Franco, hoje escritor e à frente da banca de investimentos Rio Bravo, foi aquele que vendia reservas nacionais em dólar aos borbotões, nos idos de 1999, para segurar a paridade do câmbio. Foram bilhões em moeda americana trocados às pressas para, ao final das operações, o regime de câmbio fixo ser quebrado e ninguém sentir saudades de seus efeitos econômicos. Bem ao contrário, o fim do regime cambial defendido por Franco foi saudado como a quebra de um grilhão na economia.
Armínio Fraga, aparentemente o mais sofisticado entre os três luminares, assumiu o BC em 1999 e adotou, como remédio para as finanças nacionais, logo em seu primeiro movimento de timão, a elevação dos juros a 45% ao ano. Ele se recorda, agora, de ter encerrado sua gestão com uma inflação de 9% ao ano e o crescimento na faixa do 1%.
Nesta semana, com a diferença de poucos dias entre suas manifestações, Maílson, Gustavo e Armínio vestiram seus chapéus de comentaristas de economia. Eles gostam de dar seus pitacos. O mais regular é o ex-ministro da Fazenda, mas os dois ex-BC igualmente se posicionam com frequência. Desta feita, cada um deles passou a criticar o governo justamente nos pontos em que falharam nos seus tempos de governistas.
Maílson, em parceria com Felipe Salto, se mostrou, em artigo publicado nesta segunda-feira no jornal Folha de S. Paulo, um crítico do sistema de arrecadação fiscal que, segundo ele, tem números maquilados para contribuir para a estratégia de desenvolvimento formulada e executada pelo governo. Ele e seu escudeiro se recusam aceitar que as transferências da União para o BNDES que, assim, ganha recursos para motivar a economia, sejam contabilizados como investimento. Isso seria, segundo eles, uma "degradação institucional".
Em entrevista dias antes, Gustavo Franco se mostrou perplexo quanto a não geração de inflação, nos índices que eles esperava (bem mais altos que os atuais), em razão da mesma política anti-cíclica implentada pelo governo federal. Ele até fez uma imagem concreta para ilustrar seu pensamento:
– É aquela história: você tira um tijolinho da parede e nada acontece, então tira mais um, e quando tirar o décimo e a parede desabar, vai reclamar que houve reação exagerada. Só que você está destruindo a construção faz tempo. Parece que podemos fazer uma política fiscal expansionista, com forte crescimento do BNDES, sem ter conseqüências. É surpreendente que a inflação não tenha reagido a tantos desafios. A velha senhora apanhou à beça nesses anos de estabilização, mas sabemos que é complicado se ela acordar.
Na mesma batida do ceticismo e do atordoamento frente aos resultados que vêm sendo conquistados pela atual política econômica – um dos mais lampejantes, segundo ele próprio, é o ‘pleno emprego com baixo crescimento’ –, Armínio reclama que o governo, especialmente o Banco Central que ele presidiu, explique melhor porque, afinal, está baixando os juros. "Essas últimas reduções estão preocupando. Os economistas que olham para as projeções de inflação questionam muito. Não ficou muito claro o porquê do último corte [em setembro".
Os três críticos mantém a postura professoral de sempre, sem qualquer conciliação para a necessária humildade. À exceção, talvez, de Armínio, que disse ser necessário esperar um pouco mais de tempo para um julgamento definitivo da atual política econômica. O fato é que, queiram eles ou não, as manobras do ministro Guido Mantega, da Fazenda, e sua equipe, avalizados pela presidente Dilma Rousseff, estão dando resultados já verificados na retomada do crescimento com inflação não longe das projeções do BC. Para um crescimento anualizado, neste quatro trimestre, de perto de 4%, o País terá uma inflação anual pouco superior a 5%, contra uma meta de 4,5%. Além dos baixos índices de desemprego. Quanto as reservas que Gustavo Franco gastou, hoje elas estão acima de US$ 400 bilhões. Quem pensa que ensina, deveria aprender um pouco.