Em entrevista ao Valor, Maurer lamentou que, dos 155 bancos estrangeiros na Suíça, apenas dois sejam de origem brasileira, o Jacob Safra e o Safidié, instalados em Genebra. O Banco do Brasil teve no passado uma representação em Zurique.
Ele contou que um advogado andou procurando locação em Zurique para o Banco Itaú, há dois anos. O "rumor" na praça financeira helvética, segundo o executivo, é de que o Itaú foi "freado" em seu projeto pelo Banco Central brasileiro, para evitar polêmicas sobre evasão fiscal. Na época, isso coincidiu com a prisão de funcionários do Credit Suisse no Brasil por transferência ilegal de recursos para bancos na Suíça.
No mesmo momento, o Bank of China se instalou em Genebra já com uma certa força financeira e atraindo clientela asiática. Entre os estrangeiros, 100 bancos são europeus. Instituições do Oriente Médio tambem se instalam mais no país. "Queremos banco brasileiro na Suíça pela força deles, o país está emergindo na cena global e eles também terão muitas vantagens", afirmou, ilustrando com "segurança dos dados e dos ativos, larga experiência no private banking e gestão institucional".
Em particular, ele "vende" a Suíça como atrativa para os bancos fazerem gestão de fortuna de famílias que habitam em diferentes países. "A Suíça é o ‘cluster’ mais importante nessa área. E temos a tradição de confidencialidade, que é mais importante que o problema de impostos, para familiares e pessoas privadas. Não se quer que qualquer pessoa receba dados de um cliente."
Maurer disse que está insistindo junto ao governo suíço para ser mais "agressivo" para atrair bancos estrangeiros. Para isso, propôs um projeto de "neutralidade em matéria fiscal" para atenuar a reação dos governos estrangeiros. "Propomos aplicar as leis estrangeiras aos capitais administrados pelos bancos na Suíça, descontando na fonte o imposto devido, mas no respeito da esfera privada", explicou. "Não damos nomes dos detentores de conta, mas descontamos o imposto sobre os ganhos que vão para os países de origem dos clientes."
"A Suíça é diferente de Miami. Aqueles US$ 500 bilhões depositados lá são tudo evasão fiscal. Aqui, estamos prontos a cobrar o imposto, desde que o governo aceite o acordo", alegou. "Para os bancos, também é bom vir para cá. Lá nos EUA o Obama quer taxar mais os bancos." Ele acha que a Suíça pode negociar com os governos uma taxa de pelo menos 15% sobre os ganhos de detentores de fortunas administradas nos bancos sediados no país, desde que preservando o aninomato dos clientes.
No entanto, especialistas duvidam que governos aceitem que capitais de pessoas que consideram como fraudadores possam continuar sob gestão na Suíça, protegido por contas bancárias secretas. Os governos têm as próprias dificuldades, precisam de capitais e querem recuperá-los para dinamizar suas economias.
Por sua vez, a presidente da Suíça e ministra da Economia, Doris Leuthard, admitiu que a Suíça vai ter de reagir à concorrência cada vez "mais dura" entre as praças financeiras. Segundo ela, antes da crise financeira, os servicos financeiros representavam 12% do PIB do país. Hoje, baixou a 10,3%. Mas a presidente diz não saber até que ponto isso é devido "à perda de reputação da praça helvética" – referindo-se aos estragos causados pelo banco UBS e pelos buracos no segredo bancário impostos pelos EUA, principalmente.
Leuthard insiste que a Suíça "não aceitará mais no futuro dinheiro não declarado proveniente de outros países" e que o país "tem a intenção de regularizar os ativos depositados até aqui junto aos bancos", num claro aviso a quem evade dinheiro para os bancos helvéticos. Mas não diz como isso será feito.
Fonte: Valor Econômico / Assis Moreira, de Genebra