Economista do Dieese explica que queda de 0,5% é pequena e para que economia possa se recuperar é preciso redução maior. “Efeitos com essa queda só serão sentidos a muito longo prazo”, diz Vivian Machado
Mais de um ano depois de a taxa de juros básica da economia, a Selic, permanecer em 13,75% ao ano, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), finalmente baixou o índice em 0,5% ponto percentual. A queda para 13,25%, porém, ainda é insuficiente para que a economia possa definitivamente decolar.
Para que a economia do país, que já apresenta resultados positivos em termos de recuperação com queda da inflação e elevação do Produto Interno Bruto (PIB), possa se recuperar efetivamente, “vai depender da atuação do Banco Central nas próximas reuniões do Copom”, diz a economista Vivian Machado, da Subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
“A redução indica o começo de um caminho, mas para que a economia e os brasileiros realmente possam respirar aliviados, pagar menos juros nas compras e para que as empresas possam também respirar e fazer mais investimentos que gerarão emprego e renda, seria necessária uma redução maior da Selic para que os efeitos na economia fossem sentidos em menor tempo”, diz Vivian.
Outros economistas apontam também que ainda que esteja longe de patamares razoáveis. Os professores Ladislau Dowbor, da PUC, e Marcelo Manzano, da Unicamp, avaliam que a taxa deveria estar entre 3% e 5%.
Impactos da queda
Com a decisão do Copom, nesta quarta-feira (2), algumas operações financeiras poderão ter juros um pouco menores. No entanto, o impacto direto no bolso do trabalhador não deverá ser sentido de forma acentuada em curto prazo.
Vivian Machado afirma que com uma redução mínima de juros, como aconteceu, os brasileiros ainda continuarão pagando juros altos nas operações financeiras. O impacto é sentido somente a “muito longo prazo”.
Para os trabalhadores, a alta taxa de juros impacta diretamente no crediário de lojas e demais empréstimos e financiamentos em instituições financeiras, como empréstimos pessoais, financiamentos de veículos, casa própria e, nas lojas, nas compras parceladas de eletrodomésticos, por exemplo.
Nos bancos, a taxa menor, em 13,25%, pouco afetará, por exemplo, os juros do cartão crédito e do cheque especial. Principal motivo do endividamento dos brasileiros, o rotativo do cartão de crédito pratica, em média, juros de mais de 450% ao ano. Se os bancos baixarem as taxas praticadas em outras linhas de crédito, a redução também será insuficiente para os efeitos sentidos de forma mais imediata.
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A própria Caixa Federal, que baixou os juros do consignado, exemplificou que, na modalidade, em um contrato de R$ 10 mil, somente após 84 parcelas, o cliente economizaria o equivalente a uma parcela.
Com a redução da Selic, o crédito consignado para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) oferecidos pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal terão redução nas taxas. O anúncio foi feito pelas instituições nesta quinta-feira (3).
A Caixa informou que os juros cairão de 1,74% para 1,70% ao mês. No Banco do Brasil passarão de 1,81% par 1,77% ao mês na faixa mínima, e de 1,95% para 1,89% na faixa máxima.
Sobre as demais instituições, Vivian Machado afirma que “os bancos privados vão aguardar o BC cumprir a palavra de que seguirá nesse caminho mesmo e aí vão começar a ceder nos juros”.
“Os bancos precisam se mexer na mesma direção para ter impacto de verdade na economia. Isso vai levar um tempo. Talvez só lá para o começo do ano que vem”, diz Vivian se referindo à redução das taxas nas instituições privadas.
Além disso, ela cita outro fator que pode contribuir futuramente para tais quedas: o desempenho do programa Desenrola do governo federal que tem por objetivos possibilitar renegociação de dívidas. “Se conseguirem reduzir a inadimplência talvez vejamos os impactos um pouco mais rápido”, diz a economista.
Posicionamento
Para a CUT, a redução de apenas meio ponto percentual na Selic significa “a manutenção de uma estratégia do presidente do Banco Central para dificultar o projeto de reconstrução do Brasil com melhores condições de vida para a classe trabalhadora”.
Em nota, a Central expressou repúdio à redução de apenas 0,5% da taxa Selic e à projeção de especuladores e rentistas de uma redução lenta e gradual que chegue a 9% apenas em janeiro de 2025.
A CUT reforça que a taxa Selic já deveria ter despencado, o que favoreceria a redução das taxas de juros e a ampliação da oferta de crédito a taxas reduzidas, fatores essenciais para um crescimento mais vigoroso da economia e para a melhoria da qualidade de vida de trabalhadoras e de trabalhadores, já que houve melhorias em todos os indicadores econômicos dos últimos meses, durante o governo Lula.
Leia a nota da CUT: A reconstrução do Brasil exige uma forte redução da taxa Selic