Depois de se tornarem um dos principais filões explorados pelos grandes bancos comerciais no ano passado, as empresas de médio porte agora começam a ser assediadas com a oferta de produtos mais sofisticados. Estima-se que o estoque de crédito concedido a empresas brasileiras de médio porte alcance, atualmente, R$ 296 bilhões. Desse volume, apenas 4% (pouco mais de R$ 10 bilhões) refere-se a financiamentos de longo prazo, feitos por meio de operações estruturadas. O grosso das concessões se concentra em linhas curtas, como capital de giro e desconto de duplicatas.

Atraídas por esse potencial, começam a surgir no sistema bancário instituições financeiras com o objetivo específico de financiar empresas médias via emissão de títulos de renda fixa, como Cédula de Crédito Bancário (CCB), Cédula de Crédito Imobiliário (CCI) e debêntures. A ideia é que essas soluções, antes reservadas a grandes companhias, passem a ser acessadas, aos poucos, por clientes corporativos menores, ofertadas por bancos também miúdos.

É o caso, por exemplo, do recém-criado Bracce. Seus fundadores, um grupo de quatro sócios – Wenceslao Casares, Meyer Malka, Guillermo Kirschner e Michael Esrubilsky – que, na última na última década, esteve à frente do portal financeiro Patagon e do Lemon Bank, ambos projetos de vida curta que foram vendidos, agora aposta na oferta de operações estruturadas para médias empresas. "Desde que vendemos a rede de correspondentes bancários do Lemon para o Banco do Brasil, em 2009, estamos analisando o mercado para detectar oportunidades", diz Esrubilsky, diretor presidente do Bracce.

Assumindo que o crédito corporativo cresça, em média, 19% ao ano até 2014, o mercado de operações estruturadas para médias empresas poderá movimentar algo em torno de R$ 700 bilhões, segundo os cálculos de Esrubilsky. "Pode ser que a cifra não seja exatamente essa, mas que o acesso ao mercado de capitais por empresas emergentes vai ultrapassar o patamar atual de 4% em relação ao estoque de crédito, disso não há dúvida."

O Bracce não está sozinho na exploração desse nicho de mercado. O banco Concórdia, que pertencia à Sadia (hoje Brasil Foods) e cuja aquisição do controle pelo Rendimento também acaba de receber aprovação do Banco Central (BC), está sendo transformado em um banco de investimento especializado na oferta de operações estruturadas para empresas de médio porte.

Uma diferença entre um e outro negócio é que o Concórdia conta com um ponto de partida. Embora não tenha firmado acordo formal com a Brasil Foods, o banco está explorando a cadeia de fornecedores herdada da antiga Sadia, além da carteira de clientes corporativos do próprio Rendimento, seu acionista controlador. Já o Bracce começa praticamente do zero. Terá pela frente o desafio de trabalhar com um único produto (operações estruturadas) que, embora rentável, é de longuíssimo prazo, variando entre 36 e 72 meses.

Gestoras e consultorias financeiras independentes que trabalham com securitização (conversão de ativos financeiros em títulos negociáveis no mercado) surgem também no horizonte como potenciais concorrentes. Esrubilsky confia que a credibilidade do Bracce como banco comercial fará a diferença. Pode até ser, mas submeter-se à supervisão do BC fará com que o Bracce, que tem patrimônio líquido de R$ 50 milhões, arque com o chamado "custo de observância" para atender a todas as exigências legais.

Antes de o Bracce receber a aprovação do BC, foram feitos pilotos ao longo de todo o ano passado utilizando o "chassi" do Lemon. Entre emissões de CCIs e CCBs, foram feitos R$ 180 milhões em operações para uma companhia do mercado imobiliário, uma distribuidora de combustíveis, uma empresa de água e esgoto e uma indústria de alimentos. O banco conta com sete mandatos de operações para sair de dois a seis meses, entre elas três emissões de debêntures, que vão perfazer cerca de R$ 400 milhões, segundo Esrubilsky. A meta para 2011 é chegar a R$ 500 milhões em operações.

Os sócios já investiram R$ 15 milhões para montar a estrutura do negócio e devem investir mais R$ 11 milhões em 2011. Está sendo montada, agora, uma estrutura de distribuição própria. O Bracce adota a política de co-investimento, aplicando parte do capital do banco em títulos gerados dentro de casa – normalmente, 10% do volume de cada operação fechada.

Fonte:  Valor Econômico / Aline Lima