A defesa foi feita durante a quarta edição do #ProntoFalei da Fenae, realizada no início do mês de março

“Quem cuida de quem promove o impacto social dentro da Caixa? Quem está cuidando da saúde mental dos empregados dentro do ambiente de trabalho?”. As duas provocações foram lançadas pela mestre em políticas públicas e especialista em direitos humanos, Scarlett Rodrigues, durante a quarta edição do #ProntoFalei da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), realizada no início do mês de março em Manaus (AM).

Durante a palestra, a especialista em direitos humanos falou sobre os novos desafios do trabalhador e do empregador, saúde mental, novas reivindicações e a necessidade de manter o ambiente de trabalho saudável, seguro e respeitoso para os empregados. Neste contexto, ela defende que é urgente que as corporações se esforcem para proporcionar um ambiente melhor para garantir qualidade de vida para o trabalhador.

Scarlett Rodrigues lembrou que o trabalho sempre foi colocado como um pilar essencial e estratégico para se projetar o futuro, pois sem ele os cidadãos não podem acessar os direitos fundamentais. Diante disso, é essencial repensar uma lógica de trabalho que não penalize os empregados.

“Quando se fala em futuro do trabalho, sempre tem uma cobrança do próprio trabalhador. Mas nunca ninguém cobra o próprio mercado de trabalho, as condições que eles dão para que o trabalhador ocupe esse espaço com dignidade”, destaca a palestrante. “Quem disse que o mercado de trabalho tem fornecido todos os direitos e a dignidade humana para que o trabalho deveria ser feito?”, interroga Scarlett.

Saúde mental 

Durante o bate-papo, Scarlett Rodrigues também apresentou dados sobre raça, gênero, disparidade no ambiente corporativo e saúde mental dos brasileiros.

“Mulheres ganham 22% a menos que os homens no mercado de trabalho com o mesmo cargo, com a mesma qualificação. Quando se fala em trabalhadores pretos, eles ganham 40,2% a menos do que os trabalhadores brancos com o mesmo cargo, com a mesma qualificação”, destaca.

Segundo ela, o Brasil está no epicentro da discussão da saúde mental, física e espiritual, liderando o ranking de depressão e ansiedade, em média, com 19 milhões de pessoas diagnosticadas pelas duas doenças.

“Quando estamos falando em saúde por conta de condições de trabalho, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental no ranking de 64 países. 87% das empresas alegaram e registraram afastamento por saúde mental em 2023”, destacou.

Ela defendeu que, para projetar um futuro, é preciso estar bem para chegar lá. Nesta perspectiva, a lógica do trabalho ainda não está colocando a prioridade, o centro da discussão, as pessoas que movem essa engrenagem. “Quem está bem dentro dessa estrutura de trabalho que visa o lucro, que visa o capital e não olha para o ser humano que é engrenagem de todo o processo?”, argumentou.

Diversidade e inclusão 

Em resposta aos questionamentos dos participantes do evento, Scarlett Rodrigues também trouxe à tona questões cruciais que desafiam as estruturas de poder e apontou caminhos para uma verdadeira inclusão, diversidade e representatividade nos espaços sociais e corporativos.

“A gente avançou, eu acredito, porque a gente está começando a falar mais sobre as coisas, sem tantos tabus, sem tantos receios”, destacou a palestrante, ecoando a sensação de um despertar coletivo para as questões de gênero, raça e outras identidades.

Ao abordar a questão da representatividade nas empresas, Scarlett questionou a superficialidade das políticas de diversidade que muitas vezes se limitam à inclusão de mulheres brancas e heterossexuais. Ela enfatizou a necessidade de considerar as múltiplas identidades, destacando a importância da interseccionalidade.

“A gente não evoluiu, porque nós não somos só mulheres, nós somos mulheres negras, mães, temos várias identidades”, enfatizou a palestrante. Ela criticou a falta de representação de grupos como os povos indígenas e destacou a necessidade de rever os privilégios que perpetuam a exclusão.

Para ela, as empresas precisam ir além do discurso inclusivo e proporcionar oportunidades reais para todos. A palestrante também abordou a falta de representatividade nos espaços de poder, ressaltando que muitas vezes as pessoas pertencentes a minorias são chamadas apenas para denunciar problemas, mas não têm voz ativa nas decisões das empresas. “Precisamos chegar de fato em poder de tomada de decisão”, concluiu Scarlett Rodrigues.

Fonte: Fenae