Os bancos aceleraram os cortes de juros no mês de fevereiro, seguindo as reduções da Selic feitas pelo Copom do Banco Central (BC), mas ainda não repassaram para os clientes toda a queda dos custos de captação.

No mês passado, as taxas bancárias voltaram a se aproximar do patamar próximo aos níveis de setembro, anterior à crise, conforme pesquisa da Anefac. Assim, os bancos devolveram parte da elevação de cerca de 4 pontos percentuais feita entre outubro e dezembro do ano passado, por conta das incertezas geradas pelas turbulências internacionais.

No fim de outubro, no entanto, o Copom encerrou o último ciclo de alta da política monetária e a partir de janeiro deu início a uma nova distensão da Selic, que já acumula 2,5 pontos percentuais de queda.

Além disso, em relação a outubro, as taxas do mercado de juros futuros, que servem de piso para as taxas bancários, já foram reduzidas em quase 4 pontos percentuais até o fim de fevereiro. As taxas futuras indicam as expectativas dos agentes de mercado com relação ao comportamento dos juros e são usadas como base para a definição das operações de crédito de acordo com o prazo dos contratos.

O crédito bancário, portanto, ainda está acima do piso mínimo praticado no mercado futuro. Parte dessa diferença foi incorporada no spread – diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos clientes -, que permanece elevado.

Muitos bancos divulgaram queda de taxas para algumas linhas logo após o anúncio do Copom. Mas, segundo a corretora Link, em relatório para clientes, apesar da redução nos juros anunciadas pelos bancos, os spreads se mantêm elevados, uma vez que os bancos estão "apenas repassando" a redução do custo de captação. "A perspectiva de piora na qualidade do crédito (com aumento da inadimplência) nos próximos meses leva os bancos a manter esses níveis altos de spread", diz o texto.

A corretora destaca ainda que os bancos estatais, especialmente a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, "vêm sofrendo maior pressão do governo para efetuar cortes maiores, o que penalizaria sua rentabilidade".

As linhas que estão mais defasadas são as destinadas às empresas médias e pequenas, que pagam juros prefixados. Em média, entre setembro e janeiro, houve elevação de 3,8 pontos percentuais nos juros, que subiram para 43,19% ao ano. A conta garantida, por exemplo, espécie de cheque especial de que se valem as empresas em momentos de aperto, teve alta de 7,06 pontos, para 80,53% ao ano, maior patamar desde julho de 2003.

Para pessoas físicas, as reduções foram relativamente mais aceleradas, até por conta de um spread maior, que garante maior margem de manobra. A taxa média subiu 2,07 pontos, para 55,14% ao ano, entre setembro e janeiro.

Por conta disso, as financeiras avaliam que as reduções de juros já começam a chegar à ponta do crédito e devem se reverter em uma maior oferta de linhas. "Essa queda de 1,5 ponto percentual, levando a taxa Selic ao nível de setembro de 2007, vai beneficiar o consumidor, que terá crédito em maior volume e com juros menores, uma vez que as instituições financeiras já estão anunciando a queda dos juros para seu diversos produtos", afirmou em nota Adalberto Savioli, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

Mas Savioli acredita que o gradualismo seja o melhor caminho para a queda da Selic. "As taxas de juros devem cair de uma forma gradual e mais moderada nas próximas reuniões, devendo chegar a um dígito no final do segundo semestre do ano."

As taxas devem cair, mas os spreads podem continuar altos, avalia Andre Modenesi, professor do Ibmec-RJ e pesquisador do Ipea. Segundo ele, o fato de o Brasil ter uma das maiores taxas básicas do mundo é um fator determinante para os elevados níveis dos spreads.

Modenesi explica que, apesar de existirem fatores micro que explicam essa margem – como inadimplência, impostos e o compulsório -, não se pode desprezar o peso que um título público com taxas bastante altas tem na hora de se avaliar os custos de oportunidade de um banco.

Segundo ele, o banco pode decidir entre fazer uma operação de empréstimo, que é arriscada, de médio a longo prazo e que demanda estudos do credor e avaliações periódicas, ou simplesmente comprar uma LFT, mais líquida, altamente rentável e sem risco de crédito. Assim, quanto mais alta a taxa, menor a atratividade dos empréstimos bancários.

Além disso, completa, o spread é uma forma de controlar a liberação dos recursos. "O banco diz: ‘Posso emprestar, mas vou aumentar a margem’. Acho natural que spread cresça nesse período. Os bancos estão relutantes em emprestar e a forma que o banco tem para racionar é aumentar o preço, cobrar mais caro o empréstimo."

Fonte: Valor Econômico / Fernando Travaglini