A Organização das Nações Unidas divulgou no final de outubro o documento As Mulheres do Mundo 2010: Tendências e Estatísticas. O relatório contém dados recentes sobre os progressos alcançados pelas mulheres de todo o mundo em oito áreas: população, família, saúde, educação, trabalho, poder e tomada de decisões, violência contra as mulheres, meio ambiente e pobreza.

O estudo aponta que a população mundial triplicou entre 1950 e 2010, sendo que existem cerca de 57 milhões de homens a mais que mulheres. O predomínio do número de homens sobre as mulheres é mais evidente em países mais populosos, como a China, onde a proporção é de 108 homens para cada 100 mulheres. O Brasil foge à regra e tem cerca de 97 homens para cada 100 mulheres.

Saúde

Os dados do relatório apontam que as mulheres geralmente morrem mais de doenças cardiovasculares do que os homens. O documento aponta que tais doenças foram responsáveis por 37% das mortes de mulheres em 2009, contra apenas 27% dos óbitos masculinos.

Na América do Sul, em 1996, cerca de 79% das mulheres grávidas tinham acesso ao pré-natal. Esse índice subiu, entre 2000 e 2008, para 91% das mulheres. No entanto, o ano de 2005 apresentou o número recorde de 270 mil mortes maternas.

Em relação à expectativa de vida, as mulheres vivem mais que os homens em todo o mundo. A média da expectativa de vida para as mulheres em países desenvolvidos é de cerca de 83 anos, enquanto a dos homens é de 78 anos. De 1950 a 2005 a expectativa de vida das mulheres passou de 48 para 71 anos na média mundial. O câncer de mama é a doença que mais aumentou entre as mulheres.

No uso de tabaco e álcool, os homens são os campeões de consumo em todos os países do mundo. No Brasil, mais de 40% das mulheres entre 18 e 29 anos dizem beber freqüentemente. O país de maior consumo feminino de bebidas alcoólicas na América do Sul é a Argentina, onde 90% das mulheres entre 18 e 29 anos dizem consumir bebidas alcoólicas freqüentemente.

O uso de contraceptivo na América Latina é próximo da média dos países mais desenvolvidos: 72% das mulheres utilizam algum método, contra 28% na África, porcentual que o estudo define como "notavelmente baixo".

Educação

Dois terços da população mundial que é analfabeta são mulheres, o que representa cerca de 516 milhões de mulheres. Do total de 72 milhões de crianças em idade escolar fora das salas de aula, 39 milhões (54%) são meninas. A taxa de analfabetismo feminino no Brasil chega a 20% do total das mulheres, desempenho abaixo de Colômbia, China e Peru.

O acesso ao ensino superior é um "fenômeno mundial", mas há disparidades nas áreas entre os gêneros. As mulheres são pouco representadas em áreas tradicionalmente masculinas, como as engenharias, mas permanecem predominantes em áreas como educação, saúde e bem-estar, ciências sociais e artes. Quando as mulheres atuam como professoras, por exemplo, a situação é inversa a dos homens. No Brasil, professoras do ensino primário representam quase 95% dos profissionais. No secundário, 68% e no ensino superior, menos de 50%.

Trabalho

No mercado de trabalho, a análise do documento da ONU é a de que a participação delas aumentou (é de cerca de 52%) e a disparidade entre gêneros diminuiu, com exceção dos primeiros anos de trabalho. O setor de serviços é o que mais as emprega na América do Sul (78% dos postos) e o trabalho em um só período aumentou em todos os países e para ambos os sexos. No entanto, o trabalho informal atinge um grande índice de mulheres brasileiras: segundo o estudo, 52% não trabalham formalmente.

Apesar dos avanços pontuados pela ONU em relação à participação no mercado, grande parte das mulheres no mundo ainda enfrenta uma segunda jornada de trabalho dentro de casa em todos os países. De maneira geral, o número de horas dedicadas por elas para as tarefas domésticas é maior do que entre os homens. A América Latina é a região onde as mulheres gastam mais tempo cuidando da casa, quase seis horas por dia, contra pouco mais de 2 horas entre homens.

Violência

A violência doméstica contra a mulher é outro ponto destacado no estudo como um "fenômeno universal". Entre 1995 e 2006, quase 30% das mulheres brasileiras disseram ter sofrido violência do próprio parceiro. Os índices variam entre os paises: o percentual de mulheres que sofreu algum tipo de violência pelo menos uma vez na vida é de 12% em Hong Kong (China), de 13% no Azerbaijão, de 51% na República Tcheca e de 59% na Zâmbia. O documento relata que em 33 países – dentre eles a Bolívia, Armênia, Nicarágua, o Egito e Uganda, onde foi possível levantar os dados – as mulheres consideram apropriado ser espancadas ou agredidas pelo marido.

Poder e tomada de decisões

Nos últimos 15 anos, a participação das mulheres como chefes de Estado ou de governo não mostrou aumento expressivo: em 1995 havia 12 mulheres nessa posição e em 2009 o número passou para 14. Nesse período, exemplos notáveis incluem a eleição de mulheres para governos ou chefes de Estado na Islândia (Jóhanna Sigurðardóttir) em 2009, no Haiti (Michele Pierre-Louis) e na República da Moldávia em 2008, na Argentina (Cristina Kirchner), Índia (Pratibha Patil) e Ucrânia (Yulia Timoshenko) em 2007, no Chile (Michelle Bachelet) em 2006 e na Alemanha (Angela Merkel) e na Libéria (Ellen Johnson Sirleaf) em 2005.

Em relação aos Parlamentos, embora as mulheres constituam cerca da metade do eleitorado e tenham conquistado o direito de votar e ocupar cargos em quase todos os países do mundo, elas também continuam sendo sub-representadas nos parlamentos nacionais. Nos últimos anos, houve uma melhora lenta e constante na representação das mulheres nos parlamentos nacionais em todo o mundo. Em 1995, as mulheres ocupavam uma média de 10% das cadeiras das câmaras — este valor aumentou para 17% até abril de 2009. No Brasil, após as eleições de 2010, as mulheres ocupam 8,77% das cadeiras da Câmara Federal.

Fonte: Observatório de Gênero

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