São Paulo – A revista britânica The Economist publicou reportagem na última quinta-feira, dia 5, destacando a importância dos bancos públicos no Brasil para o enfrentamento da crise. Desde o início dos anos de 1990, quando começou a onda de privatizações no país e o consenso de Washington pregava o estado mínimo, o Sindicato dos bancários de São Paulo, Osasco e região (Seeb/SP) já defendia o fortalecimento dos bancos públicos e lutava contra as privatizações. Agora, no auge da maior crise financeira mundial dos últimos 80 anos, os mesmos organismos que defendiam a venda de estatais, dão razão aos argumentos do Sindicato dos bancários de São Paulo.

Segundo a revista, fatores que já foram vistos como "lamentáveis" na economia do Brasil, como a influência excessiva do governo no setor financeiro, "de repente parecem sinais de prudência, e têm dado uma coloração pouco comum à crise" no país, diz a reportagem. A revista cita entre os fatores "lamentáveis" o controle estatal do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do BNDES. "Outros países estão tentando descobrir como conduzir bancos e dirigir crédito para onde os políticos pensam ser necessário. Isso é algo que o Brasil já fazia mesmo quando era inadequado", diz a revista.

Recentemente, o banco Goldman Sachs declarou que o envolvimento estatal no setor bancário brasileiro é um ponto positivo no enfrentamento da crise. No mês passado, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os trinta países mais ricos, elogiou a situação do Brasil na crise e destacou que a ação dos bancos públicos para irrigar empresas com empréstimos, aliada à presença modesta de bancos estrangeiros, impede que a crise de crédito se alastre no país.

A reportagem desta quinta da The Economist diz que "quanto aos bancos privados, as enormes exigências de reservas e os altos custos dos empréstimos os desencorajaram a tomar parte nos riscos selvagens que derrubaram alguns de seus pares na Europa e nos Estados Unidos. Até o momento, o crédito no Brasil foi levemente corroído, não esmagado".

A estatização de bancos também está no centro das discussões nos EUA para salvar instituições como Citigroup e Bank of America. No caso do Citi, o Departamento do Tesouro vai converter até US$ 25,7 bilhões de suas ações preferenciais (sem direito a voto) do conglomerado financeiro americano Citigroup em ações ordinárias (com direito a voto). Com isso, a participação do governo na instituição passará a 36%.

Diferente do passado – A revista britânica diz ainda que, na comparação com o passado recente do país, a economia está em boa forma. A reportagem destaca que o Brasil será um dos poucos países em que a economia deve crescer este ano. "Dada a tendência do Brasil a ter problemas cardíacos sempre que economias de outros lugares ficavam sob pressão, isso é impressionante", diz o texto.

O presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, ressalta que desde o início dos anos de 1990 governos neoliberais têm privatizado bancos e outras estatais e o movimento sindical cutista tem reagido. "Éramos taxados de esquerdistas e de carregarmos uma visão antiquada de Estado. Agora que o capitalismo entrou numa de suas piores crises, os próprios baluartes desse sistema confessam que estávamos com a razão. Perdemos o Banespa e quase todos os outros bancos estaduais, mas conseguimos manter o Banco do Brasil e a Caixa Federal com muita luta, porque o governo de Fernando Henrique Cardoso e o PSDB já estavam preparando as duas instituições para a privatização. Conseguimos impedir e agora é esse fato que está ajudando o Brasil a superar a crise", destaca Marcolino.

Fonte: Fábio Jammal, Seeb/SP, com The Economist