O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, recebeu do banco em 2010 em salários e bônus a impressionante quantia de R$ 10,4 milhões, segundo matéria da Folha de S. Paulo desta sexta-feira, 15. Os ganhos astronômicos do executivo contrastam com a remuneração dos funcionários da empresa.

Um bancário do Bradesco que recebe o piso da categoria acumularou no ano aproximadamente R$ 26,4 mil – incluídos regra cheia da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), ticket refeição e vale alimentação. Dessa forma, o presidente da empresa recebe 394 vezes mais que os funcionários com os menores salários do banco.

O Banco do Brasil também divulgou o salário de seu presidente, Aldemir Bendine: R$ 800 mil no ano, um valor 26,6 vezes maior que o ganho aproximado de um funcionário do BB que recebe o piso (também incluídos PLR e tickets).

Os valores foram declarados pelos bancos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), seguindo determinação da própria entidade que obriga companhias abertas a divulgarem os salários dos principais executivos.

"É uma distância absurda, que denota a falta de justiça dentro das empresas e na própria sociedade brasileira. O Brasil vem crescendo economicamente, já é a oitava maior economia do mundo, mas está entre os dez países mais desiguais. Isso precisa mudar", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT. "O Brasil precisa distribuir renda, e isso acontece por meio das lutas dos trabalhadores por melhores salários. Com um rendimento desse nível, como Trabuco terá moral para negar reajuste aos trabalhadores?", questiona.

Cordeiro destaca a luta pela valorização do piso da categoria como fundamental para melhorar as condições salariais da maioria dos bancários e diminuir a desigualdade. "Queremos uma discussão séria sobre a questão do piso. Os trabalhadores estão sendo claramente explorados, enfrentando péssimas condições de trabalho, assédio moral e pressão pelo cumprimento de metas. Os bancos precisam valorizar seus funcionários", defende.

O presidente da Contraf-CUT lembra que, numa audiência pública do Banco Central sobre remuneração de executivos, a Confederação enviou estudo cobrando que os ganhos de um executivo não ultrapassassem em dez vezes a PLR de um trabalhador. "No próprio seminário de remuneração feita pela Fenaban, consultores os próprios bancos afirmaram que no Brasil as diferenças salariais são muito grandes, diferente de outros lugares", diz.

Outros bancos

O Itaú Unibanco não divulgou à CVM o valor dos rendimentos de seu presidente, Roberto Setúbal, em 2010. No entanto, segundo reportagem do jornal DCI do dia 23 de maio, o banco destinou para o pagamento de sua diretoria estatutária o montante de R$ 87,6 milhões em 2010.

Dessa forma, cada um dos 15 diretores do banco recebeu uma média de R$ 5,84 milhões no ano, ou seja, 221 vezes a mais do que a renda estimada de um bancário que recebe o piso da categoria (consideradas PLR e tickets).

O então presidente do Santander, Fábio Barbosa, não é citado na reportagem da Folha (por que?), mas a assembleia de acionistas de 2010 aprovou uma remuneração nada modesta anual de R$ 246,56 milhões para os administradores do banco. Esse montante seria pago a 48 diretores e parte para os nove membros do Conselho de Administração. Dividindo-se o valor para os 48 diretores, chega-se a uma média de R$ 5,136 milhões por pessoa – 194 vezes mais que o estimado para um bancário que recebe o piso.

Transparência

A medida adotada pela CVM visa aumentar a transparência nas empresas com capital aberto, possibilitando aos acionistas um melhor acompanhamento de seus investimentos. No entanto, quase metade das 50 maiores companhias não divulgaram a renda de seus executivos, segundo a matéria da Folha – entre elas, o Itaú Unibanco. E mesmo entre as que divulgaram, muitas o fazem de forma errada ou fora do padrão.

"As empresas que omitem o dado, considerado peça importante para compreender os riscos assumidos pela alta gerência, se apoiam em uma liminar obtida pelo Ibef-RJ (Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças) que garante o direito ao sigilo. A alegação é de risco à segurança dos empresários", diz a reportagem.

Segundo Alexandre di Micelli, coordenador do Centro de Estudos em Governança da Fipecafi, o caso do Banco PanAmericano é um exemplo de falta de informações. "O formulário do ano passado não informava qualquer valor relativo a bônus, embora tenha ficado claro no escândalo que os executivos recebiam bônus polpudos do banco. É preciso haver alguma forma de aferir a precisão das informações divulgadas", afirmou ele à Folha.

Em outros países, o valor dos salários dos executivos é bem conhecido. Nos Estados Unidos, diz o texto da Folha, foi através desses valores que os reguladores puderam saber quais instituições haviam assumido maiores riscos com os empréstimos imobiliários do "subprime", que levaram à crise de 2008.

Fonte: Contraf-CUT com Folha de S.Paulo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *