Além do uso de explosivos para arrombar caixas eletrônicos, bandidos têm utilizado informações pessoais de funcionários e famílias de bancários como arma para roubar dinheiro de bancos. Na manhã de quinta-feira (2), o gerente do Sicredi de Salvador do Sul, no Vale do Caí, no interior do Rio Grande do Sul, foi sequestrado com a mulher, o filho e a empregada.
Todos foram rendidos às 6h30min, quando a empregada chegava à casa do bancário para trabalhar. Três homens armados com pistolas e revólveres entraram na residência e anunciaram o sequestro, que daria sequência a um assalto.
– Os bandidos sabiam da rotina da família e das funções do gerente – relata o delegado que investiga o caso, Carlos Roberto Medeiros.
Depois do assalto, os quatro reféns foram liberados em Montenegro, por volta das 9h. O carro da família, utilizado pelos bandidos na fuga, foi abandonado ainda pela manhã às margens da rodovia Montenegro-Estância Velha (ERS-240).
Apesar de realizar buscas durante todo o dia, a polícia não encontrou pistas dos assaltantes. Em nota, o Sicredi informou que as imagens do circuito de segurança serão encaminhadas aos policiais e que está prestando apoio ao gerente e à família.
A ação no Vale do Caí reforça o pedido das entidades representantes dos trabalhadores dos bancos por mais segurança nas instituições. Na segunda-feira (30), em reunião com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), em São Paulo, foram solicitadas medidas para evitar os sequestros de funcionários, que têm sido frequentes em todo o Brasil.
De acordo com dados da Fenaban, nos primeiros seis meses deste ano aconteceram 200 assaltos a banco e postos de atendimento bancário no país, incluindo sequestros.
No Estado, até esta semana, foram 64 casos – pelo menos cinco casos envolveram familiares de funcionários. A entidade diz que, anualmente, são investidos R$ 10 bilhões em itens de segurança.
ENTREVISTA
Lúcio Paz (foto), Coletivo Nacional de Segurança Bancária
"A foto de um filho apresentada pelo bandido é mais prejudicial do que uma arma"
Representante da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi) e do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre no Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Lúcio Paz alerta para o uso de informações pessoais de funcionários nos ataques a banco no RS.
Na última segunda-feira, em reunião com a Febraban, em São Paulo, medidas contra sequestros como o de ontem foram solicitadas pelas entidades.
Zero Hora: A utilização de informações pessoais e familiares têm sido comum nos ataques no Estado?
Lúcio Paz: desde o início do ano tivemos pelo menos cinco casos de assalto no Estado que envolveram familiares. Os criminosos estão intimidando os funcionários com fotos dos seus filhos, informações de cada trabalhador. Eles estudam a agência, sabem os pontos de vulnerabilidade e sabem da rotina das famílias. Não temos dúvida que a foto de um filho apresentada pelo bandido é mais prejudicial do que uma arma apontada.
ZH: De que forma essas pessoas são apoiadas após essas ocorrências?
Paz: são muito mais comuns do que se imagina os casos de estresse pós-traumático, muitos funcionários recebem acompanhamento médico após assaltos. E não somente quando eles estão envolvidos, mas também quando há a explosão de um caixa eletrônico enquanto a agência está fechada. Isso aumenta a sensação de insegurança. Em alguns casos, também tem sido preciso realocar os bancários em outras agências para escapar de ameaça de bandidos.
ZH: Que medidas podem ser tomadas para proteger os funcionários e suas famílias desses ataques?
Paz: Estamos cobrando medidas dos bancos para que a abertura e fechamento das agências sejam realizadas por empresas especializadas. A abertura pelos funcionários favorece a ousadia dos criminosos e permite que eles intimidem o trabalhador. Cobramos da Fenaban que essa medida seja adotada por todos os bancos. Sistemas eficazes de monitoramento eletrônico interno e externo com qualidade de imagem também estão entre os pedidos. Queremos urgência, não podemos esperar a morte de um cidadão para que haja mudança.
Fonte: Contraf-CUT com Zero Hora