A mobilização é a principal arma na luta da classe trabalhadora em defesa dos seus direitos, da sociedade e dos bancos públicos. Foi este o sentimento dos 338 delegados, 112 mulheres e 226 homens, na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ao final do primeiro dia do Congresso Extraordinário da Contraf-CUT.
A terceira mesa de debates desta quinta contou com a presença de Guilherme Boulous, coordenador do MTST, que destacou a importância da luta num cenário político tão controverso.
Ele contou que o acampamento da Avenida Paulista foi montado depois que o governo Temer ressuscitou a política do BNH. Desde que assumiu, o governo golpista não liberou nenhuma unidade na faixa 1 do programa Minha Casa Minha Vida. Porém, ampliou o limite de renda para uma família ter direito a participar do MCVM na faixa 3. As mudanças transformaram um programa social em um programa de crédito imobiliário voltado para setores que não são os mais necessitados.”
Boulous revelou que a decisão de encerrar o acampamento só veio depois de 22 dias, com a garantia de que 170 mil novas unidades habitacionais serão contratadas, nas próximas semanas, na Faixa 1: 100 mil no Fundo de Arrendamento Residencial, 35 mil rural e 35 mil na modalidade urbana. “Nós temos a completa consciência de que esta conquista que o MTST arrancou ontem é um grão de areia para a luta que os trabalhadores têm hoje em dia. Por isso, precisamos lutar.”
Para ele, o maior trunfo do governo Temer é sua ilegitimidade. “A partir do momento que eles não foram eleitos por ninguém, portanto, não representam ninguém, eles podem destruir a classe trabalhadora sem prestar contas à sociedade.”
O coordenador do MTST afirmou que a classe trabalhadora tem dois desafios: “Nós temos de nos unir para enfrentar esse cenário de ataques com muita unidade, ou se unifica ou todo mundo perde. Também vai ser necessário engrossar nosso caldo de rua de mobilização, reformar o trabalho de base, pois para muita gente ainda a ficha não caiu. E não podemos demorar, senão pode ser tarde demais. Nós temos urgência para fortalecer a mobilização e também para construir trabalho de base”, finalizou.
Neste cenário de luta, o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, destacou o Dia de Paralisação Nacional contra as reformas da previdência e trabalhista, no próximo dia 15 de março e a grande mobilização no dia 27, em Brasília, para impedir a aprovação do projeto da terceirização. “Eles [neoliberais] têm a mídia, o poder judiciário e grandes monopólios, mas nós temos condições de enfrenta-los nas ruas. Por estarmos vivendo um momento ímpar na história do país, um golpe, é possível que a classe trabalhadora realize uma maciça paralisação junto com a sociedade. Não há outra maneira de se posicionar contra este governo que não seja a luta e o enfrentamento. Por isso, a categoria bancária deve ser a protagonista neste dia 15, deve conclamar diversas categorias para derrotar a política econômica e social do governo Temer. A CUT não vai negociar com o governo golpista. O nosso papel é derrotar este governo neoliberal”, disse.
Ao final de sua intervenção, Vagner ressaltou a vergonhosa perseguição política contra o ex-presidente Lula e lamentou a prisão arbitrária de João Vaccari Neto, um sindicalista e bancário digno. “Liberdade pra Vaccari já”, finalizou.
Luta e enfrentamento na defesa dos bancos públicos
João Sicsu, professor do Instituto de Economia da UFRJ, abordou a importância da luta na defesa dos bancos públicos. Para ele, vale a pena dividir os argumentos para entender essa luta e os argumentos que devem ser usados para fortalecer o discurso para a sociedade. “A defesa dos bancos púbicos não pode ser uma defesa exclusiva dos bancários, tem de ser uma defesa da sociedade. Até porque acredito que se não for uma defesa feita por todos, sairemos derrotados. Por isso temos de entender nossos argumentos.”
“Defendemos os bancos públicos pois são o braço do governo num dos setores mais poderosos do país, o sistema financeiro. Não é só isso, os bancos públicos têm de ter um papel social, não só econômico. Por isso, os bancos públicos têm de ter sua existência garantida”, completou o professor.
Sicsu acredita que esse governo tem uma visão de que os problemas econômicos podem ser resolvidos com bancos privados, que não é necessário a existência dos bancos públicos. “Esse governo não tem sensibilidade para ao social. A ideia é que o estado está para servir o setor econômico e não a sociedade.”
Segundo o diretor de Seguridade da PREVI, Marcel Barros, estamos atravessando por um momento propício para resgatar o debate da importância dos bancos públicos. Para ele, os representantes dos trabalhadores precisam ter argumentos específicos para dialogar com a sociedade. “O que queremos de um banco público e o que este banco pode fazer para ser público? Temos que ter as respostas para ampliar o debate na sociedade brasileira. Discutindo as estratégias e defendendo um banco que seja de interesse público”, disse.
Marcel citou o exemplo do BNB, que ao dar microcrédito para as pessoas, permitindo que pequenos empreendedores fizessem algum tipo de investimento, ele agiu dentro do que se espera de um banco público. “Nós queremos um banco que atenda às necessidades dos cidadãos brasileiros. Se o pequeno empreendedor e os trabalhadores não enxergar nestes bancos públicos um parceiro, não tem sentido”, explicou.