Na abertura o professor e mestre em Direito Sociais da PUC – São Paulo, Gabriel Sampaio fez uma análise da conjuntura com enfoque aos ataques contra os trabalhadores e os impactos sobre a população negra.
“Nós precisamos de mais políticas públicas, mas neste momento estão querendo desconstituir o estado brasileiro como promotor de políticas públicas. O estado na visão desta classe antidemocrática, antipopular e antinacional é um estado que simplesmente quer gerenciar o lucro da burguesia”, afirmou o professor.
Gabriel Sampaio disse ainda que nossa sociedade criminaliza a população negra, principalmente os jovens. “Qual é a forma de estado que querem reservar para a população negra? É um estado penal. Coloca-se atrás das grades mais de 60% de jovens negros numa população de 600 mil presos. É preciso saber que esta política tem gerado uma política de militarização de nossas periferias e de morte da juventude negra”. E provocou os presentes ao dizer “que sejamos capazes de levar adiante aquele verso ‘negro é a raiz da liberdade’, que sejamos capazes de construir uma sociedade livre e igualitária a partir da classe trabalhadora”.
A secretária de combate ao racismo da CUT, Maria Julia Nogueira, explicou que os impactos começaram quando foi aprovada a PEC que congela os investimentos públicos por 20 anos e, agora, com as reformas trabalhista e da Previdência será ainda pior.
“A PEC da Morte, que congela gastos pelos próximos 20 anos, já trouxe um primeiro impacto. São menos recursos a serem aplicados nas principais politicas públicas tais como saúde e educação. A população negra também é a mais atingida reforma trabalhista. Hoje, sem o impacto da reforma, a população negra já ocupa os postos mais precarizados, representa o maior número de desempregados, recebe os menores salários… Ou seja, já existe uma desigualdade muito grande, que vai aumentar se não nos mobilizarmos”, disse a dirigente da CUT.
Ela explica também que, com a reforma da previdência, em debate no Congresso, a população em geral vai ter maior dificuldade para se aposentar, mas a população negra vai ter mais dificuldade. “A população negra já trabalha em postos precarizados e vive o deemprego. Essa parcela da população vai sofrer mais impacto se for aprovada a reforma da Previdência, pois não conseguirá completar o tempo necessário de contribuição para se aposentar”.
Também presente no encontro, o deputado Vicentinho (PT/SP) explicou que existe hoje uma disputa de classes acentuada, explícita com bancadas parlamentares que defendem o poder econômico e não os trabalhadores e que são esses parlamentares que atualmente comandam o Brasil junto com Michel Temer, fazendo e aprovando leis que representam retrocessos sociais.
Sobre a reforma trabalhista, Vicentino avaliou que os efeitos que já são sentidos hoje no mercado de trabalho como menores salários, empregos mais precários para a população negra serão ainda mais visíveis.
“Por causa do preconceito, a discriminação é muito forte. Na sociedade o nosso povo negro ainda sofre as consequencais do período da escravidão. Nas empresas você não vê dirigentes negros, no Congresso somos apenas 4,5% e assim por diante. Não existe uma coisa direcionada especificamente ao povo negro (na reforma trabalhista), mas da forma como foi feito esse ataque a quem luta por dignidade humana, surge um Bolsonaro, e com ele o ódio que recai sobre o povo negro, sobre homossexuais, mulheres… Mais uma vez as maiores consequências recairão sobre nosso povo negro lamentavelmente”, disse o deputado.
Para Vicentinho é preciso desenvolver um trabalho de formação e conscientização da classe trabalhadora. “A luta deve continuar não só agora no campo de batalha do Congresso, nas fábricas, nas comunidades. Devemos fazer um trabalho para as eleições de 2018. Não é possível que os trabalhadores continuem votando em quem não defende os seus direitos. É preciso que nosso povo tenha muito mais consciência”, disse o deputado.
Setor bancário
O secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, falou sobre a presença da população negra no mercado de trabalho do setor financeiro. “Esse governo está apresentando uma série de reformas que meche com a vida de toda a população. Os trabalhadores negros e negras serão muito prejudicados, principalmente aqueles que exercem funções mais precarizadas na construção civil, em callcenters, que trabalham como empregada doméstica. Eles recebem cerca de 30% a menos do que um trabalhador branco que exercem a mesma função”, disse o dirigente da Contraf-CUT.
Almir cita dados do último censo da diversidade no setor bancário, realizado em 2014, para ressaltar os impactos das reformas entre os bancários e bancárias negros. “No setor bancário esse conjunto de reformas também atrapalha muito. Nossa categoria tem 24,7% de negros e negras. É muito pouco em um universo de em torno de 500 mil trabalhadores. Além disso, os poucos negros que trabalham em banco desempenham suas funções em locais invisíveis para a população. Então, esse é um debate que a gente precisa fazer”, disse.
Ouça a íntegra da reportagem na Rádio Contraf.