Na média, a taxa do crédito às famílias aumentou de 40,6% ao ano em dezembro para 45,1% no último dia 12, uma alta de 4,5 pontos porcentuais, salto raro de ocorrer em menos de 15 dias.
O encarecimento aconteceu porque ações prudenciais tomadas pelo governo em dezembro aumentaram o custo para os bancos operarem financiamentos, especialmente de prazos mais longos. Além disso, a expectativa de que a Selic começaria a subir já começou a elevar a taxa de tomada de recursos pelos bancos, embora esse impacto no resultado ainda seja pequeno, segundo o BC.
No início do mês passado, o governo mudou algumas regras e passou a exigir que bancos mantenham maior volume de recursos retidos no BC, o chamado depósito compulsório. Com isso, cai o volume de dinheiro em circulação e instituições deixam de ganhar dinheiro, já que os valores recolhidos no BC poderiam ser emprestados ou investidos. Além disso, o BC dificultou operações de crédito ao consumo, como financiamento automotivo, com prazos mais elevados.
Spread. Dessa forma, os bancos elevaram a margem cobrada nos empréstimos, conhecida como spread, para preservar sua rentabilidade em um quadro em que terão de ofertar menos empréstimos. Em 12 dias, houve alta de 2,9 pontos no spread, para 26,4 pontos porcentuais ao ano.
"É exatamente o efeito esperado pelo BC, que adotou medidas prudenciais e começou a subir o juro para segurar a demanda e esfriar um pouco a inflação", diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara. Como resultado, a média diária de concessões de créditos caiu 8% nos 12 primeiros dias do mês.
Ao apresentar os números, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, indicou que o encarecimento visto nas últimas semanas é apenas o primeiro passo do aperto que o crédito deve sofrer ao longo dos próximos meses. "Ainda vamos ver o impacto restante das medidas prudenciais e a nova decisão de política monetária", afirmou ao lembrar que a taxa Selic subiu em 19 de janeiro, apenas uma semana após o levantamento do BC.
Além de mais caro, os empréstimos tendem a ficar mais curtos. "Hoje, temos prazos bastante dilatados. Mas nas novas concessões já temos observado redução", diz Lopes, ao comentar que esse fenômeno será mais evidente nos próximos meses. "No passado, quando o custo de captação subia, bancos alongavam o prazo da operação para acomodar as prestações ao bolso do cliente. Mas agora há uma trava para os prazos", afirmou, ao lembrar da nova regra que gera custos adicionais aos bancos que tentarem ampliar as parcelas.
Apesar do custo mais elevado para se emprestar dinheiro, a fatia dos créditos para pessoas físicas com atraso nos pagamentos superior a 90 dias está em 5,7%, o menor patamar desde junho de 2001. A inadimplência desse segmento vem caindo desde meados de 2009, mas Lopes acredita que a tendência agora, com a maior restrição ao crédito, é de acomodação em torno desse patamar. "É provável que a inadimplência se estabilize, deixe de cair em prazo relativamente curto. Mas não deve subir."
Fonte: O Estado de S.Paulo / Fernando Nakagawa e Fabio Graner