A melhora do cenário econômico no segundo semestre poderá amenizar os efeitos do desemprego verificado nos seis primeiros meses do ano. A avaliação foi feita pelo economista Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao relacionar os efeitos da crise no mercado de trabalho, com base em dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro a maio.

No período, a quantidade de desempregados nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, Salvador e Recife, aumentou 29,9% em relação aos cinco primeiros meses do ano passado (466 mil trabalhadores). De março a maio, do total de 255 mil pessoas que tornaram-se economicamente ativas, apenas 95 mil (37,2%) conseguiram ocupação.

Segundo Márcio Pochmann, a recuperação econômica esperada, a partir de junho, poderá expandir a capacidade produtiva e criar a necessidade de mais contratação de mão de obra. "Ampliando a produção, vai ocupando o equipamento existente e fazendo com que mais pessoas sejam chamadas a trabalhar." Ele acredita que o quadro de recessão iniciado em outubro do ano passado foi superado depois de março.

Para o economista, o salto da quantidade e da qualidade dos empregos depende de investimentos que poderão aumentar com a diminuição da taxa Selic. "A redução dos juros diminui o pagamento do serviço da dívida para o governo e estimula o setor empresarial, que tinha recursos represados no setor financeiro, a investir no setor produtivo em busca de retornos maiores".

A expectativa do presidente do Ipea é que, a partir de junho, se observe a recuperação dos postos de trabalho, inclusive para as pessoas mais atingidas com o desemprego, de janeiro a maio: trabalhadores com mais de 55 anos e mais qualificados.

De acordo com Pochmann, ocorreu no período um "ajuste" no interior do mercado de trabalho. "De um lado, estamos assistindo aumento da rotatividade do emprego. Pessoas com mais idade, e geralmente com melhor remuneração, terminam sendo trocados por pessoas mais novas que têm remuneração menor."

"A rotatividade torna as pessoas com mais idade mais fragilizadas em um ambiente de baixo dinamismo econômico e maior desemprego", disse o presidente do Ipea. "Aqueles trabalhadores com mais idade geralmente chefiam uma família. É difícil, portanto, ficar sem uma renda. Nesse sentido, a perda de trabalho vem acompanhada do exercício de alguma atividade, uma estratégia de sobrevivência para superar essa situação."

A crise também fez retrair 61 mil postos de trabalho informal. Segundo Pochmann, os trabalhadores não registrados sofreram mais com o encolhimento da renda familiar disponível. "A redução da informalidade não tem a ver com o fato das pessoas estarem migrando para o mercado formal, mas ao corte dos postos de trabalho relacionados à disponibilidade de renda", analisou.

Fonte: Gilberto Costa – Âgência Brasil

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