O Grupo Caoa e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) não chegaram a um acordo sobre o banco BVA, e a tendência é de que a instituição, sob intervenção do Banco Central (BC) desde 19 de outubro, seja liquidada. Representantes dos dois grupos reuniram-se durante boa parte da tarde desta quinta-feira na sede do FGC, na zona oeste de São Paulo.

Por meio da assessoria de imprensa, o controlador do Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, informou que "após avaliar o negócio, não se sentiu confortável para fazer uma proposta". Ele informou ainda que considera o assunto encerrado.

O FGC não se pronunciou, mas o Estado apurou que os representantes do Fundo recusaram uma proposta feita por Oliveira Andrade. Além disso, rechaçaram a hipótese de nova extensão do prazo para a apresentação de uma oferta.

Como o FGC é o maior credor do BVA, com cerca de R$ 1,5 bilhão, vem comandando uma espécie de processo paralelo ao do Banco Central desde a intervenção. Nesse processo, contratou uma empresa de auditoria, um banco de investimentos e um escritório de advocacia para apurar o real tamanho do problema do BVA, cuja intervenção foi atribuída à falta de liquidez.

O trabalho elaborado pela Text-Enhance, PricewaterhouseCoopers, batizado de Projeto Bavária, mostrou um passivo descoberto de aproximadamente R$ 1,5 bilhão.

A partir daí, o FGC criou um "data room" para eventuais interessados em comprar o BVA. Quatro instituições demonstraram interesse, sendo o Grupo Caoa o mais firme. Segundo pessoas a par do assunto, Oliveira Andrade tem cerca de R$ 600 milhões presos no BVA. Para evitar uma perda dessa magnitude, considerou seriamente a compra do banco.

O fracasso das negociações decorre, principalmente, das garantias exigidas pelo Grupo Caoa para fechar o negócio, que não foram aceitas pelo FGC. Situação semelhante ocorreu no processo que tentou evitar a liquidação do Cruzeiro do Sul. Na ocasião, o Santander negociou exaustivamente com o FGC, mas pediu garantias (sobretudo contra passivos trabalhistas) que também foram descartadas pelo Fundo.

Relatório. O FGC estabeleceu, então, um cronograma para a apresentação de propostas pelo BVA. O prazo final era quarta-feira. Como muitos esperavam, só o Caoa se apresentou. Mas, ainda com dúvidas sobre a proposta que faria, pediu ao FGC mais 24 horas, o que foi aceito. Nesta quinta, executivos dos dois lados voltaram à mesa de negociação.

O Estado apurou que o fracasso nessa etapa não significa que o BVA será necessariamente liquidado pelo BC. O interventor, Eduardo Bianchini, tem até o dia 18 de fevereiro para enviar a Brasília seu relatório sobre as condições do banco. Em tese, até lá, uma proposta pode chegar. A hipótese, porém, é considerada remota por pessoas que participam do assunto, dada a falta de interessados até agora.

O comprador do BVA teria de cobrir o R$ 1,5 bilhão e aportar mais R$ 600 milhões a R$ 700 milhões para fazê-lo "rodar". Esses últimos valores tomam por base o tamanho da carteira de crédito do BVA. Todo banco é obrigado a manter uma relação entre empréstimos e capital (chamada Índice de Basileia).

Ou seja, o novo controlador teria de fazer um aporte dessa magnitude para manter o Basileia do BVA dentro das regras do BC,
O problema é que, para algumas pessoas que conhecem os números do BVA e têm experiência no sistema bancário, a instituição não valeria os mais de R$ 2 bilhões de investimento.

O passivo de R$ 1,5 bilhão encontrado pela Price foi alvo de divergência entre pessoas envolvidas na negociação do BVA. Para essas fontes, o buraco real é menor, mais próximo de R$ 700 milhões. Para efeitos de negociação com os interessados, porém, valeu o R$ 1,5 bilhão.

Se o BVA for mesmo liquidado pelo BC, vai se juntar a um grupo de outras seis instituições financeiras que quebraram no Brasil nos últimos dois anos. Cruzeiro do Sul, Prosper, Panamericano, Schahin e Morada, além da financeira Oboé, tiveram problemas.

A solução variou de caso a caso. O Panamericano, por exemplo, foi vendido para o BTG Pactual, que manteve a parceria com a Caixa Econômica Federal no controle da instituição. O Schahin foi vendido para o BMG. Cruzeiro do Sul, Prosper, Morada e Oboé fecharam as portas.

Diferentemente do que ocorreu com Panamericano, Schahin e Cruzeiro do Sul, no BVA, ao menos até o momento, não foram encontradas fraudes. Mas o BC remeteu ao Ministério Público um relatório com indícios de irregularidades no envio de recursos do BVA para sua controlada Peg Cred. Procurado, o interventor do BC não se pronunciou.

Fonte: Leandro Modé – O Estado de São Paulo