– Quem tem que se defender dessa porcaria do câmbio é o Brasil. Não podemos esperar sentados o G20, G21, G23, G24 organizarem a ordem cambial. O que existe é uma desordem internacional – afirmou a economista, professora de uma geração de economistas brasileiros, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça-feira.
– Não creio que vai ter acordo (no G20). Estou cética porque os EUA e a China, que pertencem ao G-20, vetam (uma solução multilateral para o câmbio) – disse, acrescentando que ligará para Lula e Dilma assim que eles retornaram de Seul para saber deles o que aconteceu de fato no encontro.
Conceição explicou que esses dois países estão se "lixando" e querem que os outros paguem a conta, citando como exemplo a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de jogar US$ 600 bilhões no mercado, enfraquecendo ainda mais o dólar.
A China, disse, também não tem interesse em ajudar a solucionar o problema, porque isso implicaria em fazer ajustes e poderia jogar na miséria milhões de pessoas (100 milhões de trabalhadores retornariam ao campo). Mudanças abruptas no câmbio alteram as relações de preços interna – incluindo os salários.
– Não há a menor hipótese de a China desistir de crescer nos próximos dez anos – afirmou a economista.
Destacou, ainda, que a questão do câmbio é o principal desafio de Dilma Rousseff. Segundo ela, o problema já afeta a balança comercial brasileira: a taxa de alta das importações de bens de capital, automóveis e eletreletrônicos já supera o crescimento da produção nestes setores.
– Isso pode desindustrializar o país em setores importantes – alertou Conceição.
Para o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), além da balança comercial, o dólar baixo impacta também as reservas internacionais. Ele defende medidas gradativas como novos aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre capital estrangeiro em títulos de renda fixa. Ele lembrou que as importações ajudam a controlar a inflação por isso uma mudança brusca no câmbio brasileiro não seria aconselhável.
– Não adianta resolver o problema do câmbio e a inflação subir, o que obrigaria aumentar os juros.