A expansão do acesso aos serviços bancários, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com base em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no início do ano, é expressiva. Na década passada, o número de contas bancárias mais que dobrou e hoje corresponde a 60,1% da população.
Desse contingente, 44% têm conta bancária no máximo há cinco anos. Em 2010 o número de contas cresceu 5,7%, para 141 milhões.
O banco do futuro, com um público cada vez mais numeroso e tecnológico, coloca uma série de desafios que integram a pauta do Ciab 2011, evento de tecnologia bancária promovido pela Febraban, que se encerra hoje. Segundo Gustavo Roxo, coordenador do evento, o conceito que está por trás do tema – "A tecnologia além da web" – é que cada vez mais, ao invés de usar o internet banking, o cliente acessa diretamente as aplicações em uma série de dispositivos como celulares, smartphones, tablets, geladeiras (no futuro) e outros equipamentos com conectividade.
"O cliente não usa mais o browser e sim a aplicação, que está fora da web. Hoje são inúmeros canais e dispositivos demandando interfaces diferentes", diz Roxo.
A pressão sobre a infraestrutura tecnológica é crescente. No ano passado, o volume de transações bancárias chegou a quase 56 bilhões de operações. O internet banking já representa 23% do total, com 12,8 milhões de transações; os caixa eletrônicos, ou ATMs, ainda são o canal preferido com 17,8 bilhões de operações ou 31% do total, e o mobile banking cresce a reboque da explosão nas vendas dos smartphones, com avanço 72%, somando 2,2 milhões de contas.
Para suportar tudo isso, a alta oferta ainda é um mantra para os bancos, daí os pesados investimentos em datacenters e redes de alta capacidade. Mas são os canais que têm demandado cada vez mais investimento em inovação. Para Rafael Dan Schur, sócio de serviços de consultoria para o setor financeiro da Ernst & Young Terco, a inovação é fundamental para os bancos continuarem a crescer de forma rentável.
Desde 2009, a IBM desenvolve junto com o Itaú um projeto de análise de negócios para que o banco melhore a assertividade dos clientes na carteira de crédito. Outra iniciativa é a área de social business, ferramenta que ajuda os bancos a monitorar o que está sendo discutido nas redes sociais e acionar um canal para resolver o assunto. Para Roberto Bisca, líder da indústria financeira da IBM para a América Latina, os bancos também podem usar a tecnologia na bancarização dos mais de 74 milhões de pessoas que não têm conta.
Na seara dos sistemas transacionais, os sistemas legados começam a ter sua arquitetura revista para o modelo Service Oriented Architecture (SOA) ou arquitetura orientada a serviços que permitem o salto tecnológico na ponta dos diferentes canais.
Empresas como a SAP já vêm conseguindo emplacar soluções nas áreas administrativo-financeiras e até vender produtos de "core banking" para instituições de menor porte como o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que vai implantar as soluções de core banking e backoffice da SAP. De maneira geral, manter o controle dos ativos tecnológicos ainda é imperativo para os bancos e, por conta de sua imensa escala, conceitos como cloud computing e outsourcing ainda estão fora da agenda.
Para Carlos Mazon, vice-presidente da HP Enterprise Services, a arquitetura SOA é fundamental neste novo cenário que os bancos atravessam permitindo reutilização de código e portabilidade para as diferentes plataformas e dispositivos. Outra preocupação é a segurança. "Se já é complexo manter uma segurança em um ambiente controlado interno, o que não dizer da segurança de quem está andando pela rua. E isso pode ser obtido aumentado-se a qualidade dos códigos para reduzir as vulnerabilidades", diz.
Esse cenário pode ser comprovado pelos números do Bradesco, que destina 7% de seu orçamento para segurança física e lógica. O banco conta com 49,4 mil pontos de atendimento dos quais 3.648 são agências, que hoje só respondem por 10% das transações.
Processa diariamente uma média de 235 milhões de transações, mas o número pode variar de 180 milhões a 300 milhões. "Os sistemas têm que estar calibrados para ir do céu ao inferno", diz Laercio Albino Cesar, vice-presidente executivo do banco. O Bradesco tem orçamento de R$ 4 bilhões e desde 2003 vem revendo sua infraestrutura tecnológica no Programa TI Melhorias com 28 projetos em cinco áreas macro: infraestrutura, processos, tecnologia, aplicações e ambiente operacional.
Já o Banco do Brasil conduz o projeto BB 2.0 que vai levar o banco para a arquitetura SOA para modernizar o legado e mudar e otimizar a forma de atendimento por meio de uma nova plataforma baseada em web. Segundo Erilson de Queiroz, gerente executivo da diretoria de tecnologia do banco, o foco da área de inovação ligada à diretoria de canais é a mobilidade e a portabilidade. Em 2010, o banco conquistou 34 prêmios de inovação em aplicativos para smartphones iPhone, BlackBerry e Android, e soluções para tablets.
Com um orçamento de R$ 3,5 bilhões, o Itaú está iniciando um projeto para fomentar a inovação como cultura organizacional. Segundo Luis Rodrigues, diretor-executivo de tecnologia, o banco trabalha para aumentar a eficiência até 2013 para 41% e já usa arquitetura orientada a serviços para flexibilizar as aplicações e oferecer novos serviços nos diferentes canais e dispositivos.
"O banco conta com uma área de inovação focada em canais e faz pesquisas com clientes deixando-os utilizar os diferentes canais para avaliar sua habilidade e as dificuldades, o que tem nos permitido identificar melhorias, como um mecanismo de busca implantado no internet banking para facilitar a navegação do usuário", explica Rodrigues.
A Caixa investe anualmente R$ 500 milhões em tecnologia e mantém uma área de inovação com foco em melhorias operacionais e em mobilidade e interatividade, de olho nas gerações Y e Z. "A área está em constante contato com o mercado, universidades e fornecedores de TI.
Há soluções de mobilidade e de TV digital usada como um canal de comunicação e negócio, com interatividade na forma de conteúdo e simuladores diversos", diz Cleusa Yoshida, superintendente nacional de Arquitetura e Inovação em TI da Caixa.
Fonte: Carmen Nery – Valor Econômic