas mundiais pela paz, justiça – levar os genocidas aos tribunais de Justiça -, para salvar o planeta, pela dignidade e contra o consumo capitalista.
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, falou da importância da integração entre os países da AL. "A América Latina deve construir uma presença firme nos mercados internacionais. E ser um continente decente onde as pessoas possam viver decentemente. O primeiro passo da integração é o Mercosul, que funcione melhor e que não repita os velhos modelos do Primeiro Mundo. Se a América Latina se unir, terá consciência de sua capacidade."
Movimentos sociais – Os presidentes também afirmaram que as mudanças só serão efetivas com participação e o apoio dos movimentos sociais. Para eles é o momento de construir uma nova política com desenvolvimento sustentável. "Esse Fórum é um encontro da humanidade. A cada ano o FSM se torna mais importante. Começou a fomentar as mudanças na América Latina", disse o presidente da Venezuela, Hugo Chavez. "Nosso continente foi um laboratório onde o capitalismo aplicou sua receita mais forte do que em outro local do mundo. Perversa, veneno neoliberal. Os movimentos sociais é que começaram a mudar o planeta. Outro mundo é necessário e está nascendo. Aqui na América Latina, está ocorrendo uma revolução.
Desemprego e fome são crescentes por causa do capitalismo. Temos que nos unir para sair dessa crise." Chavez foi acompanhado por Lula. "A crise é uma oportunidade de construir algo diferente, com política de transferência de renda. Temos uma chance extraordinária. A crise não começou em nossos países. O Estado tem de investir, é a hora de investir."
Fonte: Elisângela Cordeiro, do Seeb São Paulo