Um dos maiores teóricos sobre saúde mental e trabalho, o psiquiatra e psicanalista francês Christophe Dejours vem ao Brasil para participar do Seminário Internacional Saúde do Bancário, que o Sindicato dos Bancários de São Paulo realiza no próximo dia 24, no Hotel Renaissance, na zona sul da capital. A abertura contará com a participação do secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Plínio Pavão.

Dejours é professor da cátedra de Psicanálise-Saúde-Trabalho e diretor do Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Ação, do Conservatoire National des Arts et Métiers, instituição ligada ao Ministério da Educação francês.

Autor de diversos livros sobre o assunto, entre eles A Loucura do Trabalho e Da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho, ambos com edições no Brasil, Dejours reflete sobre a organização atual do trabalho e sobre como ela leva ao adoecimento dos trabalhadores.

Para ele, houve três mudanças fundamentais na organização do trabalho: a introdução dos novos métodos de avaliação, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada "qualidade total"; e o crescimento da terceirização que precarizou ainda mais o trabalho.

"A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prêmios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas agora estão cada vez mais competindo entre si, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho. (…) Aos poucos, todos os elos que existiam até então – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe", descreve Dejours, em entrevista ao jornal português Público.

É nesse contexto, de ausência de solidariedade, que as pessoas adoecem mental e fisicamente. "A destruição dos elos sociais no trabalho pelos gestores nos fragiliza a todos perante a doença mental. Não quer dizer que o sofrimento (no trabalho) seja maior do que no passado, mas sim que as nossas defesas deixaram de funcionar como antes."

Assédio moral

Para o psiquiatra o assédio moral tem papel fundamental na instalação dessa atmosfera de insegurança, medo e opressão. Trata-se, afirma, de uma estratégia de organização, de uma técnica de dominação dos trabalhadores.

"Um único caso de assédio tem um efeito extremamente potente sobre toda a comunidade de uma empresa. (…) Com um único assédio, consegue-se dominar o coletivo de trabalho. Por isso é importante que o assédio seja bem visível para todos". E o resultado, diz Dejours, é desastroso. "Não é verdade que a qualidade da produção melhorou."

Em contraposição a isso, o teórico defende o resgate do trabalho coletivo. "Temos de aprender a pensar o trabalho coletivo, e desenvolver métodos para analisá-lo, avaliá-lo e cultivá-lo. A riqueza está no trabalho como cooperação, como maneira de viver juntos. Se conseguirmos salvar isso no trabalho, ficamos com o melhor, aprendemos a respeitar os outros, a evitar a violência, aprendemos a falar, a defender o nosso ponto de vista e a ouvir o dos outros."

Evento

No seminário, que ocorre durante todo o dia 24, também será lançado o livro Saúde dos Bancários, com artigos de renomados pesquisadores, entre eles Dejours. Editado pela Publisher, o livro tem texto de apresentação da presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, e artigo do secretário de Saúde do Sindicato, Walcir Previtale, no qual apresenta dados de pesquisa inédita sobre a saúde da categoria, realizada entre trabalhadores da base da entidade.

O evento é gratuito, mas para participar é preciso confirmar presença até o dia 19. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail saude@spbancarios.com.br ou pelo (11) 3188-5270 (Luís ou Júlio).

Fonte: Seeb São Paulo

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