O mundo dos bancos de investimento no Brasil viveu uma reviravolta em 2009, com o Santander ganhando destaque e se posicionando entre os já mais tradicionais primeiros colocados Credit Suisse e Pactual (ex-UBS Pactual e hoje BTG Pactual).
Os critérios são distintos nos mais diferentes rankings. Mas, independentemente da fonte escolhida, o banco de capital espanhol galgou posições na assessoria às fusões e aquisições de empresas e também no mercado de emissão pública de ações, duas das atividades mais rentáveis para os bancos de investimento.
No mercado de emissão pública de ações, o Santander subiu nos ranking ao participar da sua própria abertura de capital e também da oferta da VisaNet (agora Cielo), empresa da qual também é acionista. Foram justamente as duas maiores operações no mercado de ações em 2009, o que levou alguns concorrentes do banco espanhol a reclamar do "gol de mão".
Segundo ranking elaborado pelo Valor com base nos registros públicos das emissões, e considerando-se divisão igual pelos principais coordenadores do total pago pelas empresas, o Santander foi também o banco que mais ganhou comissões com emissão de ações em 2009: um total de R$ 207,2 milhões.
Se somadas as transações do UBS Pactual às feitas pela BTG Pactual, como fez a "Dealogic", o Pactual foi o grande líder de emissões de ações no ano passado: esteve em VisaNet, Santander e Brazil Foods. Realizou um total de US$ 4,578 bilhões, ficando com 18,2% do mercado.
A "Bloomberg" e a "Thomson Reuters", no entanto, não fizeram essa consolidação, e quem aparece em primeiro lugar no ranking é o Santander, com US$ 4,36 bilhões, com 17,1% do mercado. O segundo lugar ficou com o Credit Suisse, com US$ 3,954 bilhões, ou aproximadamente 15,5% do mercado de emissões de ações.
No ranking da "Thomson Reuters" de 2008, o líder em emissão de ações havia sido o Itaú BBA seguido do CS e do JP Morgan. O Santander era o nono colocado.
Segundo o estudo feito pelo Valor, o total de comissões ganhas pelos bancos de investimento com emissão de ações no Brasil somou R$ 1,15 bilhão em 2009, alta de 56% sobre 2008, mas ainda inferior aos R$ 2,53 bilhões arrecadados em 2007, com o mercado mais forte e ativo.
O total emitido foi de US$ 25,5 bilhões, segundo a "Thomson Reuters", um aumento de 22% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para este ano, o movimento deverá continuar firme e forte, segundo Guilherme Paes, responsável pelo banco de investimento do brasileiro BTG Pactual. Ele acredita que o maior risco para este cenário ainda bem favorável seria uma alta de juros nos Estados Unidos. As eleições presidenciais brasileiras, afirma, devem trazer volatilidade ao mercado. De olho nas comissões de 2010, Paes e outros banqueiros têm sugerido aos clientes que emitam ações o quanto antes.
José Olympio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Credit Suisse, acredita que o mercado deverá continuar concentrado nas melhores histórias e nas transações de valores maiores, principalmente no que diz respeito às emissões públicas iniciais de ações (IPOs). Foi o que aconteceu em 2009, na reabertura do mercado após a mais grave crise financeira dos últimos 50 anos. Ele lembra que mais de 50% dos US$ 13,5 bilhões obtidos com IPOs em 2009 vieram de uma única transação, a realizada pelo Santander.
Outra característica do mercado de ações no ano passado foi a participação de mais bancos em apenas uma transação. Enquanto em 2005, 2006, 2007 e 2008 a ampla maioria – entre 70% e 95% dos volumes emitidos – era feita por apenas dois bancos, em 2009 isso mudou: 83,33% do volume captado contou com a participação de três bancos ou mais.
Segundo estudo do Valor, o BTG Pactual ganhou R$ 132,8 milhões em comissões na assessoria à emissão de ações das empresas em 2009 e o Credit Suisse, um valor próximo, de R$ 132,765 milhões. O Bradesco BBI teria conseguido mais do que os dois líderes tradicionais: R$ 145,5 milhões.
Já o total de fusões e aquisições caiu no ano passado na comparação com 2008, do recorde histórico de US$ 94,7 bilhões para US$ 72,5 bilhões no ano passado, um tombo de 23% no período, segundo a "Thomson Reuters".
"Em 2008, tivemos a fusão Bovespa BM&F, Itaú Unibanco e Oi e Brasil Telecom, o que distorceu os números", lembra Pereira, do Credit Suisse, o líder desse mercado pelo ranking da "Thomson Reuters" pelo quarto ano consecutivo. No ano passado, de acordo com Pereira, outras importantes consolidações ocorreram, como a feita entre a Sadia e a Perdigão e entre a Bertin e a JBS. Mas os valores já foram menores.
Também em fusões e aquisições anunciadas o Santander deu um salto, quaisquer que sejam os critérios adotados. No ranking da "Thomson Reuters", passou da décima segunda colocação para a segunda, ao participar de um total US$ 17,4 bilhões, ficando com 24% do mercado, na comparação com os US$ 19,5 bilhões do primeiro colocado Credit Suisse. Pelos rankings da "Bloomberg", no entanto, o Santander ficou em primeiro lugar em fusões em 2009.
João Teixeira, vice-presidente de corporate do Santander Brasil, não descarta valores menores no mercado de fusões e aquisições neste ano na comparação com 2009, mas acredita que o número de negócios certamente vai crescer, em relação aos 497 realizados no ano passado, segundo a "Thomson Reuters".
Ele vê mais empresas brasileiras comprando outras lá fora, multinacionais com interesse crescente em investir no Brasil e ainda muito espaço para consolidação. Para Teixeira, o mercado de emissão de ações também continuará ativo, com transações inovadoras vindo ao mercado.
Fonte: Valor Econômico / Cristiane Perini Lucchesi e Fernando Torres, de São Paulo