Crédito: Paulo Pepe
Evento internacional foi transmitido ao vivo pelo site da Contraf-CUT
A economista Maria Alejandra abriu a primeira mesa do seminário, sobre A Origem da Crise, fazendo uma retrospectiva sobre o novo padrão de acumulação do capital criado com o neoliberalismo, a desregulamentação do sistema financeiro e a globalização econômica e financeira.
Padrão concentrador de renda
Segundo a professora da Unicamp, esse novo padrão de riqueza foi baseado em inovações financeiras (principalmente derivativos e securitização das dívidas) e nos mercados de capitais para gerar retorno rápido dos investimentos, desregulamentação, aquisições e fusões de empresas, restrições aos gastos públicos, endividamento das famílias, perda de salários e direitos por parte dos trabalhadores e, consequentemente, concentração de renda.
"A crise começa em 2007, se aprofunda em 2008 e 2009, tendo como epicentro as bolhas imobiliárias nos EUA, como resultado de um processo que é chamado de ‘bancarização ninja’, em que os bancos ofereciam crédito sem garantias", afirmou Maria Alejandra. "O processo foi tão longe que em 2007 os bancos americanos tinham 46 vezes os seus ativos nesses fundos e as dívidas superavam o PIB americano. Então as hipotecas começam a cair e chega a crise subprime, levando junto bancos e seguradoras."
Segundo a economista, a crise se espalhou pela Europa, "onde se desdobrou como crise bancária e crise soberana", os governos passaram a injetar muitos recursos para salvar o sistema financeiro, ampliando o fluxo de capitais para países emergentes. "A crise gerou muito desemprego, com efeitos distributivos importantes. As reestruturações das dívidas soberanas, os ajustes de Basiléia 3 não resolveram a crise. Estamos num cenário que de novo favorece a especulação e a volatilidade."
Para Maria Alejandra, "a estabilidade é importante, mas não a qualquer preço. Precisamos de mudanças regulatórias, discutir o papel social do crédito, levar em consideração a história e as interconexões da economia real com o mercado financeiro e a geopolítica. Se os bancos centrais não levarem essas interconexões em consideração, não há saída para a crise".
Reforçar a sindicalização
A secretária regional da UNI Américas, Adriana Rosenzvaig, destacou a importância dos sindicatos e movimentos sociais neste momento de crise e mudança das estruturas de poder mundial. "Minha mensagem para vocês é: sindicalização, sindicalização e mais sindicalização. Precisamos de sindicatos mais abertos à mobilização nas ruas e dentro das empresas. É preciso reforçar a capacidade dos sindicatos de fazer negociação coletiva, discutir de frente a questão do trabalho decente, dizer basta para a terceirização", afirmou a dirigente.
A dirigente começou sua apresentação com um resgate da história da desregulamentação enfrentada pelos países da América Latina durante os 1960, que começou com os golpes militares que assolaram a região, começando em países da América Central, como a Guatemala.
"Temos que lembrar que esse modelo começou na América do Sul com o golpe de estado no Brasil, em 1964, e se prolongou com golpes por toda a região", lembra. "Esse modelo criminoso foi imposto em nossa região a ferro e fogo. As consequências foram as de uma bomba atômica, em termos de exclusão social, perda de emprego, educação. São gerações inteiras que não podemos recuperar." Isso aconteceu em um momento de ascensão de massas, com fortalecimento das organizações sociais e políticas e uma tendência de eleição de governos de esquerda. Com estes atores aniquilados, o neoliberalismo conseguiu se estabelecer sem que os povos tivessem nenhuma linha de defesa para resistir.
Ataques aos trabalhadores na Europa
A situação se repete na Europa, onde a maioria dos governos está adotando medidas para combater a crise que passam principalmente pelo ataque aos direitos dos trabalhadores. "Na Espanha, a primeira medida do governo de ultra-direita que está no poder foi atacar as negociações coletivas e a legislação trabalhista", afirmou a dirigente, que pediu aplausos para a delegação espanhola, que participou de uma greve geral de 24 horas realizada no país contra as medidas recessivas do governo. "Quando penso no que acontece hoje na Grécia, tenho muito claro o filme do que aconteceu na Argentina", disse, lembrando o auge da crise que atingiu seu país entre 1999 e 2000.
Hoje, ainda que a América Latina conte com governos que visam mudar as regras do jogo, atacando a desigualdade e a exclusão social da região, a ação dos movimentos sociais é fundamental para ampliar esse processo. "Há níveis de desigualdades que permanecem, a distribuição dos ganhos continua profundamente injusta, concentrada, e fica claro que somente a capacidade dos movimentos sociais e sindicais pode interferir", afirma.
Regulamentação do sistema financeiro
O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, elogiou as apresentações das duas palestrantes no seminário internacional, num momento em que "vivemos um momento importante na América Latina e no Brasil", e defendeu a necessidade da regulamentação do sistema financeiro.
"Ao mesmo tempo em que o Brasil ocupa o sexto lugar na economia mundial, ainda está na décima posição em distribuição de renda. No encontro que em tivemos no Chile em dezembro (7ª Reunião Conjunta das Redes Sindicais de Bancos Internacionais, promovido pela UNI Américas Finanças), assumimos o compromisso de construir uma articulação do movimento sindical de forma a abranger toda a América Latina", acrescentou Carlos Cordeiro. "Precisamos discutir o papel dos bancos centrais, a reestruturação do sistema financeiro e a função social do crédito ou vamos continuar tendo uma América Latina que cresce para poucos."
Para o presidente da Contraf-CUT, "temos que ser propositivos, ir para as ruas e para as mesas de negociações de forma articulada para que daqui a alguns anos a gente possa dizer que realmente interferimos na regulamentação do sistema financeiro".
Fonte: Contraf-CUT