A importância do papel dos bancos públicos como instrumentos estratégicos para o enfrentamento dos efeitos da crise mundial deu o tom do seminário "Perspectivas do Sistema Financeiro Nacional e o Impacto na Economia do DF", realizado nesta terça-feira 9 na Câmara Legislativa do DF, numa promoção da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças, por iniciativa da deputada distrital Erika Kokay (PT), em parceria com o Sindicato dos Bancários de Brasília.

Participaram do encontro representantes do movimento sindical, do governo, do empresariado e do sistema financeiro, além de especialistas. Eles traçaram um amplo panorama do atual cenário econômico do Brasil e do DF com a eclosão da crise e abordaram o que fazer para sair dela. "A redução das taxas de juros praticada pelos bancos públicos desde 2003 foi decisiva para diminuir o impacto da turbulência no país", disse o presidente do Sindicato, Rodrigo Britto, cobrando da nova direção do Banco do Brasil uma política para inclusão de clientes de baixa renda, e criticando a ausência de um representante do BRB no seminário, bem como uma definição, por parte do governador Arruda, quanto ao futuro do banco.

O deputado Ricardo Berzoini teceu severas críticas ao modelo econômico neoliberal, do Estado mínimo, adotado pelos governos anteriores em obediência às diretrizes do Banco Mundial a partir da década de 80, como uma das principais causas da falência do sistema financeiro. Ele ponderou que os impactos da crise só não foram maiores no Brasil, apesar de significativos, por conta das medidas macro e microeconômicas adotadas pelo governo Lula desde 2003. "Um Estado forte é a garantia de uma economia forte", assegurou, defendendo a atuação dos bancos públicos, incluídos aí os estaduais, como o BRB, como decisiva na ampliação da oferta de crédito, pilar, de acordo com ele, para viabilizar um projeto de desenvolvimento sustentável para a nação.

Pela regulamentação do Sistema

A deputada distrital Erika Kokay argumentou ser necessária uma política econômica clara para o DF, por intermédio de uma política do governo, para a questão da concessão de crédito. Kokay frisou ainda a importância da discussão sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN) neste momento de incertezas, o que envolveria a regulamentação do SFN, tanto o público como o privado.

José Carlos Alonso, representante da Contraf/CUT, saiu em defesa da mesma tese. Teceu duras críticas à atual estrutura do SFN, o qual considera, entre outros motivos, "inadequado para a realidade brasileira". A defesa da regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que trata do SFN, bandeira do movimento sindical bancário há tempos, foi um dos pontos altos da exposição de Alonso.

O diretor de Pessoas do Banco do Brasil, Amauri Niehues, elencou as últimas ações do banco, após a troca de comando da direção, como a redução do spread, para fazer frente aos efeitos da crise. Para Amauri, um dos remédios para o enfrentamento da crise passa pelo ‘destravamento’ do crédito, um dos principais desafios colocados hoje para o sistema financeiro.

Marcelo Terrazas, consultor da presidência da Caixa Econômica Federal, afirmou que o governo federal acertou ao adotar "no momento e na velocidade certos" uma política econômica que classificou de anticrise e que também lançou mão dos bancos públicos. E defendeu a expansão do crédito e a redução das taxas de juros, a exemplo do que Caixa tem feito, conforme lembrou, por entender ser este o mecanismo que impulsiona o crescimento da economia.

Pela redução do custo do capital

O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro disse que é mais do que urgente a diminuição do custo do capital no Brasil, que passa necessariamente pela redução do spread bancário (a diferença entre a taxa paga pelo banco e a que é aplicada em empréstimos aos consumidores) para que o país destrave seus instrumentos de desenvolvimento econômico.

O presidente do Conselho Regional de Economia do DF, José Luiz Pagnussat, frisou o papel dinamizador do sistema financeiro na economia, como uma das principais alavancas do sistema produtivo, principalmente em conjunturas de crise, como a última, que vem afetando sobremaneira as linhas de financiamentos à produção industrial.

O economista do Dieese Thiago Oliveira destacou o comportamento da economia do DF frente à crise. Com a oitava maior economia e maior renda per capita do País, notadamente em função da força serviço público local, que é o que mais emprega, o Distrito Federal, segundo ele, não sofreu de forma significativa os efeitos da turbulência mundial. De acordo com ele, o índice de desemprego no DF registrado em abril deste ano, o menor em 12 anos, aliado ao crescimento expressivo do número de empregos com carteira assinada, atesta isso.

A manutenção da queda da taxa Selic e a redução do spread e da carga tributária foram lembradas pelo representante da Fibra (Federação das Indústrias do DF), Diones Alves Cerqueira, como as principais medidas que o governo precisa tomar em 2009 para a retomada do crescimento da atividade industrial.

Fonte: Seeb Brasília