Matéria publicada pelo jornal DCI, caderno de Finanças, edição de quinta-feira (15), afirma que apesar da redução da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 11% ao ano, as taxas aplicadas pelos bancos continuam a expandir. "A reportagem demonstra os equívocos da política econômica brasileira e a ganância do sistema financeiro, que subtraem recursos da economia e encarecem créditos no país", avalia Marcel Barros, secretário-geral da Contraf-CUT.

De acordo com o dirigente sindical, a matéria explicita que a retirada de recursos de circulação provoca aumento na taxa de juros e esta o crescimento da inadimplência que, segundo economistas do mercado, gera aumento do spread. "Isso se torna um círculo vicioso que se retroalimenta sempre em prejuízo da sociedade", salienta Marcel.

A taxa de captação cobrada dos bancos pelo mercado ficou em 10,5%, com queda de 1,6 p.p. no ano e de 0,2 em outubro. Já a taxa de aplicação, cobrada do cliente final, atingiu 47%, o que representa um acréscimo de 6,4 p.p. na comparação com dezembro de 2010 e de 1,3% no décimo mês do ano, de acordo com a matéria.

"Enquanto a taxa de captação sofre redução, o custo de aplicação e empréstimo sofre significativo aumento, demonstrando que o Banco Central não fiscaliza os bancos e que não há compromissos do Sistema Financeiro com a sociedade. Se o spread é alto é porque a ganância continua em alta", avalia Marcel.

Leia a seguir a matéria na íntegra:

Spread chega a 28,9% ao ano mesmo com recuo da Selic

Apesar da redução da taxa básica de juros, Selic, atualmente em 11% ao ano, as taxas aplicadas pelos bancos continuam a expandir. Com base em dados do Banco Central, o spread bancário (diferença entre a taxa de captação e aplicação) em outubro atinge 28,9%, alta de 0,8 pontos percentuais (p.p.) no mês e de 5,4 p.p. em 2011, quando em dezembro de 2010 estava em 23,5%.

Parte da justificativa, segundo especialistas, está na inadimplência, cujo índice geral chega a 5,5% no décimo mês do ano, o que corresponde a um acréscimo de 0,2% na comparação mensal e de 1% na anual. Contudo, a participação no spread é pequena, em média de 7%. Outro fator relevante está relacionado as medidas macroprudenciais, principalmente a alta do compulsório.

Segundo o economista da SCPC Boa Vista Serviços, Flávio Calife, há diversos fatores que compõem os juros final, tanto ao consumidor quanto empresas. "Selic não é a única determinante da taxa de juros. Há um cenário de incertezas e inadimplência em alta. Se estabilizar é possível que também estabilize na ponta e possa oferecer uma taxa menor."

O economista ainda ressalta os reflexos das medidas macroprudenciais e diminuição dos recursos externos para as instituições financeiras com a crise internacional. "Se houver novas medidas de incentivo da economia, como redução dos compulsórios e taxa do capital protegido, pode ter diminuição na ponta."

Na influência específica da inadimplência, Calife detalha: "O aumento da inadimplência tem relação com a taxa de juros ainda em elevação porque parte da composição do spread considera o índice, que continua em níveis elevados, e os bancos sofrem com as perdas das carteiras."

A taxa de inadimplência em pessoa física, até outubro, teve alta de 1,4% no ano e de 0,1% no mês, para 7,1%. O produto com a maior taxa acima de 90 dias é aquisição de bens, excluindo veículos, com 13,8%. Em seguida aparece cheque especial, com 9,5%, e crédito pessoal, de 5,2%.

Já em pessoa jurídica, o índice elevou 0,5% nos últimos 10 meses e 0,2% em outubro, para 4%. Nos atrasos acima de 90 dias, os maiores índices estão em hot money, de 18,9%, e desconto de duplicatas, com 8,3%.

Para o economista da Boa Vista Serviços, as taxas de calote em pagamentos de empréstimos devem continuar a apresentar variações mensais nos próximos meses, mas com certa estabilidade na comparação com 2011. "Não é um movimento relevante, mas sim natural", disse Calife.

O ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster, afirma que a influência da inadimplência em níveis altos é pequena na composição do spread bancário. "Não justifica um valor alto."

Para Troster, o argumento da alta das taxas de juros mesmo com uma redução da Selic está, principalmente, no aumento dos compulsórios, realizado pelo Banco Central em dezembro de 2010. Na época, o órgão regulador elevou o depósito dos recursos captados dos clientes, de 8% para 12% sobre depósitos à vista e de 15% para 20% nos depósitos a prazo, o que retirou R$ 61 bilhões de crédito do mercado.

"Há um problema de liquidez. Todos encolhem o crédito por causa dos compulsórios. Mesmo se houver mudança nos compulsórios, há uma defasagem", explica Troster, que ainda relembra que o spread bancário brasileiro é o segundo mais alto do mundo.

Até outubro, segundo dados do Banco Central, o spread total chega a 28,9% ao ano. No segmento de pessoa física, o índice é ainda mais elevado, de 36,5%, com alta de 8% em 2011 e de 1,5% em outubro. A taxa de captação cobrada dos bancos pelo mercado ficou em 10,5%, com queda de 1,6 p.p. no ano e de 0,2 em outubro. Já a taxa de aplicação, cobrada do cliente final, atingiu 47%, o que representa um acréscimo de 6,4 p.p. na comparação com dezembro de 2010 e de 1,3% no décimo mês do ano.

Para as empresas, o spread pessoa jurídica atinge 19% ao ano, com crescimento de 2 pontos percentuais na comparação anual e de 0,1 p.p. no mês. A taxa de captação recuou 0,1 p.p. em 2011, para 10,8%, enquanto a taxa de aplicação subiu 1,9 p.p. no ano, para 29,8%.

Fonte: Contraf-CUT

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