Até o começo do segundo mandato, os opositores do presidente Lula diziam que a economia brasileira crescia e distribuía renda de maneira jamais vista porque o petista tinha a "sorte" de não ter enfrentado nenhuma turbulência internacional. Agora, em meio à maior crise dos últimos 80 anos, cujo epicentro é o coração do sistema financeiro mundial, o Brasil tem se saído bem e é um dos países menos afetados.

Para quem acha que o Brasil sairia bem dessa fase com Lula ou com qualquer outro presidente, a Folha de S.Paulo veiculou na quarta, dia 1º, uma entrevista reveladora com Fernando Henrique Cardoso. Nela, o tucano critica as ações do petista durante a crise e diz que o governo pode estar exagerando na distribuição de subsídios.

Ele defende um corte de gastos em plena crise. "Uma hora terá que ser contido esse processo de expansão", disse. A entrevista de FHC deixa claro que o tucano teria tomado outras atitudes no comando da nação na crise internacional. Sua receita inclui cortes de gastos e arrocho fiscal.

Para o jornalista e economista Luis Nassif, todas as medidas do governo FHC nas crises que enfrentou eram no sentido de preservar os ganhos dos investidores.

"Ajuste cambial significaria impor perdas a quem trouxe dólares, mas previne de maneira definitiva futuras crises. Com as contas externas em ordem, não haveria obstáculos ao crescimento da economia. Para não penalizar os investidores, não se permitia o ajuste no câmbio. Não havendo, o ajuste nas contas externas só se podia dar via recessão. Aí, toca aumentar o arrocho fiscal (para reduzir o déficit comercial) e as taxas de juros (para manter o fluxo de investimentos externos). O especulador ganhava nas duas pontas. O país perdia em ambas", escreveu Nassif em seu blog.

Outro modelo

Em vez de proteger os investidores, como fez FHC, Lula procurou criar salvaguardas para que os trabalhadores e a população mais carente não sentisse os efeitos perversos da crise. Não é a toa que mesmo com a turbulência internacional, os mais pobres não pararam de subir na escala social e a classe média brasileira continuou a crescer, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas.

Com esse desempenho, o Brasil se destacou na crise, foi um dos menos afetados e agora tem servido de exemplo até para as nações mais ricas do mundo. Ao contrário dos tempos de Fernando Henrique, em que qualquer turbulência em qualquer país pequeno afetava drasticamente o Brasil.

"As quatro ou cinco crises que sacudiram o país no seu governo (de FHC) não são álibi, são agravantes. Eram crises nas contas externas. Após a primeira crise, o país deveria ter sido preparado para evitar as seguintes. Mas, em todas elas, recorria apenas ao receituário fiscal, jamais à solução das contas externas", afirmou Nassif.

Exemplo

Um dos principais exemplos da diferença de atuação entre FHC e Lula diz respeito aos bancos públicos. Os principais analistas da economia mundial dizem que o Brasil tem conseguido uma certa blindagem nessa crise porque os bancos públicos irrigaram o país com crédito, baratearam os juros e derrubaram os spreads bancários.

Em vez de utilizar essa importante ferramenta para reforçar a política econômica do Brasil, FHC desvalorizou os bancos públicos e ainda tentou privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Fonte: Seeb São Paulo, Blog do Nassif e Folha de S.Paulo